A misoginia entre os senadores e um podcast sobre racismo alimentar
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, gente, bom dia!
Está chegando a hora do Festival 3i - Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente, promovido pela Ajor. Passam por lá jornalistas, pesquisadores e as associadas que você lê aqui na Brasis todos os dias. O 3i é o primeiro festival da América Latina voltado especialmente para a inovação e o empreendedorismo, questões essenciais para o jornalismo digital diverso e plural. Por isso, a gente te convida a participar do evento, que acontece nos dias 6, 7 e 8 de junho, no Rio de Janeiro.
A propósito: nós estaremos no 3i com uma oficina sobre curadoria para newsletters, contando um pouco do trabalho que fazemos aqui na Brasis.
A programação é extensa e, para saber mais, vale entrar no site do festival. Já para garantir os ingressos, é só entrar no Sympla. Nos vemos lá?
Obrigada e boa leitura!
Audrey Furlaneto e Tainah Ramos
🔸 Depois das ofensas públicas que fizeram à Marina Silva, senadores publicaram versões nas redes sociais em que omitem seus ataques e distorcem o episódio. A ministra do Meio Ambiente foi alvo de uma série de agressões verbais numa audiência no Senado na terça-feira. O objetivo era falar sobre unidades de conservação marinha na região Norte do país, mais precisamente na Margem Equatorial no Amapá. O Aos Fatos mostra como os senadores Plínio Valério (PSDB-AM), Marcos Rogério (PL-RO) e Omar Aziz (PSD-AM) manipularam o conteúdo divulgado ao público para esconder ataques e acusar a ministra de ter abandonado o debate. Marcos Rogério, por exemplo, usou postagens para dizer que Marina se exaltou e “abandonou o debate”. Omitiu que ela teve o microfone cortado, foi interrompida diversas vezes e que ele próprio mandou a ministra “se pôr no seu lugar”. Já Omar Aziz divulgou apenas trechos sobre a BR-319, defendendo o asfaltamento da rodovia, ignorando as vezes em que a chamou de mentirosa e desacreditou informações técnicas.
🔸 No dia seguinte à audiência, aliás, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado aprovou o PL 2.341/2024, que cria medidas protetivas de urgência para mulheres vítimas de violência política. O Congresso em Foco explica que a proposta prevê ações como retirada de conteúdo ofensivo de redes sociais, proibição de contato com a vítima, direito de resposta, suspensão de porte de armas e programas de reeducação para agressores – sem a necessidade de boletim de ocorrência ou inquérito policial. O texto agora segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
🔸 Em tempo: Plínio Valério é reincidente nas agressões contra a ministra. Em março deste ano, ele disse: “Imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la”. A Agência Pública revela que, dois meses depois, o pedido de abertura de processo disciplinar por quebra de decoro parlamentar está parado. A solicitação foi feita por oito deputadas e um deputado, mas, desde março, não houve nenhuma ação além do exame técnico preliminar. E mais: o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado está sem membros desde março, quando o mandato terminou. O cargo de presidente do conselho também está vago.
🔸 O machismo do qual Marina Silva foi alvo não é um caso isolado na política brasileira. Entre 2022 e 2024, os termos potencialmente ofensivos usados para atingir mulheres na política cresceram de 183 para 256 expressões. É o que mostra o último relatório do MonitorA, projeto da revista AzMina em parceria com o Núcleo Jornalismo. No mesmo período, a palavra “mulher” foi usada em tom depreciativo 961 vezes, ou seja, o substantivo é usado como forma de ataque – como o que ocorreu com a ministra do Meio Ambiente.
🔸 De um total de 2.723 favelas mapeadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador, apenas cinco contam com planos comunitários de redução de risco e adaptação climática. Os dados são de um levantamento do Mapa das Periferias, plataforma do Ministério das Cidades em parceria com a Fiocruz. O Notícia Preta conta ainda que apenas dez favelas mapeadas recebem projetos de urbanização, embora existam 252 iniciativas periféricas voltadas à transformação social e ambiental dos territórios.
