As mulheres na escala 6x1 e o lucro de influenciadores com as bets
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🔸 A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa o fim da escala de trabalho 6x1 – seis dias de trabalho para um de folga – alcançou 134 das 171 assinaturas necessárias para tramitar na Câmara dos Deputados. Na sexta-feira, apenas 70 parlamentares haviam assinado. Segundo o Notícia Preta, a mobilização social nas redes sociais é um dos principais fatores que pressiona os deputados para assinarem o projeto apresentado por Erika Hilton (PSOL-SP). Uma petição online já ultrapassou a marca de 1,6 milhão de assinaturas a favor da proposta, refletindo a insatisfação dos trabalhadores com a atual carga horária.
🔸 Serviços essenciais, como hospitais, não deixarão de funcionar em fins de semana caso a PEC seja aprovada. O objetivo da proposta é alterar as escalas de trabalhadores, e não os períodos de funcionamento de estabelecimentos. A Constituição atualmente determina um dia de descanso por semana e, ainda assim, há estabelecimentos que nunca deixam de operar. O Aos Fatos responde às principais dúvidas identificadas sobre o tema. A reportagem lembra que o anteprojeto altera os direitos trabalhistas previstos constitucionalmente – ou seja, microempreendedores individuais (MEI) e microempresários não necessariamente serão afetados pelas mudanças.
🔸 A propósito: a PEC apresentada por Erika Hilton não é a primeira que busca o fim da jornada 6x1. Outras duas propostas sobre o mesmo tema tramitam na Câmara e no Senado, como destaca o Congresso em Foco. Uma delas, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), está parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desde 2015. Nas redes sociais, Paim apoiou a iniciativa de Hilton e definiu a pauta “uma luta antiga”. A outra proposta é de 2019, do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), e chegou a receber parecer favorável na CCJ da Câmara por seu então relator, o deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ). No entanto, o parlamentar não faz mais parte do colegiado, e a PEC depende de que a atual presidente da comissão, Caroline De Toni (PL-SC), designe um novo relator.
🔸 A escala 6x1 é ainda mais cruel para as mulheres, uma vez que fazem 85% do trabalho do cuidado no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto as mulheres dedicam em média 21h semanais à casa e à família, os homens usam apenas 11h para isso. O “Elas no Congresso”, newsletter da revista AzMina, mostra como as desigualdades de gênero também devem ser um fator a ser considerado nas discussões sobre jornada de trabalho e tarefas não remuneradas. “Para além do tempo, há mães e filhos penalizados por esse modelo de trabalho de várias formas. Não importa se quem está na escala 6X1 é a mulher ou homens que vivam com ela: a carga segue mais pesada para o mesmo lado”, escreve a jornalista Ana Carolina Araújo.
🔸 Ao menos sete vereadores eleitos e suplentes neste ano estão na “lista suja” do trabalho escravo, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que identifica empregadores responsáveis por submeter trabalhadores a condições análogas à escravidão. O Metrópoles detalha que, em quatro casos, os próprios nomes dos políticos constam na lista; nos outros três, aparecem nomes de empresas associadas a eles. Um dos casos é de um time de futebol: o empresário e ex-deputado estadual Marcos Antônio Novais, conhecido Manassés, é suplente de vereador pelo Republicanos em Salvador (BA). Ele é diretor do Jacobinense Esporte Clube, que está na lista do MTE. Em junho de 2022, cinco adolescentes que trabalhavam em condições análogas à escravidão foram resgatados. Segundo os auditores-fiscais, os jovens eram alojados em condições precárias, sem alimentação adequada e com carga intensa de treinamento.
📮 Outras histórias
Enfermeira e pesquisadora, Andréa Teodozio se especializou no acolhimento de mulheres vítimas de violência. Em 2019, com a inauguração do Hospital da Mulher de Maceió, ela participou da implementação da Área Lilás, espaço criado para atendimento integral e humanizado às vítimas, com acolhimento inicial feito por enfermeiras, psicólogas e assistentes sociais para garantir um processo sem revitimização. O Eufêmea narra a trajetória de Teodozio, que tem se dedicado a diversos projetos públicos voltados à saúde física e mental de mulheres e da população LGBTQIA+, além de produzir artigos científicos sobre o tema.
