A nova meta climática do Brasil e as crianças negras neurodivergentes
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🔸 O financiamento climático estará no centro das negociações da COP29, a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que começou ontem em Baku, no Azerbaijão. Uma das principais discussões sobre o tema é a aprovação da Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em inglês). Segundo o Colabora, a medida define quanto os países desenvolvidos devem empregar para financiar a adaptação às mudanças climáticas e suas consequências em países em desenvolvimento. O evento, que vai até o dia 22 deste mês, também debaterá as regulamentações sobre os mercados de carbono, o fundo para perdas e danos climáticos e o detalhamento da Meta Global de Adaptação, cujos indicadores precisam ser finalizados no ano que vem, na COP30, em Belém (PA).
🔸 Às vésperas da COP29, o governo brasileiro divulgou um comunicado com a nova meta climática do país para a próxima década. Segundo o documento, o país se compromete a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% em 2035, na comparação com os níveis de 2005. O número atualiza a chamada NDC, ou Contribuição Nacionalmente Determinada, apresentada pela primeira vez em 2015, quando foi adotado o Acordo de Paris. A Agência Pública destaca que, para especialistas da área, a nova meta não condiz com o plano de conter aquecimento global em 1,5 °C, e não detalha como alcançá-la. “Foram omitidas informações cruciais para avaliar a ambição da nova NDC brasileira: como será tratado o desmatamento? Como será tratada a expansão dos combustíveis fósseis? Uma análise completa será feita pelo Observatório do Clima quando o governo brasileiro der transparência ao documento da NDC, como convém a um país que se pretende líder do processo multilateral de combate à crise climática”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
🔸 “Precisa de um ajuste bastante imediato.” Assim o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, abordou a regulamentação das Bets no país durante as audiências sobre o tema. O magistrado é relator de uma ação que pede a declaração de inconstitucionalidade da Lei 14.790/2023, a Lei das Bets. O Jota explica que a Confederação Nacional do Comércio (CNC), responsável pelo processo, aponta que a legislação não instituiu regras efetivas para combater o vício em apostas e coloca em risco a saúde econômico-financeira das famílias brasileiras.
🔸 A propósito: enquanto as bets já movimentam mais de $20 bilhões por mês, segundo o Banco Central, 63% dos apostadores online dizem ter comprometido parte da renda com apostas. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. O Voz das Comunidades mostra como as bets têm endividado brasileiros a partir da sensação de urgência por dinheiro e, depois, por meio do vício. “Se eu tiver 100 reais, vou jogar tudo. Isso é o problema”, afirma Valeska, uma jovem de 20 anos moradora do Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro.
📮 Outras histórias
Vazio durante a maior do ano, o Teatro Ferreira Gullar, em Imperatriz (MA), alcança seu maior movimento entre novembro e dezembro, com escolas particulares e grupos de dança preparando espetáculos e musicais natalinos. O Assobiar conta que nesses dois meses já foram reservados 43 dias de programação. Já no restante do ano, a média mensal fica entre quatro e oito dias. Responsável pela criação do espaço, a Associação Artística de Imperatriz (Assarti) relata a falta de apoio da Fundação Cultural de Imperatriz para iniciativas artísticas, como oficinas de teatro e dança, que incentivem a participação da comunidade, das escolas públicas e apoiem grupos teatrais, para que o aparelho cultural funcione com mais frequência.
📌 Investigação
Assassinatos, torturas e tentativas de homicídios são algumas das consequências das disputas por terras públicas na fronteira entre Amazonas, Acre e Rondônia, região conhecida como Amacro. O Varadouro percorreu os 230 km da BR-317 – entre Rio Branco (AC) e Boca do Acre (AM) – e conversou com posseiros que ocuparam áreas remanescentes de floresta e pedem que sejam reconhecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) como assentamentos. “Se a gente saísse para trabalhar nas nossas terras um pouquinho, quando voltava, estava tudo queimado. Furavam as panelas, atiravam nas panelas, nos barracos. Aí, nos últimos meses, resolveram atirar na gente”, relata o posseiro Edgeberson José Alves. Segundo o relatório “Conflitos no Campo 2023”, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Amacro registrou oito dos 31 assassinatos em disputas por terra em todo o país no período.
🍂 Meio ambiente
Em vídeo: o povo Yudjá-Juruna, da Terra Indígena Paquiçamba, abriu mão de sua culinária tradicional para impedir a extinção das tracajás, cágados que vivem nos rios da Amazônia. A seca permanente imposta pelas barragens da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na Bacia do Xingu, deixa os animais com fome e expostas à pesca predatória. Em 2024, devido à escassez de água que atingiu toda a região, as ramas que fazem sombras para os ninhos da espécie desapareceram, causando a morte dos filhotes antes mesmo dos ovos eclodirem. A Sumaúma narra como os Yudjá-Juruna lutam há 10 anos pela conservação das tracajás e têm ensinado as crianças do território a salvar os filhotes, devolvendo-os ao rio.
📙 Cultura
Para dar um enterro digno ao filho, Luzia iniciou uma busca incansável em hospitais, no Instituto Médico Legal (IML) e até em lixeiras do Rio de Janeiro. Mobilizou a comunidade, organizou passeatas e distribuiu camisetas com a foto de seu primogênito. Retratada no documentário “Paradeiros”, de Rita Piffer, a história de Luzia e seu filho Rafael não é um caso isolado: segundo dados do Programa de Localização e Identificação de Pessoas (PLID), 7.017 corpos ou despojos humanos foram encontrados no Estado do Rio de Janeiro desde 2010. Desses, 3.438 permanecem com a identidade ignorada. Em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil, a jornalista Sara Stopazzolli, responsável pela pesquisa e roteiro da obra, fala sobre a trajetória de mães que encontraram o corpo de seus filhos, mas não puderam enterrá-los como desejavam.
🎧 Podcast
Crianças neurodivergentes ainda são invisibilizadas por serviços de saúde. O desafio é ainda maior para crianças negras, frequentemente mais negligenciadas no atendimento e tratamento. O “Papo Preto”, produção da Alma Preta, mergulha na intersecção entre a neurodiversidade e o racismo. O episódio traz relatos que destacam a importância da identificação, do apoio familiar e de políticas públicas eficazes. “A ausência de diagnóstico precoce em crianças negras na primeira infância pode ter, de fato, um impacto profundo no desenvolvimento e bem estar dessa criança. A detecção precoce de condições neurodivergentes como TDAH e autismo é crucial para implementação de intervenções que podem promover o desenvolvimento adequado de habilidades cognitivas, emocionais e sociais”, explica a neuropsicóloga Leninha Wagner.
👩🏾⚕️ Saúde
Com objetivo de enfrentar os impactos das mudanças climáticas na saúde, sobretudo no Baixo Tocantins, no Pará, o projeto Harmonize une tecnologia avançada e o conhecimento tradicional. A iniciativa – que reúne instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – integra dados climáticos, ambientais e de saúde para monitorar e prevenir doenças como a dengue, que chegou a crescer nove vezes de 2023 para 2024 no município de Mocajuba. O Amazônia Vox conta como o uso de drones para mapeamento de áreas e a colaboração com comunidades locais têm auxiliado o projeto a identificar criadouros de mosquitos na região.