As mulheres candidatas ao STF e um incinerador de lixo na Mata Atlântica
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🔸 Não é por falta de nomes de excelência que o presidente Lula deixará de indicar uma mulher para o Supremo Tribunal Federal (STF). Movimentos da sociedade civil já sugeriram perfis de diversas juristas para a vaga aberta na Corte após a aposentadoria de Luís Roberto Barroso. Em 134 anos, 172 ministros passaram pelo STF, dos quais apenas três são mulheres e nenhuma mulher negra. A Agência Pública comparou os currículos de 13 candidatas indicadas pela iniciativa Nós, composta pelas organizações Justa, Themis e Fórum Justiça, com os nomes de homens apontados como favoritos a receber indicação do presidente. Os mais cotados são o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, além do senador Rodrigo Pacheco. A análise mostra que as 13 candidatas têm, em média, cinco anos a mais de carreira e paridade em formação e publicações: são seis doutoras, três mestres e demais bacharéis/advogadas. Entre os homens, Messias e Dantas são doutores, e Pacheco é bacharel. Das 13 candidatas, nove são mulheres negras. Para Luciana Zaffalon, da Justa, é preciso desnaturalizar “a apresentação de apenas homens nas listas de cotados, de melhores apostas e de possíveis indicações”.
🔸 Falando em STF… “Barroso passou todo o seu período na Suprema Corte ouvindo e falando com e para empresários. Em 2025, até o mês de junho, tinha recebido oficialmente 22 representantes do patronato e nenhum de trabalhadores”, escreve Rodrigo Carelli, professor associado de Direito do Trabalho da UFRJ, em artigo no Jota. Ele traça um perfil-balanço da atuação do ministro Luís Roberto Barroso na área trabalhista e afirma que o magistrado deixa “um legado de ataques à proteção trabalhista”. Carelli lista votos e iniciativas de Barroso, como a defesa da terceirização em decisões que validam a pejotização ou ainda apoio à Reforma Trabalhista. “Não se pode negar que durante todos esses doze anos de trajetória o ministro teve importante papel, não somente em emprestar voz aos empresários nas questões trabalhistas no STF, mas em implementar várias medidas do interesse da classe patronal”, avalia o professor.
🔸 O Ministério Público da Itália deu parecer favorável à extradição de Carla Zambelli (PL-SP), presa preventivamente em Roma desde julho. Ela entrou em território italiano pouco depois de o STF decretar sua prisão preventiva. A AGU confirmou o aval para a extradição e, agora, o caso segue para decisão final da Justiça italiana. O Congresso em Foco lembra que Zambelli foi condenada duas vezes pelo STF: a dez anos (por invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça e falsidade ideológica no caso do hacker Walter Delgatti) e a 5 anos e 3 meses (por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal em meio às eleições de 2022). Zambelli participou de três audiências de custódia desde que foi presa. Em agosto, a Corte de Apelação de Roma rejeitou os pedidos de liberdade provisória e de prisão domiciliar, alegando fortes indícios de que a deputada poderia tentar fugir do país.
🔸 Falando em bolsonarista… o pedido de cassação contra Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi arquivado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Por 11 votos a favor e sete contra, a ação apresentada pelo PT não foi aceita. Segundo o Metrópoles, o relator Marcelo Freitas (União-MG) considerou a representação do partido inadmissível, ao entender que as declarações do deputado – entre elas, a defesa de sanções nos Estados Unidos contra autoridades brasileiras – estão protegidas pela imunidade material parlamentar e que ele não pode ser responsabilizado por atos de governo estrangeiro. Já os parlamentares da base do governo criticaram o arquivamento e prometem recorrer ao plenário. Eduardo, que vive nos EUA, novamente não compareceu remotamente à sessão.
📮 Outras histórias
O projeto de Niterói para sediar o Museu do Cinema Brasileiro já tem 30 anos e, em 2024, a prefeitura da cidade lançou o edital de licitação. Um ano depois, sem informar o resultado, o prefeito Rodrigo Neves reafirmou o compromisso com o museu. Ele também não apresentou datas, mas anunciou que os estudos técnicos estão avançados. O A Seguir Niterói detalha o projeto que deverá ocupar um prédio já existente no Reserva Cultural, na Avenida Visconde do Rio Branco, em São Domingos. Todo o conjunto foi concebido há 30 anos – e nunca saiu do papel. O plano prevê dois andares: no primeiro, ficará a linha do tempo do cinema brasileiro com curtas, documentários, equipamentos, réplicas de cinematógrafos e experiências de realidade virtual; no segundo, estarão os espaços educativos, com eventos, mostras temporárias e homenagens a nomes como Nelson Pereira dos Santos e Paulo Gustavo.
