As mulheres eleitas prefeitas e o calote da Vale aos cofres públicos
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Dois em cada três candidatos a prefeito apoiados por Jair Bolsonaro (PL) perderam nas eleições deste ano. Nas capitais, a proporção é de dez derrotas a cada 13 candidatos com aval do ex-presidente. Os dados são de levantamento do Intercept Brasil a partir da análise de posts feitos por Bolsonaro nas redes sociais e dos resultados eleitorais nas cidades onde ele declarou apoio público ou fez visita para manifestar sua indicação de candidato. Dos 32 candidatos que o ex-presidente citou nominalmente, só nove se elegeram (28,1%). A reportagem destaca que o fiasco de Bolsonaro, porém, não representa o enfraquecimento da direita: das 13 capitais com postulantes apoiados por ele, sete tiveram a vitória de um candidato de centro-direita. É o caso de Goiânia, onde Sandro Mabel, do União Brasil, superou Fred Rodrigues, do PL.
🔸 “O resultado em Manaus revela o vigor da direita e, ao mesmo tempo, sua dispersão. Por um lado, o nome do ex-presidente por si só não é suficiente para dar unidade ao conservadorismo e ao reacionarismo. Por outro, muitas das ideias defendidas por estes permanecem sedutoras para o eleitorado manauara”, avalia o sociólogo Marcelo Seráfico. O Amazonas Atual conversa com especialistas sobre a vitória de David Almeida (Avante) na disputa contra o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL). O ex-presidente foi três vezes a Manaus para pedir votos para o aliado. Já na Câmara Municipal, o PL de Bolsonaro elegeu seis vereadores – ficou atrás apenas do Avante, que conquistou sete cadeiras. “Aí há uma contradição, pois essa população majoritariamente eleitora da direita é a população mais exposta às desigualdades sociais”, completa o sociólogo Luiz Nascimento.
🔸 Em gráfico: apenas duas capitais elegeram mulheres para suas prefeituras: Emilia Correa (PL) será prefeita de Aracaju (SE), e Adriane Lopes (PP) se reelegeu em Campo Grande (MS). O número pífio de mulheres nas prefeituras das capitais não é novidade. Em 2020, apenas uma mulher foi eleita para o cargo – Cinthia Ribeiro (PSDB), em Palmas (TO). O Nexo mostra que, desde 1985, apenas 25 mulheres foram escolhidas para comandar as capitais brasileiras. A cidade recordista é Boa Vista (RR), onde Teresa Surita foi eleita cinco vezes.
🔸 A propósito: Emília Corrêa (PL) foi a primeira prefeita de Aracaju em 169 anos. Favorita ao longo de toda a campanha, ela é advogada e ganhou notoriedade como apresentadora de TV e rádio em quadros jurídicos, como “Seu Direito”, parte do programa “Balanço Geral”, da TV Record. O Congresso em Foco narra também a trajetória de Adriane Lopes (PP), prefeita de Campo Grande. Segunda mulher a comandar a cidade, ela assumiu a prefeitura pela primeira vez em 2022 depois que Marquinhos Trad (PSD) renunciou para concorrer ao governo do estado.
🔸 “Coração”, “esperança” e “coragem de mudar” marcaram as campanhas de petistas pelo país nestas eleições. São parte do léxico do marqueteiro Otávio Antunes, dono da agência Urissanê, fundada em 2017. Especializada em candidatos do PT, a empresa se tornou uma das mais prósperas máquinas de campanha do país: só no pleito de 2024, faturou R$ 13,9 milhões. A revista piauí perfila o marqueteiro que preencheu o vácuo deixado por João Santana, preso em 2016, condenado por receber caixa 2. Antunes, de 47 anos, foi peça chave em campanhas importantes, como a de Fernando Haddad em 2018 e, depois, de presidentes de Bolívia, Peru e Colômbia. Sua abordagem combina redes sociais e métricas digitais – e a possibilidade de adaptar campanhas com menor orçamento ao cenário político atual.
📮 Outras histórias
Na Rocinha, as paredes sujas e acinzentadas de uma quadra de basquete deram lugar a um tom azul vibrante, com desenhos e frases motivacionais. Trata-se da quadra do Castelinho, na localidade Paula Brito, recém-revitalizada por um projeto social que pretende aproximar a cultura do basquete da comunidade na zona sul do Rio de Janeiro. Segundo o Fala Roça, esta é a primeira quadra pública em uma favela do Brasil com medidas e piso oficial de basquete 3×3 – modalidade que surgiu nas ruas dos Estados Unidos, com equipes formadas por três jogadores e praticada em quadras menores. O projeto Revitalizaro mira outras 12 quadras na Rocinha – sem manutenção há anos.
