As mulheres nas Olimpíadas e a reconstrução dos terreiros no RS
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🔸 Rebeca Andrade alçou voo para a história do esporte mundial na tarde de ontem, ao conquistar a medalha de prata nas Olimpíadas de Paris. Mas a jornada da ginasta de 25 anos começou bem longe dali, na região metropolitana de São Paulo. Principal rival de Simone Biles, que levou o ouro no individual geral para os Estados Unidos, Rebeca vivia em Guarulhos e tinha seis anos quando deu os primeiros saltos na ginástica artística. “Cria de projeto social”, como define a Alma Preta, a pequena começou a treinar na Iniciação Esportiva, bancado pela prefeitura local, e logo ganhou o apelido de “Daianinha de Guarulhos”, em referência à Daiane dos Santos, uma das maiores ginastas do Brasil. Em Paris, Rebeca já conquistou duas medalhas (a prata de ontem e o bronze na disputa por equipes) e tem chances de subir mais vezes ao pódio: amanhã, ela defende o título olímpico no salto e, na segunda (5), disputa o solo e a trave.
🔸 O Brasil também foi prata na marcha atlética. O feito inédito foi de Caio Bonfim, atleta que competiu pela quarta vez numa Olimpíada. Nos Jogos do Rio, em 2016, ficou em quarto lugar. A vitória de ontem foi seguida de um desabafo sobre o preconceito que enfrentam os atletas da modalidade. Como explica a CartaCapital, na marcha atlética, ao menos um dos pés deve estar em contato com o solo durante toda a prova, e a perna em movimento não deve ser flexionada. O movimento, por fim, lembra um rebolado, motivo pelo qual ele foi xingado quando treinava na rua pela primeira vez. “Tem que ter muita coragem para viver de marcha atlética. Hoje eu sou medalhista olímpico, valeu a pena pagar o preço.”
🔸 As mulheres vêm sendo protagonistas da participação brasileira nos Jogos de Paris. No grupo que o país enviou às Olimpíadas, elas são a maioria: 154 dos 277 atletas brasileiros são mulheres. A Gênero e Número detalha, em gráfico, a participação feminina em cada uma das modalidades olímpicas. Em nove delas, como saltos ornamentais, levantamento de pesos e pentatlo, a delegação é exclusivamente formada por mulheres. Em 29 das 39 modalidades, elas são pelo menos metade dos atletas.
🔸 Falando em gênero: a vitória da boxeadora argelina Imane Khelif foi seguida de uma onda de desinformação nas redes sociais. No X, os posts enganosos segundo os quais a atleta teria mudado de sexo para a competição acumulavam ao menos 400 mil visualizações. O Aos Fatos informa que essas publicações não têm lastro na realidade. A atleta participa de campeonatos mundiais de boxe feminino desde 2018 e nunca se identificou como transsexual. A desinformação teria origem em março de 2023, quando a Associação Internacional de Boxe a desclassificou após ganhar a medalha de ouro, sob alegação de que ela não teria passado pelos critérios de elegibilidade. Mas o motivo específico não foi divulgado.
📮 Outras histórias
Multiartista e empreendedora de Maceió (AL), Stefanía Sandrelly tem um sonho: transformar a realidade da periferia do Vergel do Lago, onde foi criada. É, segundo ela, um “lugar de gente talentosa e trabalhadora”. Da arte, ela se aproximou ainda na infância: fez balé, ginástica rítmica e estudou funk, como narra a Eufemea. Na mesma época, desenvolveu a musculatura de empreendedora, vendendo fogos de artifício para ajudar nas contas de casa. Agora, criou a marca Afro Boss, que auxilia outros empreendedores no desenvolvimento de seus projetos: “Ser uma jovem artista e empreendedora em Maceió é muito desafiador. Sempre enfrentei adversidades por conta da falta de oportunidades, mas sempre fui determinada a correr atrás e transformar adversidades em oportunidades para mudar meu próprio futuro e o de outras pessoas”.
