O ministro mais popular de Lula e o descaso com a Caatinga
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🔸 O Telegram apagou ontem a mensagem que havia enviado a seus usuários com desinformações sobre o PL da Fake News. A exclusão foi feita após Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinar a ação, sob pena de tirar o aplicativo do ar por 72 horas e multa de R$ 500 mil por hora. Como informa o Headline, a decisão do ministro obrigou o Telegram a enviar nova mensagem ontem mesmo, dizendo que a anterior caracterizou “flagrante e ilícita desinformação”. O texto original estimulava os usuários a pressionar os deputados contra o projeto de lei que regulamenta as plataformas digitais no país, sob a alegação de que “o Brasil está prestes a aprovar uma lei que irá acabar com a liberdade de expressão”.
🔸 Em tempo: há inconsistências diversas ao longo da mensagem contrária ao PL disparada pelo Telegram. Por exemplo: o aplicativo afirma que o projeto teria ganhado artigos sem que houvesse debate. É fato, no entanto, que o texto em pauta está em discussão desde 2020, quando sua primeira versão foi apresentada no Congresso. O Aos Fatos organiza em quatro tópicos as distorções da mensagem do Telegram.
🔸 O Google gastou mais de meio milhão para fazer propaganda contrária ao PL no Facebook e no Instagram, desde abril até o dia 6 de maio. Em apenas uma semana (a primeira deste mês), foram R$ 470 mil. A Agência Pública conta como funciona a transação: o Google paga para a Meta, empresa dona do Facebook e do Instagram, para impulsionar as postagens como propaganda, a fim de que ganhem mais alcance. A gigante da tecnologia fez uso do direcionamento detalhado, em que pode escolher os públicos a serem atingidos pelos conteúdos. Alguns dos alvos do Google foram: donos de empresas, diretores, chefes de marketing, profissionais de relações públicas, advogados, defensores públicos, juízes, vereadores e servidores públicos.
🔸 O relator do PL, deputado Orlando Silva (PC do B-SP), fez duas novas versões do texto que pretende apresentar ao Plenário da Câmara. O Jota apurou que, na primeira, ele sugere que a Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel) seja o órgão fiscalizador das plataformas; na segunda, não há previsão de nenhum agente com essa função. Mesmo no projeto em que menciona a Anatel, o deputado não detalha como se daria a atuação da agência. A primeira ideia agrada boa parte das bancadas, com exceção dos evangélicos. Já as plataformas, nos bastidores, dão sinais de que poderiam ceder à briga contra o PL caso o Congresso amplie a presença da iniciativa privada na Anatel.
🔸 A fortuna do faz-tudo de Bolsonaro. Preso sob a acusação de ter participado de fraude no cartão de vacinas do ex-presidente, Mauro Cid viajou para os Estados Unidos no final de 2022 e, lá, viajou até a Califórnia para visitar familiares. O Metrópoles teve acesso ao depoimento dele à Polícia Federal (PF) e apurou que a casa visitada pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro está em nome de um trust – o “Cid Family Trust”. A reportagem explica que as "trusts" são um instrumento legal bastante usado para blindar patrimônios de eventuais problemas judiciais. Avaliada em US$ 1,7 milhão (ou R$ 8,5 milhões), a mansão é onde vive seu irmão, Daniel Cid. Este, por sua vez, entrou no radar da PF e do STF por atuar na disseminação de informações falsas sobre o processo eleitoral e sobre o tratamento precoce da Covid-19, tão alardeado por Bolsonaro e sem eficácia comprovada.
🔸 O ministro que viralizou. Em menos de dois meses, Flávio Dino, à frente da pasta da Justiça e Segurança Pública, vai para a quinta audiência no Congresso a fim de prestar esclarecimentos aos parlamentares. A exposição o impulsionou nas redes sociais: segundo o Índice de Popularidade Digital (IPD) calculado pela Quaest Consultoria, ele é o ministro de Lula mais popular na internet. O Nexo analisa o desempenho virtual de Dino, que, além dos sucessivos convites para falar no Congresso, solta frases de efeito, que funcionam bem nas redes. “Se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores”, respondeu ao senador Marcos do Val (Podemos-ES), que fez insinuações de que o ministro estaria ligado ao crime organizado.
📮 Outras histórias
Estabelecimentos de grande circulação devem ter um “protocolo antirracista”. Este é o projeto da deputada estadual Laura Sito (PT) para o estado do Rio Grande do Sul. O objetivo é conscientizar proprietários e gestores de espaços comerciais sobre o combate ao racismo e, sobretudo, preservar vidas e garantir o direito de ir e vir de pessoas negras. Segundo o Sul21, a parlamentar foi motivada pela frequência de casos de racismo e lembrou a morte de Beto Freitas, um homem negro de 40 anos, por seguranças do supermercado Carrefour, em novembro de 2020. No protocolo, ela prevê desde o treinamento de funcionários até a implementação de políticas de incentivo à paridade racial no quadro dos estabelecimentos.