📌 Investigação
A Vale deixou de pagar R$2,8 bilhões à Agência Nacional de Mineração (ANM) entre 2017 e 2021, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). O montante representa 71,5% do total da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) que caducou nesse período. Os municípios mais afetados incluem Mariana, Ouro Preto, Itabira e Parauapebas. A Agência Pública mostra que, enquanto postergava pagamentos, a mineradora alcançou lucro recorde de R$121 bilhões, em 2021. “São bilhões que poderiam estar em moradia, saneamento, educação, escola em tempo integral, diversificação econômica, saúde, e que está indo para aumentar o lucro da iniciativa privada”, destaca Waldir Salvador, consultor de relações institucionais e econômicas da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais. A ANM, que opera com apenas 34,2% de seu efetivo, enfrenta sérias deficiências em fiscalização, com apenas 1,1% dos processos de concessão verificados nos últimos anos.
🍂 Meio ambiente
Para atingir a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, o Brasil desenvolveu o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, batizado de Planaveg. A apresentação oficial aconteceu ontem na COP16, em Cali, na Colômbia, com a presença da ministra do meio ambiente Marina Silva. Como explica o Reset, o plano dialoga diretamente com a meta dois do Marco Global da Biodiversidade, que prevê a restauração de ao menos 30% de áreas terrestres, aquíferas e marinhas até o fim da década. Restaurar, no entanto, não é uma atividade barata. A depender das técnicas usadas no processo, cada hectare pode custar de R$ 15 mil a R$ 50 mil para o reflorestamento. “É importante que os arranjos e o olhar de financiamento da recuperação sejam colocados como um investimento, não custo, e de atração de recursos privados”, diz Fabiola Zerbini, diretora do departamento de florestas do Ministério do Meio Ambiente.
📙 Cultura
No Perifa no Pole, o pole dance é visto como uma ferramenta para aumentar a autoestima de jovens periféricos. O projeto surgiu em 2022, com uma pesquisa das paulistanas Isabella Galvão e Vitória Grassi sobre o quão inclusiva é a prática entre os jovens. De 126 entrevistados, mais da metade afirmou que não via com frequência pessoas de minorias sociais em aulas, conta a Emerge Mag. Desde então, o Perifa da Prole oferece aulas para promover a inclusão, principalmente de pessoas negras, trans e indígenas, na técnica esportiva e artística. Cerca de 80 pessoas praticam as atividades no Centro Cultural Olido, no centro de São Paulo. Aluno do projeto, Fellipe Sótnas conta como se sente com a prática: “O pole dance me tranquiliza. Tenho acolhido melhor as minhas emoções e impulsos, mesmo em lugares que me despertavam ansiedade e tensão”. Atualmente sem financiamento ,as aulas têm sido mantidas de forma voluntária pelas professoras.
🎧 Podcast
Um dos objetivos da presidência da COP16 é conferir à conferência a atenção e a relevância que a Conferência do Clima possui. Menores e menos frequentes, as COPs da Biodiversidade se alinham com os objetivos do Sul Global, especialmente em relação às florestas tropicais. Mas até pouco tempo eram ignoradas pela imprensa. O 28º episódio de “Entrando no Clima”, produção d’O Eco, acompanha a conferência que segue até esta sexta-feira em Cali, na Colômbia. Uma das metas, fixada há dois anos, é cortar bilhões de dólares globais investidos em atividades que prejudicam a biodiversidade. “Os bancos mundiais investiram 395 bilhões de dólares em setores que impulsionam a destruição de florestas tropicais. E o Brasil é responsável por 72% de todo o crédito mundial que é destinado à produção de commodities com risco de desmatamento”, afirma a jornalista Cristiane Prizibisczki.
✊🏽 Direitos humanos
Um relatório recente reforça a ineficácia de políticas públicas na Cracolândia, em São Paulo. Intitulado “A ‘Cracolândia’ pelos Usuários: Como as Pessoas que Vivem nas Ruas do Território Percebem as Políticas Públicas”, o trabalho entrevistou 90 usuários de drogas, dos quais mais de 90% relataram fazer uso de crack, detalha a Bori. “Os dados mostram uma relevante aderência das pessoas às internações, contrariando um discurso geral que diz que as pessoas não querem se tratar”, diz Amanda Gabriela Amparo, pesquisadora do Grupo de Estudos (in)disciplinares do Corpo e do Território (Cóccix). Segundo a pesquisa, mais de dois terços dos entrevistados realizam atividades produtivas regularmente, como reciclagem e venda de objetos. A maioria (69%) dorme nas ruas e 40% disseram que estão na região por vontade própria – seja porque consideram a Cracolândia sua casa, seja porque se sentem bem ali. Para os autores do relatório, a fim de transformar a realidade da Cracolândia, é preciso priorizar políticas integradas com inclusão social, acesso à moradia e oportunidades de trabalho.