Os minerais do Brasil na mira de Trump e o guardião de sementes da Caatinga
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🔸 Dois agentes da Polícia Federal se mudaram para o Texas – onde vive Eduardo Bolsonaro. André de Oliveira Valdez e Letícia da Cunha Padilha pediram licença não remunerada para viver em Arlington, mesma cidade em que mora Eduardo, em campanha nos Estados Unidos para livrar o pai, Jair Bolsonaro (PL), de uma eventual prisão. O Intercept Brasil revela que o casal atuava na Diretoria de Inteligência Policial (DIP), uma das principais áreas da Polícia Federal, onde se concentram os inquéritos considerados mais sensíveis da instituição, como o de tentativa de golpe e o da “Abin paralela”. Valdez já participou de varreduras no gabinete de Alexandre de Moraes e no Tribunal Superior Eleitoral, enquanto Padilha, especialista em crimes cibernéticos, comemorou publicamente as vitórias de Bolsonaro e Trump. Os dois seguiram trabalhando na gestão de Lula, embora sejam considerados por colegas como “contaminados” pelo bolsonarismo.
🔸 A sanção da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, aplicada pelos EUA, gerou forte reação em Brasília. O Jota conta que, nos bastidores do Supremo Tribunal Federal, ministros afirmam que a medida de Donald Trump não afetará o andamento do processo contra Jair Bolsonaro. Já no Palácio do Planalto, a sanção foi interpretada como um reforço de Trump de que a negociação pelo tarifaço de 50% passa pela situação jurídica do ex-presidente. O Banco do Brasil, por sua vez, estuda os impactos e avalia como pode dar suporte ao ministro, já que a sanção bloqueia bens e restringe o uso de cartões de bandeira americana. O governo deve agir em três frentes: apoio a setores afetados, uso da Lei de Reciprocidade em casos comerciais e defesa política de Moraes, sem retaliar cidadãos ou empresas dos EUA.
🔸 No embate com Trump, o Brasil entrou na disputa geopolítica por minerais críticos, essenciais para setores como energia renovável, tecnologia e defesa. Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a criação de uma comissão para mapear as riquezas do solo e subsolo, reforçando a ideia de soberania nacional sobre esses recursos. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo, explica o que são os minerais críticos, o que se sabe sobre sua presença no Brasil e por que eles prometem ser fundamentais para a economia do século 21. Lítio, nióbio, cobre, cobalto e terras raras são estratégicos para baterias, turbinas eólicas, data centers de inteligência artificial e equipamentos militares. O Brasil tem indícios de grandes reservas – possivelmente a segunda maior de terras raras do mundo –, mas carece de tecnologia para toda a cadeia produtiva.
🔸 Embora o desmatamento da Amazônia tenha caído 18% em junho, com relação ao mesmo mês do ano passado, o estado do Amazonas liderou a devastação do bioma no período: respondeu por 28% da área desmatada (326 km² no total). O Vocativo mostra que o ciclo anual de desmatamento (entre agosto de 2024 e julho de 2025) já registra alta de 11%, enquanto a degradação florestal avança, com alta de 86% em junho, impulsionada por queimadas e exploração madeireira. O estado concentra cinco dos dez assentamentos e cinco das dez terras indígenas mais afetadas, com destaque para Apuí, líder pelo terceiro mês seguido. “Os números elevados indicam que a vegetação nativa segue sendo destruída em ritmo preocupante e reforçam a necessidade de intensificar essas medidas”, afirma a pesquisadora do Imazon Larissa Amorim.
📮 Outras histórias
Durante as obras de restauração do Mosteiro de São Bento de Olinda (PE), foram encontrados 43 fragmentos de ossos, dos quais 42 são humanos e um é bovino, além de louças, cerâmicas, vidros e metais. A Marco Zero conta que os restos, localizados a pouco mais de um metro de profundidade, estavam numa área que funcionava como estacionamento, provavelmente usada para sepultamentos antigos, já que até 1835 enterros eram comuns no entorno das igrejas. Para entender melhor os achados, seria preciso uma escavação arqueológica no Mosteiro de São Bento, algo a ser avaliado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A reforma de R$ 15,3 milhões, que inclui restauração artística e estrutural do mosteiro tombado pela Unesco e pelo Iphan, segue em andamento, com a suspensão apenas de parte das escavações externas durante o período de chuvas.