📮 Outras histórias
Parlamentares de Maceió passaram a usar o termo “Cracolândia maceioense” para justificar medidas repressivas contra a população em situação de rua, como a internação compulsória e apreensão de pertences. O estado de Alagoas tem mais de 5 mil pessoas em situação de rua, de acordo com o Movimento Nacional da População em Situação de Rua. Na primeira reportagem da série “Política de Rua”, a Mídia Caeté mostra que o deputado estadual Leonam (União Brasil) e o vereador Thiago Prado (PP) adotaram um discurso que associa a criminalidade à presença de pessoas em vulnerabilidade, desconsiderando dados oficiais e excluindo essa população do debate público. Prado chegou a promover uma audiência pública para debater um projeto de internação compulsória de dependentes químicos. Membros do Ministério Público Federal, da Defensoria Pública e do Movimento Nacional da População em Situação de Rua denunciaram o projeto como inconstitucional e incompatível com decisões do Supremo Tribunal Federal e tratados internacionais.
📌 Investigação
Condenada em 2023 por vender a possibilidade de fraudar um programa habitacional, a servidora pública Viviane Stankevicius Urioeste é mantida pela gestão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Tem salário superior a R$ 20 mil. Funcionária municipal desde 2009, quando foi aprovada em concurso público, ela foi nomeada coordenadora de Edificações e Uso Institucional da Secretaria de Urbanismo e Licenciamento, em 2021, pelo então prefeito Bruno Covas, reeleito em 2020 pelo PSDB tendo Nunes como vice. O Intercept Brasil revela que, em maio de 2024, na gestão Nunes, quando já havia sido condenada, ela foi promovida para ocupar também o cargo de presidente da Câmara Técnica de Legislação Urbanística, órgão que apoia a aplicação das regras do Plano Diretor.
🍂 Meio ambiente
Plantas nativas do Pampa que são comumente consideradas ervas daninhas são um caminho para diminuir o uso de agrotóxicos. É o que propõe o FitoPampa, iniciativa do grupo de pesquisa e extensão Ecos do Pampa, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Os pesquisadores trabalham junto a pequenos produtores locais para cultivar carqueja e capim-limão. Segundo o Colabora, os óleos essenciais das duas espécies são extraídos e enviados para uma empresa que produz nanoemulsões que servem como bioinsumos alternativos aos agrotóxicos. “Se tiver uma coisa que dê para amenizar o uso de tanto veneno, isso é maravilhoso”, afirma Claudia Schmidt, produtora rural no Assentamento Vitória 2000, em Candiota (RS).
📙 Cultura
“Minhas peças retratam mulheres. Sempre estive cercada por mulheres fortes, especialmente minha mãe. Essa poética da rotina feminina é algo natural para mim. Nunca tive vontade de trabalhar outros temas”, afirma a ceramista Maria Corá, que há 24 anos molda o barro em figuras femininas chamadas de “Marias”. Em entrevista à Revista Alagoana, a artista reflete sobre sua trajetória por meio da criação ancestral em cerâmica e aborda o impacto da mineração da Braskem – que afundou bairros em Maceió, onde mora desde os 6 anos – em sua arte. “Me afetou profundamente como artista. Um ateliê de cerâmica exige espaço, ferramentas e matéria-prima. Tive que mudar de casa várias vezes e, durante esse período, os espaços não comportavam meu trabalho.”
🎧 Podcast
“Se você entrar em um mercadinho, não vai encontrar produtos livres de agrotóxicos. Se você vai se aprofundando na zona oeste [do Rio de Janeiro] em direção à baixada fluminense, o acesso a produtos saudáveis piora muito. Não há sequer acesso a uma variedade de verduras e frutas. O racismo alimentar é uma realidade”, afirma Silvia Baptista, fundadora da Feira da Roça, em Vargem Grande, zona oeste da capital fluminense. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, mergulha em como o acesso à alimentação saudável se manifesta de forma desigual no espaço urbano. Enquanto os moradores de comunidades quilombolas da região criaram uma feira agroecológica para suprir essa lacuna, um supermercado instalado dentro de um condomínio de alto padrão nas redondezas tem produtos frescos da horta e testa até realizar entrega por drones e pagamento por reconhecimento facial.
📲 Tecnologia
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) apresentou dez princípios para nortear a regulação de redes sociais, como transparência e prestação de contas em relação aos sistemas de moderação – inclusive composição das equipes –, algoritmos de recomendação e políticas de impulsionamento e monetização. O Mobile Time reúne todos os pontos do documento e a posição do Executivo federal diante do tema da regulação do ambiente digital. “O governo segue achando que é o Congresso Nacional que deve tomar as decisões de forma equilibrada, mas também segue achando que é preciso um impulso para que esse debate aconteça. E esse impulso o governo está disposto a promover em um projeto de lei sobre serviços digitais, pensando justamente nesses serviços que promovem a intermediação com conteúdos, produtos ou serviços de terceiros”, afirmou o secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social (Secom), João Brant.