Com projeto de Oscar Niemeyer, o Macquinho foi construído para abrigar atividades externas do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói. No último sábado, porém, recebeu um evento privado que reuniu centenas de pessoas até a madrugada. Não é a primeira vez. O A Seguir Niterói lembra a história do espaço, que chegou a ter cinema comunitário e sala de informática em 2014. Na época, homens armados com fuzis voltaram a ocupar o local, como já havia ocorrido perto da inauguração, em 2008, e o Macquinho foi outra vez fechado. Já as festas privadas ocorreram até mesmo durante a pandemia. Agora, segundo a prefeitura, o espaço está sendo “reformulado” e, em breve, será lançado um “edital de retomada”.
📌 Investigação
Para aumentar a exportação de melão para a China, camponeses do Nordeste ficam sem água e ar puro. Em novembro de 2019, o governo Bolsonaro fechou um acordo “histórico” para os exportadores de frutas, o que permitiu que o melão se tornasse a primeira fruta fresca levada ao mercado chinês. Segundo O Joio e O Trigo, para atender a demanda, o agronegócio fruticultor aumentou a produção e também o número de poços na Caatinga, entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, estados responsáveis por cerca de 70% de todo o melão produzido no país – que a cada quilo consome cerca de 200 litros de água. A exaustão hídrica, no entanto, não é o único problema: os moradores são inundados com agrotóxicos usados nas lavouras. “À noite a gente acorda com o nariz queimando”, relata Miguel (nome fictício).
🍂 Meio ambiente
Único bioma exclusivamente brasileiro, apenas 2% da Caatinga é protegida. Trata-se também do semiárido mais biodiverso do mundo: são mais de mil espécies de fauna (cerca de 10% delas ameaçadas de extinção) e quase cinco mil de flora (30% em risco de serem extintas), segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O Eco reflete sobre a falta de políticas públicas direcionadas à conservação da caatinga, como o fato de não ser considerada como patrimônio nacional – como a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal, a Serra do Mar e a Zona Costeira –, “o que consequentemente estimula o uso irracional dos recursos naturais, desmatamento, queimadas e uma série de outros prejuízos”, alerta Daniel Fernandes, coordenador geral da Associação Caatinga.
“A famosa palavra gambiarra é a maior sustentabilidade que eu já vi”, afirma Evellyn Correia, educadora ambiental, permacultora, bioconstrutora e integrante do Coletivo Rizoma, localizado na zona sul de São Paulo. O espaço comporta um estúdio de música, que foi construído a partir de tecnologias sustentáveis, com base na bioconstrução. Em entrevista ao Desenrola e Não Me Enrola, ela explica como funciona a permacultura e como a prática está presente nas periferias: “Em uma casa na quebrada, você pode fazer instalações de diversos tipos. Pra que eu vou gastar a água da Sabesp, que já não está tão barata, se eu consigo instalar um sistema de captação de água, de chuva, de baixo custo na minha casa?”.
📙 Cultura
A ministra Margareth Menezes defendeu a descentralização de verbas do MinC. Ao longo de audiência pública da Comissão de Educação, Cultura e Esporte no Senado, na terça-feira, ela pediu apoio ao Congresso para implementar o Sistema Nacional de Cultura. Conhecida como “SUS da Cultura”, essa é uma medida que estabelece princípios e diretrizes para a divisão de atribuições e responsabilidades entre os entes federativos e fundamenta o repasse de recursos, como detalha a Escotilha. A ministra tem o objetivo de fazer com que as Leis Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo cheguem a todos os municípios.
Um festival de jazz na quebrada. Como o samba no Brasil, o jazz, que surgiu nos Estados Unidos, ganhou forte adesão de artistas brancos, mas tem suas raízes fincadas na cultura negra. Para resgatar essa origem e, também, dar mais visibilidade às mulheres jazzistas, o coletivo Jazz na Kombi organizou o Favela Jazz Festival – Especial Mulheres, na comunidade do Jardim Boa Vista, zona oeste de São Paulo. “A gente percebe que essas ações transformam o bairro, as pessoas conhecem coisas novas e se envolvem, é algo que move toda comunidade, todos participam”, conta Caru Laet, produtora da iniciativa, ao Nós, Mulheres da Periferia.
🎧 Podcast
Pessoas com deficiência (PCDs) usaram o “não” do mercado de trabalho para transformá-lo. As poucas oportunidades e a disparidade salarial, problemas enfrentados por PCDs, são ainda maiores no Nordeste. Esse cenário levou o empreendedor Hamilton Oliveira, de Santo Antônio de Jesus (BA), a criar o site “Mercado Adaptado”, para conectar marcas e profissionais de tecnologia a consumidores com deficiência. O episódio “Sertão Empreendedor”, do podcast “E-coar”, produção da Coar, abre uma série especial sobre nordestinos que promovem negócios inovadores e acessíveis.
✊🏽 Direitos humanos
Jovens negros fazem propostas de redução da letalidade policial. Após um ano de atividades, o Instituto Sou da Paz divulgou os resultados da Agenda Juvenil de Prevenção à Violência Letal contra a Juventude Negra, projeto desenvolvido com a Secretaria de Justiça e Cidadania de São Paulo. A Alma Preta destaca que foram promovidos encontros formativos e oficinas culturais para jovens negros entre 16 e 21 anos para ouvi-los sobre suas vivências. Eles elaboraram 34 propostas para diminuir a violência. Segundo o relatório, “é possível observar que a maioria das propostas são diretamente dirigidas às forças de segurança, em especial à Polícia Militar”.