📌 Investigação
Quanto mais os apostadores perdem, mais os influenciadores ganham. As apostas onlines viveram uma oportunidade de lucro para influenciadores digitais contratados para divulgar plataformas. O Intercept Brasil revela que o contrato assinado pelo ex-BBB Felipe Prior com a Betsat prevê que o influenciador receba 15% da receita gerada pelas perdas de novos apostadores que indicou. Esse modelo, chamado de “revenue share”, é comum no setor de apostas. Além da comissão sobre as perdas, há o “custo por aquisição” (CPA), que remunera por cada novo cadastro. Segundo Rafael Ávila, psicólogo especializado em dependência de jogos, a regulamentação que entrará em vigor em 2025 pode reduzir o CPA, devido às fraudes nos cadastros, o que fará com que os contratos priorizem as comissões sobre as perdas dos apostadores.
🍂 Meio ambiente
Ameaça às comunidades, aos animais e aos rios do estado de Mato Grosso, o PL 1833/23, do deputado Gilberto Cattani (PL), propõe reduzir drasticamente a distância mínima para aplicação de agrotóxicos. O projeto permite a pulverização a 25 metros de povoações e mananciais em grandes propriedades, e nenhuma distância mínima em pequenas e médias propriedades, como detalha O Eco. A proposta contraria um decreto estadual que estipulava pelo menos 90 metros de distância. Organizações de defesa ambiental e de povos indígenas apontam os riscos do projeto para a saúde humana e animal, bem como a contaminação da água, dos alimentos e até do leite materno. “O perfil de adoecimento da população adulta mato-grossense apresenta aumento da incidência de casos de cânceres relacionados à exposição ambiental e ocupacional aos agrotóxicos, tais como câncer de pulmão, leucemias e linfomas”, afirma nota divulgada pelo Fórum Mato-Grossense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
📙 Cultura
As marcas do “progresso”, como a crescente instalação de parques eólicos, que invadem as paisagens nordestinas estão entre os temas centrais de “Alumeia”, o novo single da cantora paraibana Luana Flores. Com a participação especial de Juliana Linhares, a música reflete sobre os impactos desse processo – que contrasta com a beleza natural da região. O Farofafá conta que o videoclipe, dirigido por Luana Flores, foi filmado nas cidades paraibanas de João Pessoa, Santa Luzia e Junco do Seridó e mistura elementos da cultura nordestina com sonoridades eletrônicas, trazendo um olhar futurista, semelhante ao filme “Bacurau” (2019). O dueto destaca sobretudo o encontro entre tradição e modernidade, abordando temas como a migração, o impacto das mudanças na região e a força da cultura popular.
🎧 Podcast
“No meu tempo, havia uma espécie de envergonhamento dos cotistas. As pessoas que entravam pelo sistema de cotas preferiam não dizer. Tinham medo de sofrer algum tipo de retaliação, dos professores tratarem de forma diferente, dos colegas tratarem de forma diferente. Não havia apoio, acolhimento, era um momento bastante difícil”, conta o escritor Jeferson Tenório ao “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um. Vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 com “O Avesso da Pele”, o autor acaba de lançar “De Onde Eles Vêm”. O romance aborda o debate sobre as cotas raciais de uma perspectiva subjetiva a partir da vivência dos primeiros alunos cotistas na universidade brasileira.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“Como mulher negra em um país com elevados níveis de pobreza e onde mais de metade da população é negra, [Marielle] Franco sabia que ameaçava as ideias tradicionais de gênero, sexualidade, raça e classe. Mas foi visível e eloquente mesmo assim”, escreve a socióloga Patricia Hill Collins em seu novo livro “Intersecções Letais: Raça, Gênero e Violência”. A Ponte apresenta trecho inédito da obra da ensaísta estadunidense – reconhecida como um dos principais nomes do feminismo negro – sobre a execução da vereadora carioca Marielle Franco. Para Collins, o assassinato “refletiu uma reviravolta nas instituições democráticas federais do Brasil”. A autora analisa as desigualdades e injustiças sociais a partir do conceito de interseccionalidade e destaca movimentos de resistência ao redor do mundo. Em sua nova produção, a socióloga examina como a violência afeta grupos específicos, considerando raça, gênero, classe social, etnia, nacionalidade e sexualidade.