A nova pressão por anistia no Congresso e quanto as big techs faturam
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🔸 A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal manteve por unanimidade a prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL), atendendo a pedido da Polícia Federal que apontou risco real de fuga do ex-presidente. Ele foi preso no último sábado depois de violar a tornozeleira eletrônica e a convocação de uma vigília na porta de sua casa por Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O Jota analisa o efeito da prisão para o cenário da extrema direita. “Bolsonaro pode estar enjaulado numa confortável sala de Estado-Maior da Polícia Federal, mas o bolsonarismo segue livre e solto”, escreve Vinicius Rodrigues Vieira, professor da FGV. Ele destaca que a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) volta a ganhar força: “O atual governador de São Paulo já demonstrou ter lealdade canina ao campo da direita radical e autoritária, assim como ao ex-presidente. Pode apoiar uma ampla anistia, ainda que isso o torne ainda mais refém da extrema direita”.
🔸 A prioridade da oposição é votar o PL da Anistia para os condenados pela trama golpista. A afirmação é de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Depois de reunião de seu partido, ele disse ainda que o objetivo agora é pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a incluir o texto na pauta. O Metrópoles conta ainda que, segundo Flávio, está descartado qualquer acordo em torno da redução das penas no chamado PL da Dosimetria. Antes de Bolsonaro ser preso, Motta chegou a sinalizar positivamente a retomada do debate sobre a proposta. Mudou de ideia diante do desgaste enfrentado com a sociedade após a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que ficou conhecida como “PEC da Bandidagem”.
🔸 Para o governo Lula, o fim de 2025 se tornou um dos momentos mais tensos com o Congresso. A prisão de Bolsonaro inflama a oposição, e os presidentes da Câmara e do Senado se dizem insatisfeitos. Ontem, Hugo Motta oficializou sua ruptura nas relações com o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (PT-RJ). O Congresso em Foco mostra que, nas próximas quatro semanas, as casas legislativas vão atuar em pautas de alto impacto fiscal e político para o governo, como os vetos ao projeto do Licenciamento Ambiental e o PL Antifacção. Sem margem para erro, o Planalto terá de negociar voto a voto para evitar derrotas e impedir que a crise se arraste para 2026.
🔸 A propósito: para a extrema direita, o PL Antifacção é a última trincheira narrativa para 2026, diante da economia em recuperação e do discurso anticorrupção desgastado. O Intercept Brasil lembra que o combate ao crime está entre as três promessas que impulsionaram o bolsonarismo, ao lado de recuperar a economia e “estancar” a corrupção. As três frentes perderam força diante dos resultados atuais do governo, do desgaste da Lava Jato e da “PEC da Bandidagem”. Nesse contexto, Tarcísio de Freitas precisa usar o PL Antifacção para se projetar. O projeto de lei, porém, não enfrenta de fato as facções criminosas. Além de insistir em reduzir o papel e a relevância da Polícia Federal, o texto se limita a aumentar penas.
📮 Outras histórias
A cidade de Foz do Iguaçu (PR) vive uma sequência de descasos com o patrimônio cultural. Na lista dos alvos, segundo o H2Foz, estão as ruínas da Santa Casa, o monumento em homenagem à democracia e agora o painel do artista Miguel Hachen. A peça, que representava a Mãe Terra, foi cortada de forma inadequada pela concessionária durante as obras de duplicação da Rodovia das Cataratas. Além do painel, um ipê-amarelo centenário também foi removido. O caso se soma ao sumiço temporário do Monumento à Democracia e às ruínas da antiga Santa Casa. Professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana e doutora em Memória e Patrimônio, Giane Lessa afirma que os episódios “demonstram um padrão preocupante de falta de preparo teórico e técnico para preservação do patrimônio cultural em Foz do Iguaçu”.
