O silêncio de Lula sobre uma mulher negra no STF e as chuvas no RS
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🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o sigilo dos votos no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, “a sociedade não tem que saber como votam os ministros”. O sigilo, completou o chefe do Executivo, seria uma forma de “não criar animosidade”, já que “cada um que perde fica com raiva, cada um que ganha fica feliz”. O Jota lembra que as afirmações do presidente vêm na esteira das críticas à indicação de Cristiano Zanin, seu advogado pessoal, para a Corte. O magistrado votou contra a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal e, entre os 11 magistrados da Corte, foi o único a votar contra a equiparação dos crimes de homofobia e transfobia ao de injúria racial.
🔸 Em tempo: “Se vai ser negro, se vai ser mulher, se vai ser homem, é um critério que eu vou levar muito em conta na escolha.” Foi o que disse Lula em abril, num café da manhã com jornalistas. Agora, porém, o presidente está em silêncio diante das cobranças para que indique uma mulher negra para a vaga que se abrirá em outubro no STF. Ao menos dois sites já foram criados em campanha por essa indicação, destaca a CartaCapital. Um deles convida o presidente a tomar um café com três mulheres negras – a juíza Adriana Cruz, a promotora de justiça Lívia Sant’Anna Vaz e a advogada Soraia Mendes – que poderiam ocupar o cargo no Supremo.
🔸 “Sem garantia de direitos, respeito e proteção dos povos da floresta, o futuro não somente dos amazônidas, mas de toda a sociedade brasileira e planetária está em risco”, afirma o professor, ativista e liderança Yanomami, Dário Kopenawa, filho do xamã Davi Kopenawa. Ele explica que, na cosmovisão de seu povo, não existem datas comemorativas como o Dia Nacional da Amazônia, celebrado ontem. “Não comemoramos porque já estamos conectados à natureza desde sempre. Mas para nós é importante que pela ciência e pela educação essa data seja lembrada pelas novas gerações”, afirma à Amazônia Latitude. Para marcar o dia, a reportagem conversou com Dário e especialistas sobre o futuro da floresta, o marco temporal e a construção de políticas para o desenvolvimento da região.
🔸 Embora o desmatamento da Amazônia tenha registrado queda de 42% nos sete primeiros meses de 2023, ainda há muito a se fazer pela maior floresta tropical do mundo. Segundo o Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 224 espécies da fauna na Amazônia estão ameaçadas de extinção, das quais 38 são consideradas “criticamente em perigo”. A Alma Preta reúne o que dizem organizações ambientais e de povos indígenas sobre o futuro do bioma.
🔸 As fortes chuvas no Rio Grande do Sul fizeram 21 vítimas fatais entre domingo e segunda-feira. Quinze das mortes ocorreram no município de Muçum, no Vale do Taquari, região mais afetada pelas enchentes. Segundo o prefeito Mateus Trojan, a cidade, tal como era conhecida, já não existe mais. Cerca de 25 mil pessoas em 62 municípios foram afetadas pelos temporais. O Sul21 ressalta que a tragédia é resultado de mais um evento climático extremo no Rio Grande do Sul – este é o quarto ciclone extratropical que atinge o estado desde julho.
📮 Outras histórias
Valerita Santana Aragão, conhecida como dona Lita, conciliou o trabalho na roça com o artesanato por sete décadas. Era figura conhecida em Rafael Jambeiro, na Bahia, onde viveu e “decidiu criar pessoas de pano [em tamanho natural], com enchimento de folhagens nos braços e pernas sustentadas com pedaços de pau”, como descreve o Meus Sertões. Dona Lita também fazia presépios para enfeitar praças e espaços públicos, mas seu boneco preferido era Maria Chiquinha, que fez sob encomenda da prefeitura para celebrar o Dia do Idoso. A bonequeira morreu nesta semana, aos 88 anos, em Feira de Santana, onde se tratava de problemas de saúde.
