A militarização no Brasil e a batalha de um lutador trans no MMA
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🔸 Está empatado o julgamento sobre a cassação de Sergio Moro (União Brasil). Ontem, o desembargador José Rodrigo Sade concluiu que a candidatura do senador de fato cometeu abuso de poder econômico. No dia anterior, o relator do processo havia votado contra a cassação. O Plural lembra que ainda faltam cinco votos e que o julgamento deve ser retomado na segunda-feira. A expectativa, segundo a reportagem, é de que o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná consiga evitar a cassação, mas os autores da ação, PL e PT, devem recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em Brasília. Lá, o cenário é mais adverso para Moro.
🔸 A militarização no Brasil é resquício de uma “transição inacabada”. A afirmação é do historiador e sociólogo Lucas Pedretti, que há anos se debruça sobre materiais do período da ditadura e da redemocratização. Segundo ele, “documentos oficiais mostram que ‘conciliação’ e ‘esquecimento’ eram ideias presentes o tempo todo na redemocratização”. Para militares, completa ele, “era preciso garantir a impunidade criminal e evitar a responsabilização das Forças Armadas perante a opinião pública”. Em entrevista à Pública, Pedretti detalha os temas que explorou no livro recém-lançado “A Transição Inacabada: Violência de Estado e Direitos Humanos na Redemocratização”. E lembra que os impactos da ditadura foram “muito amplos e profundos” para camponeses, trabalhadores urbanos, população LGBTQIA+, negros, moradores de favelas e povos indígenas.
🔸 A propósito e em vídeo: “Quatorze tentativas de golpe e seis bem-sucedidas – tudo isso foi feito por militares desde a Proclamação da República até ontem, contando com a tentativa de 2023 que fracassou. O que distingue os militares basicamente é a posição legalista, de defesa da Constituição, a posição golpista, com convicções doutrinárias, ideológicas ou por interesse material, e os que não estão nem aí. Sempre foi assim, e continua assim. Teremos outras experiências desse tipo enquanto não enfrentarmos esse problema histórico estrutural.” No Conversas com o Meio, o historiador Carlos Fico defende como antídoto às tentativas de golpe uma alteração, via Proposta de Emenda à Constituição (PEC), no artigo 142, segundo o qual cabe às Forças Armadas a defesa da pátria e a garantia dos poderes constitucionais.
🔸 Em tempo: nesta semana, o Supremo Tribunal Federal formou maioria contra a tese de que as Forças Armadas seriam uma espécie de “poder moderador” no país – interpretação comumente feita por bolsonaristas a partir do artigo 142. A decisão da Corte afasta a possibilidade constitucional de o Executivo recorrer aos militares para se opor ao Legislativo ou ao Judiciário. O Nexo resgata as interpretações controversas da Constituição, usadas para amparar juridicamente tentativas de golpe no país.
📮 Outras histórias
“Eu sou negra, meus alunos eram negros. Então a gente não tinha como não falar sobre um assunto que era a pauta cotidiana.” A professora Gedalva da Paz já tratava da história afro-brasileira em sala de aula antes mesmo de o ensino do tema se tornar obrigatório pela lei 10.639, em 2003. Ex-diretora da escola Malê de Balê, que fechou as portas em 2009, em Salvador, ela sempre buscou fortalecer a autoestima e consciência racial de seus alunos. O Meus Sertões narra a trajetória da psicopedagoga, que também estudou análise corporal bioenergética e usou a formação para apoiar pessoas negras a enfrentarem o racismo e suas consequências psicológicas. “É preciso cuidar do ser como uma totalidade porque senão ele é deixado sem saúde, sem escola, sem medicamentos, sem direitos básicos”, afirma.
📌 Investigação
Processos que investigam exploração sexual de crianças e adolescentes em redes sociais sobem desde 2020. O mês de janeiro teve o maior número de casos nos últimos quatro anos. A Polícia Federal (PF) registrou 97 processos, o que mostra um aumento de 83% em relação ao ano de 2023. O Núcleo analisa o tema por meio de dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. De acordo com os inquéritos obtidos pela reportagem, Meta, Discord, X/Twitter, ByteDance (TikTok) e Kwai são as principais empresas mencionadas nos processos. Os casos começaram a crescer durante a pandemia de Covid-19. Um recorte regional também permite observar que São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking de processos abertos no Brasil.
🍂 Meio ambiente
Paulista que se diz pantaneiro de coração, José Aparecido vem regenerando áreas do Pantanal. Ele atua em regiões degradadas por incêndios florestais na Reserva Cabaçal, em Cáceres, no Mato Grosso. O Projeto Colabora explica que, após o primeiro trabalho de restauração de nascente às margens do Rio Cabaçal, José ficou conhecido por plantar mudas. “Tem gente que acha que é muita muda, mas não é muito não. Por exemplo, em uma nascente a gente planta muita muda. Em três anos plantei em 32 nascentes e 22 voçorocas lá em Araputanga”, conta. Aos 73 anos, o biólogo já plantou um milhão de mudas em mais de 120 nascentes e vem atuando ao lado do Instituto Gaia.
📙 Cultura
O Drag Zona, uma competição de artistas drag, está de volta. Após o sucesso da edição de 2023, em Curitiba, o evento retorna com novidades todas as terças-feiras entre os dias 2 e 30 de abril. A Escotilha conta que a competição se inspira no programa RuPaul's Drag Race e investe em novos desafios para drag queens e drag kings. O júri do evento continua o mesmo da primeira edição, formado por Kimberlly Bey, Linda Power e Lola Lombardi. Com o aumento da concorrência pelas vagas, a seleção foi mais rigorosa, mas a competição promete maior tempo para as apresentações e mudanças nos temas de cada prova.
🎧 Podcast
É possível falar sobre obesidade sem fomentar a gordofobia? Esta é a principal pergunta do episódio do Prato Cheio, produção d’O Joio e o Trigo. Com especialistas da área da nutrição, da psicologia, da filosofia e da ciência social, o programa mostra como a obesidade está ligada aos indicadores de classe, raça e gênero e analisa o limiar entre o problema, que tem origem na abordagem médica, e a patologização dos corpos gordos, que está mais ligada ao viés social. O episódio também explica como a gordofobia está implícita no mercado – até mesmo na narrativa de instituições no setor da saúde.
🏃🏾♂️ Esporte
Lutador trans pioneiro no MMA, Cris Macfer criou projeto Trans Fighter, uma iniciativa que busca contornar a falta de espaço para pessoas trans nas artes marciais mistas. Ele próprio viveu a dificuldade de se sentir pertencente ao esporte após se entender como pessoa trans, em 2015. Só começou a falar do assunto três anos depois: “Eu já era um atleta com reconhecimento, tinha nove anos de carreira. E eu queria ser respeitado. É um sonho fazer aquilo que amamos e estava me causando um transtorno muito grande”. A Emerge Mag resgata a história do atleta, que começou aos 13 anos no hapkido, taekwondo e jiu-jitsu e se consolidou no MMA. Foi quando se assumiu um homem trans que tirou do papel o Trans Fighter, para assessorar atletas trans e dar visibilidade ao movimento dentro do esporte. Em pouco tempo, reuniu mais de 40 lutadores trans que se aliaram ao projeto.