📌 Investigação
Mais de 300 árvores foram mortas no Parque Farroupilha, em Porto Alegre, sem reposição. A denúncia foi feita pelo biólogo Daniel Meyer ao Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul. Dados obtidos pela Matinal via Lei de Acesso à Informação revelam que os arredores do parque registraram cinco denúncias de remoção, corte parcial e desmatamento sem autorização entre março de 2022 e janeiro de 2025. Segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, a denúncia mais recente é de 24 de janeiro deste ano e não havia sido verificada pela pasta até agosto. Desde 2017, o MP apura a manutenção do parque e dos monumentos e o cuidado com a vegetação. A legislação de Porto Alegre estabelece que, para cada árvore removida, devem ser plantadas entre uma e 17 mudas. Em dezembro do ano passado, o parque recebeu 33 novas mudas, segundo inquérito do MP. No entanto, não há registro do plantio de mais árvores desde então e nem garantia de que as mudas cheguem à vida adulta.
🍂 Meio ambiente
Moradores de Perus, região noroeste da capital de São Paulo – ao lado das terras indígenas do Jaraguá – se mobilizam contra a possibilidade de instalação de um incinerador de lixo. O projeto é da Loga, concessionária que cuida de resíduos sólidos urbanos, como a coleta domiciliar, e já está em fase de aprovação na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Apesar de ser vendido como uma “nova tecnologia” para tratar os resíduos sólidos, a prática é criticada em diversos países pela liberação de poluentes tóxicos. A Periferia em Movimento lembra que Perus concentra um dos maiores remanescentes da Mata Atlântica em São Paulo, com o Anhanguera, segundo maior parque municipal da capital. “O Estudo de Impacto Ambiental apresentado pela Loga mostra que a área de influência do incinerador pode afetar indiretamente o Refúgio da Vida Silvestre e todo o bairro de Perus, que pode sofrer principalmente pela poluição do ar”, afirma a engenheira e moradora do bairro, Sirlei Bertolini Soares, também membro do Conselho Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de São Paulo.
📙 Cultura
“Propor novas maneiras de trazer a acessibilidade para dentro da nossa dramaturgia é algo que já se tornou orgânico pra gente. Desde o momento em que a gente propõe cenas para os nossos improvisos, a gente já pensa em maneiras de acessibilizar isso”, afirma Ananda Guimarães, diretora do grupo teatral amazonense Coletiva de Palhaças. O Nonada ouviu artistas e agentes culturais com deficiência que mostram como é possível usar a criatividade para incluir recursos de acessibilidade como elemento estético, potencializando o acesso dessa população à cultura. No espetáculo “Capengá”, a performer, videoartista e terrorista poética paulista Estela Lapponi, por exemplo, explora gráficos associados à frequência sonora da trilha para passar o impacto artístico do som a pessoas surdas. “A pessoa que é surda é super visual. Então ela vai entender o que tá acontecendo com o tom”, explica. “O objetivo do gráfico é atender as pessoas surdas. Mas ele expande para quem tem neurodivergência e também para quem não tem. O gráfico acrescenta à peça uma outra camada de informação, como também uma outra camada poética.”
🎧 Podcast
De uma família considerada “disfuncional”, marcada por violência verbal, autoritarismo e conflitos conjugais entre os pais, o pediatra e escritor Daniel Becker transformou a dor de sua trajetória em uma vocação para o cuidado, tornando-se um ativista pela infância. No “Isso Não É Uma Sessão de Análise”, produção da Trovão Mídia, ele narra sua história e como escolheu um caminho diferente daquele que presenciou quando criança: o do afeto, da escuta e da prevenção. Becker reflete sobre o papel do cuidado na sociedade, a importância da presença na criação dos filhos e o desafio de quebrar o ciclo entre o que se viveu e o que se transmite.
🧑🏽⚕️ Saúde
“Em meninas e mulheres, os sinais [do Transtorno do Espectro Autista] tendem a ser mais sutis, internalizados e socialmente camuflados. Isso empurra muitas para diagnósticos equivocados (ansiedade, depressão, TDAH, transtornos alimentares, transtorno de personalidade, transtorno afetivo bipolar) e intervenções fragmentadas”, escreve a psicóloga e neuropsicóloga Ana Paes. Em coluna na Eufêmea, ela explica como o autismo pode ficar mais oculto em mulheres devido ao cumprimento de papéis sociais – como ser “boazinha” e dar conta da sobrecarga – e estereótipos de gênero. “Espera-se que meninas sejam boas de relacionamento, organizadas e tranquilas. Quando cumprem essas expectativas, o sofrimento passa despercebido.” Paes aponta um caminho para o diagnóstico correto: “O ponto de partida é uma avaliação especializada, que considere a história de desenvolvimento, o contexto atual e a escuta qualificada do cotidiano”.




