As mudanças da Meta e o paradeiro de um empresário pró-ditadura
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🔸Em movimento de aproximação ao novo governo do republicano Donald Trump, que toma posse no dia 20 de janeiro, o cofundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou na última semana o fim do programa de checagem de fatos nos Estados Unidos como parte das mudanças adotadas pela plataforma em sua política de moderação. Segundo o Aos Fatos, as redes da Meta – Instagram, WhatsApp, Facebook e Threads – contarão com a volta de recomendações de conteúdos políticos no feed e eliminação de restrições sobre conteúdos relacionados a imigração e identidade de gênero. “Vamos trabalhar com o presidente Trump para combater governos ao redor do mundo que estão atacando empresas americanas e incentivando a censura”, afirmou Zuckerberg no vídeo em que anunciou as mudanças na moderação de conteúdo.
🔸 As mudanças nas diretrizes de comunidade da Meta abrem espaço para o discurso de ódio e a discriminação. Publicadas inicialmente na versão em inglês, as alterações permitem, por exemplo, “alegações de doença mental ou anormalidade quando baseadas em gênero ou orientação sexual, considerando discursos políticos e religiosos sobre transgenerismo e homossexualidade, bem como o uso comum e não literal de termos como ‘esquisito’”. A Lupa ouviu especialistas que afirmam que a medida pode ter implicações jurídicas para a Meta aqui no Brasil, uma vez que conteúdos LGBTfóbicos e racistas são crimes no país. “Há possibilidade de repercussões judiciais para os usuários que postarem e para a empresa, caso não remova a partir de decisão judicial, seguindo o artigo 19 do Marco Civil da Internet”, explica a pesquisadora Yasmin Curzi, do Karsh Institute of Democracy da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos.
🔸 Em meio à desinformação nas redes sociais, as novas regras para o Pix passaram a valer desde o início do ano. Ao contrário do que circulou nos posts, a transferência não passou a ser taxada. As mudanças se referem à fiscalização das instituições financeiras. O Jota explica que antes da edição da norma, apenas instituições tradicionais, como bancos, financeiras e cooperativas de crédito, eram obrigadas a prestar informações sobre o valor da transação de seus clientes à Receita Federal. Com a alteração, bancos digitais e plataformas de pagamento deverão também fornecer informações quando a movimentação bancária for superior a R$ 5 mil por mês em relação a pessoas físicas e a R$ 15 mil no caso de pessoas jurídicas.
🔸 O Ano Novo dos Avá-Guarani, no Paraná, foi marcado pela violência: no dia 29 de dezembro, plantações e barracos da comunidade foram queimados; no dia 31, duas horas antes da virada do ano, novas áreas foram queimadas e um indígena foi baleado no braço. No dia 3 de janeiro, uma criança de 7 anos foi um dos quatro baleados em mais um ataque à aldeia Yvy Okaju, na Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, em Guaíra (PR). A Agência Pública conta que o padrão se repete anualmente: no dia 10 de janeiro de 2024, os Avá-Guarani sofreram um dos ataques mais brutais de sua história recente. “Já falamos para as autoridades, mais de uma vez, que a nossa situação é uma verdadeira calamidade. Parece que ninguém vai conseguir fazer nada por nós”, relata uma liderança da comunidade.
📮 Outras histórias
No fim do ano passado, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aprovou a “Política Estadual para distribuição dos medicamentos derivados da Cannabis pelo Sistema Único de Saúde”. No entanto, o caminho para que os medicamentos cheguem até a população de forma gratuita é longo. A Marco Zero reúne os passos que faltam para que a cannabis medicinal seja fornecida na rede estadual, como a sanção da governadora Raquel Lyra (PSDB) e a definição dos órgãos responsáveis pela regulação e implementação dessa política.
📌 Investigação
Conspirador da ditadura brasileira, o empresário Gilbert Jacob Huber Junior passou 20 anos foragido. Com dívidas milionárias de seu conglomerado, Huber Junior desapareceu em 2004 após ter a prisão decretada. A Justiça, no entanto, nunca o achou. O Intercept Brasil revela que o empresário viveu por duas décadas em uma chácara em Biritiba Mirim, no interior de São Paulo, até morrer, em agosto do ano passado, aos 98 anos. As dívidas de suas empresas, entretanto, que incluem o calote de passivos ligados a direitos trabalhistas, até hoje não foram quitadas. Huber Junior foi fundador do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS), um dos principais núcleos que atuou para o golpe de 1964.
🍂 Meio ambiente
Após três anos de expedição, o casal Letícia Alves e Dennis Hyde visitou os 75 parques nacionais brasileiros. Criadores do projeto Entre Parques, eles rodaram mais de 100 mil quilômetros pelo país de carro, mini trailer, barco, bicicleta ou a pé em trilhas. Segundo O Eco, a experiência do casal deixou claro a sobrecarga dos servidores ambientais. “Nós escutamos muito de servidores que nos recebiam e pediam desculpa, porque não tinham braço para dar atenção o suficiente ao uso público. Porque as pessoas acabam tendo que apagar incêndios, alguns literais, outros simbólicos, mas é essa sobrecarga absurda – uma sobrecarga de trabalho e mental – em que você vai resolvendo o que é urgente, o que é para ontem, o que precisa acontecer”, conta Letícia.
📙 Cultura
“Quando a gente fala de rap, de música, acho que não necessariamente precisa ter um protesto. Só o fato de uma pessoa preta, de periferia, fazer uma música e ser vista, isso pra mim já é um protesto”, afirma o rapper baiano Supremo MC. Nascido em Riacho de Santana, no interior da Bahia, o artista passou a viver desde os 3 anos em Curitiba (PR), onde conheceu a cultura hip hop na adolescência. Em entrevista ao Conquista Repórter, Supremo MC fala sobre seu novo EP “Proeminente”, que mistura trap, R&B e afrobeats a influências da música latina e afro-caribenha, e lembra das raízes do rap. “Essa força que vem das ruas, do gueto querendo se organizar para o próprio gueto, é uma força vital para que a cultura da periferia seja vista.”
🎧 Podcast
No início da década de 1970, o escritor e poeta pernambucano Juareiz Correya percorreu 600 quilômetros, a pé, de Recife (PE) a Juazeiro do Norte (CE), ao lado do cantor Paulo Diniz, um dos grandes nomes da MPB. A viagem rendeu a parceria artística que inclui o álbum “Estadas”, de Diniz. A jornalista Mariama Correia, filha de Juareiz, ouvia as histórias dessa travessia de forma fragmentada no dia a dia. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, traz a entrevista que Mariama fez com seu pai em 2024, 50 anos depois, para enfim conhecer a história completa.
🙋🏽♀️ Raça e gênero
A falta de acesso à informação adequada sobre fertilidade é uma das principais causas da gravidez indesejada. No Brasil, 55% das gestações não são planejadas, segundo uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Essas gestações indesejadas estão relacionadas aos mais de 500 mil abortos clandestinos realizados todos os anos no país, como mostra a Pesquisa Nacional do Aborto. A revista AzMina mergulha nas razões para mulheres engravidarem sem desejarem, como violência sexual e disseminação de informações incorretas. A reportagem analisa as taxas falhas de diferentes métodos contraceptivos e a necessidade de educação sexual para uma escolha livre e informada dos procedimentos.