A misoginia com as mudanças da Meta e o fim dos abrigos no RS
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🔸 A Advocacia-Geral da União (AGU) manifestou “grave preocupação” com as mudanças anunciadas pela Meta, em especial sobre políticas de conduta de ódio e o encerramento do programa de checagem de fatos nas plataformas Instagram, Facebook e Threads. O órgão federal marcou uma audiência pública para amanhã com o objetivo de discutir o teor do comunicado da big tech. A Lupa detalha o texto enviado pela Meta à AGU, no qual a empresa informa que as alterações “têm como objetivo garantir maior espaço para a liberdade de expressão”. Nas diretrizes sobre conduta de ódio, a plataforma passou a permitir “alegações de doença mental ou anormalidade quando baseadas em gênero ou orientação sexual”. Ou seja, qualquer usuário poderá postar que pessoas transgênero são doentes mentais. Para a AGU, as mudanças podem representar “terreno fértil para violação” da legislação e dos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.
🔸 Para entender: o anúncio de Mark Zuckerberg levantou uma série de preocupações sobre a circulação de desinformação nas redes e os riscos para os direitos de minorias, como de imigrantes e da população LGBTQIA+. O Aos Fatos retoma o que aconteceu, mostra as reações de checadores e ressalta a importância da checagem de informações.
🔸 Em tempo: depois de críticas, a Meta retomou o tema “Orgulho LGBTQIA+” no Messenger. Usados como forma de customizar a aparência dos chats no aplicativo de mensagens, os temas alteram as cores dos balões de texto e outras animações. O Núcleo conta que o tema “Orgulho LGBTQIA+”, criado em 2020, havia sido substituído por “Arco-íris” no início do ano. A mudança, que fazia parte de uma série de alterações no Messenger, incluiu também a remoção de temas como “Transgênero” e “Não-binário”, substituídos por “Algodão doce” e “Pôr do sol dourado”.
🔸 E ainda a misoginia: “Dos cinco minutos preocupantes de pronunciamento de Zuckerberg, uma frase em particular ficou comigo: ‘É hora de voltar às raízes’”, escreve Lu Belin, em artigo na revista AzMina. Para ela, a frase se conecta com as ideias de “‘resgatar antigos valores’, ‘restaurar a ordem patriarcal’, ‘recuperar a divisão sexual das famílias e da sociedade’, ‘retomar os papéis que homens e mulheres ocupavam nos velhos tempos’”. A jornalista completa: “Não é segredo para ninguém quem será beneficiado ao transformar as plataformas da Meta em terra sem lei. Também sabemos quem mais será atingido: mulheres, crianças, população LGBTQIAPN+ e negra”.
📮 Outras histórias
O governo do Rio Grande do Sul anunciou que vai fechar os dois últimos Centros Humanitários de Acolhimento (CHAs), localizados em Porto Alegre e Canoas, até junho. Inaugurados em julho do ano passado, os três centros do governo estadual nunca chegaram perto de atender a demanda de desabrigados no maior desastre climático do estado, tampouco operaram na capacidade prometida (de 2,3 mil pessoas). Segundo o Matinal, 753 pessoas ainda vivem nesses espaços. O governo garantiu que os acolhidos serão encaminhados para soluções habitacionais. Na capital, a promessa é entregar até março 80 novas casas temporárias. Cada uma tem 27 metros quadrados já equipados com cama, beliche, sofá, guarda-roupas, armário de cozinha, fogão e geladeira.
📌 Investigação
“O algoritmo primeiro te fascina, depois te aprisiona e depois te tira tudo”, relata a corretora imobiliária Tathiara Barbosa Fonseca. Em maio de 2022, ela vivia uma fase de estabilidade financeira, quando começou a apostar no Aviator – um jogo no qual o usuário tenta adivinhar a hora certa de parar um avião durante a decolagem –, disponível no site da Betano, por meio de uma influenciadora digital. Um dia, faturou R$ 72,5 mil reais de uma só vez. Ao apostar novamente, perdeu tudo. Ao longo de três anos, foram quase R$ 2 milhões perdidos. A piauí destrincha a teia das casas de apostas em uma cadeia que envolve influenciadores, artistas e grandes empresários.
🍂 Meio ambiente
A fazenda Lacy, do fazendeiro Décio José Barroso Nunes, o Delsão, responde por 71% do desmatamento na Terra Indígena Amanayé, no sudeste do Pará, entre 2007 e 2023. Os dados são de um levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), realizado a pedido da Repórter Brasil. Enquanto os indígenas esperam a promessa da demarcação de suas terras se concluir desde 1945, a propriedade segue abastecendo as madeireiras de Delsão. Além das infrações ambientais, o fazendeiro acumula histórico de crimes trabalhistas e foi condenado em primeira instância pelo assassinato de um líder sindical, mas responde em liberdade.
📙 Cultura
Vinte obras vandalizadas nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 foram devolvidas ao Palácio do Planalto na semana passada. Nos últimos dois anos, 54 profissionais – entre professores e alunos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade de Brasília (UnB) – trabalharam quase duas mil horas para restaurar as peças. O Sul21 conta que a pintura “As Mulatas”, de Emiliano Di Cavalcanti, é a de maior valor comercial entre as que foram restauradas. A equipe decidiu manter no quadro os sinais de que ele foi vandalizado para preservar a memória do que aconteceu. “Ter a oportunidade de restaurar essas obras foi gratificante, profissionalmente, mas também como cidadãos. Devolvemos para a população brasileira essas obras de novo na sua integridade física”, diz Andréa Bachettini, pesquisadora da UFPel.
🎧 Podcast
Considerados como berço da vida marinha, os manguezais são ricos em água, terra e vento – recursos que atraem a instalação de megaempreendimentos. O “Manguetown, Ceará”, produção d’O Eco, mergulha nos impactos causados por interesses econômicos no ecossistema do litoral cearense. As consequências vão para além do meio ambiente, alterando os modos de vida de comunidades tradicionais. É o caso de Curral Velho, distrito do município de Acaraú que viu suas paisagens e vidas transformadas com a chegada da carcinicultura no final da década de 1990, e dos moradores de Barra de Moitas, no município de Amontada, onde a instalação de parques eólicos ainda causa transtornos.
🙋🏽♀️ Raça e gênero
“Em vários momentos sinto uma sobrecarga muito grande. Ir bem no estágio, tirar notas boas na faculdade e ajudar minha mãe ao chegar em casa. Às vezes, tenho a sensação de que não dou 100% nas demandas por causa da sobrecarga e do cansaço mental”, afirma Ana Luiza, 19 anos. Sua rotina entre estágio, faculdade e afazeres domésticos e de cuidado é a realidade de muitas brasileiras, cuja inserção no mercado de trabalho não acompanhou a redistribuição igualitária das tarefas da casa. O Eufêmea narra o cotidiano de sobrecarga de jovens mulheres e analisa o impacto dessa rotina na saúde.
Quem precisa da Meta? Block total no Brasil pra ontem!