As mudanças do Novo Ensino Médio e os influenciadores com Down
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🔸 A Câmara dos Deputados aprovou o texto que reconfigura o currículo do Ensino Médio. Apresentado pelo governo, o projeto recompõe a carga horária de 2,4 mil horas para a formação básica, amplia para 600 as matérias optativas e também aumenta a quantidade de disciplinas obrigatórias. Segundo o Congresso em Foco, apenas a bancada do PSOL foi contrária à proposta, que segue agora para o Senado. “O governo Lula, eleito, decidiu consultar a sociedade e enviou a esta Casa um novo projeto de lei, que caiu nas mãos do mesmo ministro da época do Temer”, criticou o deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ), referindo-se ao relator do projeto, Mendonça Filho (União-PE), que era ministro da Educação quando foi implementado o atual modelo.
🔸 O impacto deve ser negativo para alunos em vulnerabilidade social. Os estudantes poderão escolher entre uma carga horária com mais disciplinas tradicionais ou com curso técnico. Ao Notícia Preta a pedagoga Poliana Rocha explica: “As famílias com mais condições terão um acesso a museus, escolas com os melhores níveis, viagens e vão explorar melhor o ensino oferecido pelo Novo Ensino Médio. Enquanto um aluno em vulnerabilidade social terá que, além de estudar, buscar uma vaga no mercado de trabalho para ajudar a família”.
🔸 O governo federal é o maior anunciante de temas políticos e sociais na Meta. Somente entre 20 de dezembro do ano passado e a última terça-feira, foram injetados cerca de R$ 7 milhões em anúncios. O Núcleo revela ainda que, em 2023, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) gastou 40% a mais em relação a 2022. Foram ao todo R$ 45,5 milhões, impulsionados por um volume quase cinco vezes maior com publicidade no TikTok.
🔸 Mais de 1.600 camponeses foram mortos ou desapareceram entre o Golpe de 1964 e a Constituição de 1988. A informação é de um estudo inédito feito pelo pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) e ex-preso político Gilney Viana. A escala é muito maior do que os dados da Comissão Nacional da Verdade, que identificou 41 camponeses entre 434 vítimas. A Agência Pública conversa com Viana, para quem a comissão “reproduziu a exclusão e a discriminação da classe dominante contra os camponeses e os indígenas”. Ele afirma que a violência do campo foi tutelada pela própria ditadura: “Eles identificavam o ‘problema social do campo’ como um problema político, era uma questão de ‘não deixar ascender um movimento que politicamente vai se expressar também’”.
📮 Outras histórias
Um app de transporte de mulheres para mulheres. Este é o mote do Mamy Driver, serviço criado por Cátia Morethes. Ainda em 2019, quando vivia em São Paulo, ela teve a ideia de criar um aplicativo de corridas só com motoristas mulheres. Carregou o projeto consigo quando se mudou para Santos, dois anos depois. Hoje, sua equipe atende mais de cem corridas por dia. “A reação mais comum das nossas clientes é de alívio por poder andar por aí na companhia de outra mulher”, diz a empreendedora. O Juicy Santos explica como funciona o Mamy Driver. Crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e idosos também podem usar o serviço. Cátia repassa ao seu time de motoristas 75% do valor das corridas e oferece treinamento periódico.
📌 Investigação
A Meta e o TikTok lucraram com teorias da conspiração envolvendo Kate Middleton, princesa de Gales, a partir de publicações patrocinadas sobre o caso. Entre os dias 10 e 18 de março, pelo menos 11 anúncios com o termo “Kate Middleton” ficaram ativos em português nas redes sociais da Meta. A Agência Lupa identificou que quatro deles – todos da revista francesa L’Officiel no Brasil – chamaram a atenção pela linguagem usada para amplificar o drama imaginário e fisgar o clique do usuário. Quando o filtro aplicado na biblioteca de anúncios é a língua espanhola ou inglesa, o número de anúncios sobe substancialmente, bem como o grau de desinformação. A situação também se repetiu nas análises feitas no TikTok.
🍂 Meio ambiente
“Mudanças levam tempo, talvez não se concretizem na COP30, mas Belém pode ser o lugar para que todos concordem que temos que melhorar o sistema.” A economista francesa Laurence Tubiana é uma das arquitetas do Acordo de Paris, firmado durante a COP21 e que completa dez anos em 2025, durante o evento em Belém. Em entrevista ao Reset, Tubiana lembra que o Brasil precisa liderar pelo exemplo a questão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), os planos nacionais de descarbonização, um dos aspectos centrais do documento. “Deve haver envolvimento, um sentimento de ‘posse’, da sociedade, dos governos locais, para que todos tenham um papel ativo. A NDC não pode ser um documento publicado e depois esquecido numa gaveta.”
📙 Cultura
Depois de 25 edições, produtores culturais e grupos artísticos foram pegos de surpresa com o cancelamento do Festival Amazonas de Ópera (FAO) de 2024. O evento é o mais tradicional e o maior da América Latina no segmento. Segundo a Amazônia Latitude, o FAO não será realizado por falta de verba, como comunicou a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do estado. De acordo com informações da organização, o evento costuma gerar cerca de 700 postos de trabalho a cada ano – equivale a mais de oito setores da Zona Franca de Manaus –, além de a indústria da cultura representar um desenvolvimento econômico sustentável, em comparação com outros segmentos.
🎧 Podcast
A questão do livre arbítrio é estudada da filosofia e teologia à neurociência. A reflexão sobre o tema se soma ao conjunto de fatores como genética, cultura, classe social e contexto histórico e leva também a questionamentos sobre o que é justiça e punição. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha no livro “Determined: A Science of Life without Free Will” (Determinado: A Ciência da Vida sem Livre Arbítrio, em livre tradução), do professor de neurologia e biologia da Universidade de Stanford Robert Sapolsky, para analisar as bases do comportamento humano.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“As pessoas com síndrome de Down têm que ser livres também”, afirma Vitor de Paiva Bittencourt, estudante de educação física e conselheiro jovem do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O Projeto Colabora reúne as histórias de Vitor, da jornalista Fernanda Honorato e de Eduardo Gomes, o Dudu do Cavaco. Os três são influenciadores e trabalham para desconstruir preconceitos sobre a síndrome de Down. “Eu nunca pude imaginar que as pessoas se inspiraram em mim. Me sinto muito orgulhosa e honrada com tudo isso”, relata Fernanda sobre o reconhecimento que recebeu como repórter do Programa Especial da TV Brasil.