A mineração no Xingu e a (não) fiscalização da indústria de bebidas
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, pessoal, bom dia!
Aqui é a Audrey, editora da Brasis. Estamos desde setembro de 2022 no ar, tendo vocês como leitores todos os dias. Em quase um ano e meio, nossa curadoria se aprimorou e cresceu – hoje, buscamos histórias para a newsletter a partir de conteúdos produzidos pelas quase 140 organizações associadas à Ajor.
Para aprimorar nosso trabalho, queremos saber um pouco mais sobre vocês. É um questionário breve e simples, com perguntas objetivas cujas respostas poderão nortear nossa seleção diária de textos.
Será uma honra poder conhecê-los melhor. Para participar, é só clicar aqui.
Contamos com vocês.
Obrigada e boa leitura.
🔸 “A criação de um Estado Palestino livre e soberano, que conviva com o Estado de Israel, é condição imprescindível para a paz.” A afirmação foi feita pelo ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, durante reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) ontem. “Consideramos ser dever deste Conselho prestigiar a autodeterminação dos povos, a busca da solução pacífica dos conflitos e se opor de forma veemente a toda forma de neocolonialismo e de Apartheid”, disse, referindo-se ao conselho de direitos humanos da organização. O Notícia Preta conta ainda que o ministro apontou a desproporcionalidade do uso da força por parte de Israel. “Uma espécie de punição coletiva que já ceifou a vida de quase 30 mil palestinos, a maioria deles mulheres e crianças”, completou.
🔸 O tiro pode ter saído pela culatra. Para a Polícia Federal, o discurso de Jair Bolsonaro (PL) no ato com apoiadores no domingo pode ser uma “admissão de culpa”. A fala será incluída nos autos da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, segundo o Metrópoles. “Por que continuam me acusando de golpe? Porque tem uma minuta de decreto de estado de defesa”, disse o ex-presidente. A afirmação permite deduzir que ele tinha conhecimento da existência da minuta golpista. Em tempo: a própria manifestação, vista como uma provocação pelos investigadores, será alvo de apuração pela polícia.
🔸 A desinformação sobre abuso infantil na Ilha de Marajó voltou a circular. O assunto, que era pauta recorrente da então ministra Damares Alves (Republicanos-DF) no governo Bolsonaro, foi retomado depois que um vídeo da cantora Aymeê Rocha, num reality show gospel, viralizou. Segundo ela, Marajó “tem pedofilia em nível hard”. O Aos Fatos explica que, embora Marajó tenha registros de situações de violência contra crianças e adolescentes, algumas publicações virais, em tom sensacionalista, valem-se de alegações não comprovadas. A reportagem reúne dados sobre casos no arquipélago e em todo o país, mostra as dificuldades de comparar os números e traz o que não é verdade sobre Marajó.
🔸 O governo Lula sofre pressão para anular um acordo que permitirá a mineração na região do Xingu. Fechado no governo Bolsonaro, o contrato com a Belo Sun, mineradora canadense, permite a exploração numa região do Pará próxima à Volta Grande do Rio Xingu. Trata-se, aliás, de uma área reservada para um assentamento de reforma agrária no estado, como narra a Repórter Brasil. A pressão vem da própria Ouvidoria Agrária Nacional, que recomenda a anulação ao governo sob a alegação de que o próprio processo de cessão da área foi marcado por “coerções, violências e desintrusões ilícitas”.
📮 Outras histórias
Tacacá na merenda, tacacá como patrimônio do Brasil. É o que pedem as tacacazeiras do Amazonas que trabalham na elaboração de um estudo para obter a avaliação do registro do ofício no estado, informa o Amazonas Atual. Incluir o tacacá no livro de saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), segundo elas, é uma forma de proteger a receita para que siga sendo passada de geração a geração. Ter o prato na merenda escolar é também um caminho de preservação, mas sobretudo de alavancar políticas públicas para fortalecer a agricultura familiar – de onde vem a mandioca, o tucupi e também o jambu. “Minha mãe fazia tacacá pra mim desde que eu era criança, e isso se tornou uma profissão por acaso depois de um curso de empreendedorismo”, conta Aline Damasceno, do Tacacá da Tia Socorro.