📌 Investigação
Para defender os ultraprocessados, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do governo de São Paulo, mantém um site no qual publica pesquisas que favorecem os interesses da indústria. Lá, os cientistas que alertam sobre esses produtos são chamados de “ativistas”. Nos últimos quatro anos, foram lançadas ao menos 12 publicações que “desmistificam” os impactos à saúde humana, como mostra a Repórter Brasil. Cada “mito” é supostamente desmentido com um estudo realizado pelo próprio Ital, em parceria com a indústria de alimentos. Os documentos são divulgados apenas pelo instituto, e não em revistas científicas, que passam pelo crivo de pesquisadores independentes. A bibliografia de referência menciona, em sua maioria, estudos do próprio órgão.
🍂 Meio ambiente
Com nascente na Reserva Florestal do Poço Escuro, em Vitória da Conquista (BA), o rio Verruga é um considerado um dos mais poluídos do país, segundo um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica. “O lixo, a água suja e o mau cheiro atraem insetos e animais nocivos. Os governantes não vêem que a falta de limpeza nos canais de acesso é perigoso para quem está por perto”, afirma Natália Sena, moradora do Loteamento Alto da Boa Vista, que diariamente atravessa uma ponte construída sobre as águas do Verruga. Segundo o Conquista Repórter, em março de 2023, a Justiça determinou que a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) e a prefeitura do município adotassem medidas para despoluir o rio. No entanto, moradores e especialistas seguem apontando o alto nível de poluição das águas.
📙 Cultura
Cerca de três meses após a tragédia socioambiental no Rio Grande do Sul, mães e pais de santo ainda aguardam o auxílio do poder público para reconstruir os terreiros. Por ora, eles contam com o apoio da comunidade. Segundo levantamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Canoas, Eldorado do Sul e São Leopoldo são as cidades com maior número de terreiros destruídos, dos quais 254 foram totalmente arrasados, e 176, parcialmente. Vinte e sete atuaram como pontos de apoio. O Nonada visitou alguns dos espaços impactados. “Eu pensava em tudo que a minha vó construiu durante a vida, em toda a nossa história. Fiquei com medo de que a nossa história fosse interrompida, e que a vó não pudesse voltar às atividades”, conta Maria Clara Silva, neta de Mãe Ieda de Ogum, liderança do Ilê Nação Oyó, na Cidade Baixa, berço de diversas manifestações culturais afro-brasileiras de Porto Alegre.
🎧 Podcast
“Tem mano que te aponta uma pistola e fala sério/ Explode sua cara por um toca-fita velho.” Os versos da canção “Capítulo 4, Versículo 3”, do Racionais MC’s, foi a primeira coisa que passou pela cabeça do sociólogo Evandro Cruz Silva, pesquisador do Núcleo de Etnografias Urbanas (Cebrap), após sofrer um assalto. No “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, narra seus conflitos internos enquanto um homem negro de origem periférica – como o garoto que o assaltou – e, também, um abolicionista penal. No segundo ato do episódio, o cineasta Yanomami Morzaniel Iramari resgata a memória de infância de quando viu uma pessoa branca tirando fotos de um indígena doente na sua comunidade e como a câmera se tornou também parte de sua própria história.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
As aparições de baleias-jubarte têm sido mais frequentes no Rio de Janeiro e atraído turistas de observação para a região. No Conversation Brasil, a pesquisadora da Universidade Federal Fluminense Liliane Lodi explica por que a espécie está aparecendo mais na capital fluminense, seu comportamento competitivo e a necessidade de garantir que o turismo comercial para observá-las não afetem sua conservação. “Se as baleias-jubarte de alguma forma sentirem-se ameaçadas por uma pressão desordenada de visitantes – especialmente as fêmeas com seus pequenos filhotes – podem buscar outras paragens para visitar em seus períodos migratórios”, escreve.