📌 Investigação
Conhecida por conteúdos negacionistas, a produtora Brasil Paralelo prometia sua estreia na ficção com o filme “Oficina do Diabo”. O grande atrativo utilizado pela empresa com direcionamento ao público cristão era o fato de ser “inspirado em ‘Cartas de um Diabo a seu Aprendiz’, de C.S. Lewis”, como foi amplamente destacado em seus cartazes há algumas semanas. A revista piauí revela que a Brasil Paralelo, no entanto, não tinha comprado os direitos autorais da obra do autor, conhecido por “As Crônicas de Nárnia”. Após a The CS Lewis Company Ltd., companhia britânica responsável pela negociação legal, negar ter sido contatada pela produtora, iniciou-se uma “operação abafa”, na tentativa de substituir todas as publicidades do longa.
🍂 Meio ambiente
Com o avanço da produção de açaí, milhares de toneladas de caroços precisam de destinação adequada – no município de Breves, no arquipélago do Marajó (PA), eles se tornam um “verdadeiro lixão a céu aberto”, emitindo metano. Segundo O Eco, a comunidade local e algumas empresas trabalham para reverter esse quadro com uma série de aplicações que inclui a produção de mudas e de artesanato, insumos para cosméticos, papéis, plásticos, fertilizantes, bebidas e construção civil. Os resíduos também geram eletricidade ou calor em grandes fornos industriais. “É um produto local, um combustível renovável, amigo do ambiente e ainda barato”, avalia Manoel Nogueira, pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Este século é dos organismos vivos. A biodigestão dos resíduos para efeito de circularidade da economia ao invés de criar resíduos contaminantes é um caminho para a economia circular.” A afirmação é do economista Ladislau Dowbor, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). À Agência Envolverde o pesquisador fala sobre a bioeconomia, a má distribuição de terras e a contaminação do solo e das águas pelo atual sistema econômico.
📙 Cultura
Dos primeiros registros na China Antiga à guerra às drogas, a HQ “Diamba: Histórias do Proibicionismo no Brasil” passeia pela trajetória da maconha e foca em diferentes episódios a partir de um jovem negro, morador da periferia, que é preso por usar um boné com a folha da cannabis estampada. De autoria do quadrinista Daniel Paiva, o livro será lançado nesta quinta-feira durante a programação da Bienal de Quadrinhos de Curitiba. Em entrevista à revista O Grito!, o autor explica que o enredo fictício se baseia em matérias de jornal. “É interessante notar como o racismo e a xenofobia estão ali e como essa guerra às drogas é usada como pretexto para reprimir uma parte da sociedade que, não é coincidência, é a mais pobre”, afirma.
Reconhecidas e premiadas na literatura, as escritoras Natalia Borges Polesso, Ryane Leão, Angélica Freitas e Cidinha da Silva são exemplos de autoras lésbicas brasileiras e contemporâneas para conhecer e aprofundar em diversos estilos, do conto à poesia. Suas produções não se concentram apenas na questão de gênero, mas também nos recortes raciais. Cidinha, por exemplo, já foi gestora de cultura da Fundação Cultural Palmares e presidente Geledés - Instituto da Mulher Negra. A Agência Diadorim lista três das principais obras de cada escritora.
🎧 Podcast
Entre exames, clínicas e terapia, Raquel se sentiu pronta para ser mãe em 2019, ao lado de sua companheira, também chamada Raquel. Depois de tentativas falhas, veio a pandemia, e o plano foi adiado. Foi apenas em maio de 2021 que a inseminação artificial teve sucesso, e as duas puderam realizar o sonho da maternidade. O “Dissidentes”, produção da Rádio Guarda-Chuva, narra a história do casal e o processo de gestação e crescimento dos gêmeos Teresa e Joaquim, atualmente com 1 ano e meio.
✊🏽 Saúde
“O tabagismo é uma doença pediátrica. De cada dez fumantes, nove começaram a fumar antes dos 18 anos”, afirma André Oliveira da Silva, do setor de Regulação e Vigilância Sanitária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em entrevista a’O Joio e O Trigo. Em 2012, o órgão proibiu os aditivos em cigarros usados para deixá-los mais atraentes para o público jovem. A decisão levou a Companhia Sulamericana de Tabacos, vinculada à “Máfia do Cigarro”, a entrar com ação no STF contra a agência reguladora.