📌 Investigação
Para criar um padrão nacional de controle, por meio de selos digitais aplicados às embalagens de produtos, a Receita Federal instituiu o Programa Brasileiro de Rastreabilidade Fiscal (Rota Brasil). O Joio e O Trigo revela que, na prática, nenhum selo foi adotado, e o programa continua apenas no papel. Dois grupos de trabalho foram criados para encaminhar a situação, mas um está inativo, e o outro deveria ter concluído seus trabalhos no fim de janeiro – o que não aconteceu. O resultado é que não há fiscalização da produção de cervejas e refrigerantes há oito anos, desde que o Sistema de Controle de Bebidas (Sicobe) foi suspenso.
🍂 Meio ambiente
“A diminuição do desmatamento, a diminuição das queimadas, o combate ao garimpo ilegal, foram todas políticas e práticas que este governo apresentou para toda a sociedade com o apoio constante e permanente dos servidores que se dedicaram durante todo esse período.” Cleberson Zavaski é presidente da Associação Nacional dos Servidores da Carreira Especialista em Meio Ambiente (Ascema), organização que, desde o início de 2023, mobiliza-se por uma reestruturação das carreiras para evitar um “colapso ambiental”. À InfoAmazonia Zavaski defende um plano para tornar a carreira atrativa de novo. “O Ibama deve perder, até o final do ano, um terço do efetivo. O Ibama tem 2.900 servidores, nós teremos mais de mil que irão se aposentar até o final de 2025”, afirma.
📙 Cultura
Contrariando as estatísticas de reconhecimento artístico e financeiro dado a artistas visuais, o pintor Maxwell Alexandre é um prodígio. Aos 33 anos, vive de sua arte e é reconhecido internacionalmente – convidado a expor em grandes museus de arte contemporânea, de Nova York e Paris a Marrakech e Cidade do Cabo. Cria da Rocinha, ele é conhecido por usar papel pardo nas obras, um “material mundano”, como diz, que tem uma carga racial e de classe. Em entrevista à revista piauí, o artista fala sobre exposições futuras e sobre suas críticas ao modo como é tratado pela imprensa: “A comunicação é sempre isso: ‘Maxwell traz a vivência da favela.’ Eu sei que isso é uma verdade. Que, em veículos de abrangência ampla, o conteúdo precisa ser mastigado. Mas eu sempre evito falar dessa maneira. Se eu ficar sublinhando só isso, não se fala de outras coisas”.
🎧 Podcast
Batalha de poesia, o slam é uma das linguagens que tem dominado a cena cultural nas periferias, tendo a resistência política como um pilar entre os participantes. O “Manda Notícias”, produção da Pauta Periférica, conversa com King A Braba, ganhadora do Slam BR 2023, e Santos Drummond, organizador do Slam do 13 – iniciativa que acontece mensalmente no Terminal Santo Amaro, na zona sul de São Paulo –, para entender a história do movimento e como ele se tornou tão mobilizado, organizado e político.
✊🏽 Direitos humanos
Só em 2023, foram registradas 71.867 denúncias de conteúdos de abuso sexual infantil em plataformas digitais – crescimento de 77,13% em comparação ao ano anterior, segundo dados divulgados pela Safernet. O Projeto Colabora explica como menores de idade podem estar mais vulneráveis na internet com a inteligência artificial generativa, em que criminosos produzem conteúdos a partir de fotos e vídeos de crianças reais, encontradas nas redes sociais. Para a professora e ativista Sheylli Caleffi, é necessário unir a educação sexual à digital. “Não é apenas sobre a inteligência artificial, porque ela facilita o crime. A educação sexual na primeira infância ensina o que é intimidade pessoal.”