📌 Investigação
A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT) participou diretamente de todas as etapas cruciais de pesquisas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre a exposição de trabalhadores rurais a dois agrotóxicos muito usados pelo setor, o glifosato e o paraquate. A Repórter Brasil teve acesso com exclusividade a documentos de um processo disciplinar da universidade sobre o caso. Além de financiar o projeto, a Aprosoja-MT selecionou trabalhadores rurais, indicou laboratórios responsáveis pela coleta de amostras de urina de pessoas expostas a agrotóxicos e cuidou até mesmo do envio do material. Os estudos foram iniciados em 2016, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reavaliava a venda dos produtos no país.
🍂 Meio ambiente
A queda do volume de chuvas diminui a vazão dos rios e o transporte de sedimentos, como areia e lama, até o mar. Quando somada ao aumento do nível dos oceanos, pode provocar o desaparecimento de pequenas localidades da costa do Nordeste. É o que mostra um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A Eco Nordeste explica que esse é um fenômeno de erosão costeira: há menos sedimento chegando à zona litorânea comparado ao que as ondas removem ou redistribuem. “A tendência é que haja aumento da erosão nessas áreas [de deságue de rios já ocupadas e praias urbanas como de Recife e Salvador], com impactos diretos sobre o turismo, o lazer e a infraestrutura urbana. O ideal seria adotar legislações que impeçam novas ocupações em zonas críticas, especialmente próximas às desembocaduras e canais”, afirma o geólogo José Maria Landim Dominguez, professor da UFBA e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas.
📙 Cultura
Para ampliar o acesso à leitura voltada a crianças da Rocinha para além da escola, o projeto Balaio de Livros usa a literatura infantil como ferramenta lúdica. A estratégia ajuda a fortalecer os vínculos entre crianças e adultos. “Precisamos entender a concepção de criança enquanto um sujeito inteiro, não fragmentado. E que as políticas públicas precisam conversar para que ela possa ser atendida de forma integral”, afirma Elisa Brazil, assistente social que coordena o grupo. Segundo o Fala Roça, a iniciativa do Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP) pretende despertar a curiosidade e naturalizar a leitura e o livro como parte do cotidiano na favela da zona sul do Rio de Janeiro. “A gente traz livros indígenas, livros que têm uma identidade. É a nossa história, a história da nossa sociedade, que não aparece”, complementa.
🎧 Podcast
Hexacampeão entre 1918 e 1923, o Britânia revolucionou a história do futebol no Paraná, ao abrir espaço para a participação de trabalhadores atuando como atletas — inclusive homens negros, que eram recusados em todos os demais times de Curitiba na época. Com os campeonatos conquistados, o clube “forçou” que os concorrentes passassem a incluir operários e negros para enfrentá-lo. O “Invisíveis”, produção do Plural, narra a história do Britânia e de outras duas trajetórias de resistência racial no Paraná: a de Enedina Marques Alves, a primeira engenheira negra do Brasil, formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), e a de Espedito Rocha, um nordestino negro que ao chegar em Curitiba se tornou vereador engajado na luta sindicalista, além de artista plástico reconhecido.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Eu moro no meio do mato, junto da mãe natureza, desfrutando o perfume das flores… A minha roça é uma diversidade, planto um pouquinho, de muitas variedades…”, canta seu Geraldo Gomes, de 62 anos, com sua sanfona, enquanto sua mãe, dona Rita, dança. O Joio e O Trigo visitou a casa de seu Geraldo, comunidade de Touro, em Serranópolis de Minas, no norte de Minas Gerais, onde planta uma variedade de espécies nativas da Caatinga, como um guardião de sementes. Ele adota o sistema agroflorestal, com algodão, amendoim, feijão, melancia, batata doce, tamarindo, pinha, caju e jamelão, além de plantas medicinais. “A terra da Caatinga tem umas plantas diferentes do Cerrado. Mas muitas espécies de plantas que tinha aqui já foram destruídas. Pelo menos eu preservei a vida de muitas espécies. Foi devido a essa doidura. Se não, podia estar tudo acabado. Então eu vejo a Caatinga dessa forma. Ser catingueiro é uma forma de vida.”