📌 Investigação
A Receita Federal não consegue dimensionar quanto as big techs realmente faturam com usuários brasileiros e o quanto o país deixa de arrecadar com uma maior taxação. Um documento do órgão indica apenas os valores de impostos pagos por dinheiro enviado ao exterior. Segundo o Núcleo, desde 2022, Google, Apple, Amazon, Microsoft, Meta e TikTok pagaram um total de R$ 289 bilhões em impostos sobre os recursos lançados para fora do país. Os valores indicam um enorme volume de dinheiro movimentado por essas empresas, que atuam em meio a uma falha estrutural de transparência que trava tentativas de tributação e regulação do setor.
🍂 Meio ambiente
“As meninas começaram a se desesperar. Quando eu vi que não parava de encher [de água], peguei elas no colo, pulei a janela e a gente saiu”, relata Wilson Gonçalves, morador da Baixada do Jurema, em Vitória da Conquista (BA). No último dia 9, ele, ao lado da esposa e das duas filhas pequenas, viu tudo o que conquistou ao longo da vida ficar embaixo d’água. Embora o relato seja recente, o problema das inundações é antigo: os registros históricos apontam estragos causados pelas chuvas intensas desde 1963. O Conquista Repórter esmiúça as décadas de abandono do bairro pelo poder público e como a intensificação dos eventos climáticos extremos requer estratégias como as Soluções Baseadas na Natureza, que incluem o uso de dispositivos da infraestrutura verde, como jardins de chuva, pavimentos permeáveis, trincheiras de infiltração, bacias de retenção e detenção e biovaletas.
📙 Cultura
Pela primeira vez, a cultura foi incluída na Agenda de Ação contra as mudanças climáticas, aprovada na COP30. A partir de agora, as expressões culturais e artísticas também serão usadas como parte da mobilização de ações climáticas voluntárias. A cultura aparece em cinco das 117 soluções construídas pela sociedade civil organizada na conferência em Belém. Entre elas, estão a aceleração da integração das considerações sobre o Patrimônio Cultural nos Planos Nacionais de Adaptação e a capacitação para a adaptação de práticas culturais e sítios patrimoniais. O Nonada ressalta a importância da inclusão do setor cultural no debate climático. “O que esses eventos climáticos incidem sobre patrimônio, sobre pessoas, já é constatado como um prejuízo”, afirma a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
🎧 Podcast
Dez anos depois da primeira edição, hoje acontece a 2ª Marcha das Mulheres Negras. Movimentos antirracistas e feministas de todo o Brasil se reúnem em Brasília para reivindicar mudanças concretas na vida de mulheres negras a partir da reparação e do bem viver. A série “Mulheres Negras em Marcha”, do “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil, conversa com Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra e integrante do Comitê Impulsor Nacional da Marcha, e Terlúcia Silva, cofundadora da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba e integrante do Comitê Nacional da Marcha, para entender as transformações que ocorreram na última década. “A marcha não é o dia, é o processo e a metodologia que as mulheres negras constituíram para dialogar, se mobilizar, fazer incidência política, refletir sobre a geopolítica e os contextos e apresentar o que temos chamado de um projeto político radical de mulheres negras, que não é só para nós, mas para a sociedade brasileira”, afirma Naiara.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
A luta por políticas de reparação histórica é um dos pilares da 2ª Marcha das Mulheres Negras. “Não bastam ações do campo da representação artística ou do financiamento de cultura. A gente quer acesso a crédito. É saber o quanto o Banco do Brasil lucrou com a população negra e o quanto que ele deixou de investir nessa população, seja no desenvolvimento econômico, no acesso a casas e no desenvolvimento de negócios liderados por pessoas negras”, diz a cientista Tássia Mendonça. A Alma Preta ouviu lideranças, pesquisadoras e ativistas da marcha sobre o tema. A historiadora Luciana Brito defende a adoção de políticas de combate à pobreza, de financiamento para empreendedoras negras e de equiparação de salários. Hoje, movimento negro e parlamentares articulam uma PEC para propor a criação de um fundo nacional para Reparação Econômica e de Promoção da Igualdade Racial, além da responsabilização financeira do Estado brasileiro pelos prejuízos históricos causados à população negra.




