O mercúrio na vida das mulheres indígenas e a produtora bolsonarista na internet
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, pessoal. Aqui é a Audrey, editora da Brasis. Entramos agora no sexto mês de disparo da newsletter, tendo vocês como leitores todos os dias. É uma honra. Foram seis meses de curadoria minuciosa e, agora, queremos afinar ainda mais o trabalho para apresentar uma seleção de histórias cada vez mais interessante. Para isso, precisamos saber um pouco mais sobre quem nos acompanha e elaboramos uma pesquisa – um questionário curto, com perguntas simples e diretas, para avaliar e melhorar a Brasis. É só clicar aqui.
Contamos com vocês.
Obrigada e boa leitura.
🔸 Aldira Akai Munduruku, de 31 anos, vive na Terra Indígena Sawré Muybu, na região do Tapajós, no Pará, e sente fraqueza nas pernas, alterações na visão, dores nos olhos e de cabeça, intensas e diárias. Já sofreu um aborto e teve complicações na gestação da última filha, de um 1 ano e oito meses. Corre em seu sangue o mercúrio usado pelos garimpeiros ilegais. A Gênero e Número e a revista AzMina somaram esforços para apurar os efeitos da contaminação em terras indígenas com as maiores áreas de garimpo – em território Kayapó, Munduruku e Yanomami. As mulheres sabem que estão contaminadas, mas não têm assistência e desfalecem sem amparo. “Qual é o remédio para tratar o mercúrio? Tem tratamento dos brancos para os nossos peixes?”, pergunta Gilmara Akay, de 28 anos, da terra Sawré Muybu. O especial revela ainda que, em três aldeias do Pará, 60% das indígenas estão contaminadas pelo mercúrio, detalha o caminho da substância até os garimpos, os efeitos no corpo humano e o futuro da saúde indígena.
🔸 Em vídeo: “Aqui, atrás dessa parede, temos 120 crianças internadas. Magras, crianças com 12 anos pesando cinco, seis quilos. A todo tempo, chegam helicópteros trazendo pacientes desnutridos”. Sentado ao lado de uma enfermaria improvisada perto do aeroporto de Surucucu, em Roraima, Junior Yanomami descreve ao jornalista Pedro Doria, na série Conversas com o Meio, o drama humanitário na terra Yanomami. Porta-voz de seu povo e presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, ele foi responsável por enviar ofícios ao governo federal, desde 2019, solicitando ajuda. Indagado sobre a assistência prestada agora à terra indígena, Junior afirma: “São muitas comunidades. Estamos falando de metade da população Yanomami. Somos 31.200, e a população que está pedindo socorro é de 14 mil [pessoas], em 150 comunidades, muitas de difícil acesso. Hoje estamos recebendo 2% do atendimento [necessário] à população Yanomami”.
🔸 Reeleitos para a presidência da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ficarão no mandato até o final de 2024. O primeiro alcançou um recorde na história da Casa: obteve 464 votos. O segundo conseguiu 49 votos numa eleição algo tensa, já que o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN) entrou na disputa e arrebanhou 32 votos. “O fato de Marinho ter obtido um número expressivo de votos garante poder para o grupo de direita ultraconservador. Eles vão fazer de tudo para levar as pautas deles adiante”, afirma Dolores Silva, professora da pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará. O Nexo analisa as vitórias de ambos e destaca a formação da Mesa Diretora da Câmara, que conta com 10 cargos além do presidente. A saber: “É uma mesa alinhada com valores de direita, mas o governo terá capacidade de negociar”, avalia a professora.
🔸 Qual o tamanho da pedra oposicionista colocada no sapato de Lula a partir do Senado? O governo trabalha com uma base de 53 senadores que teriam disposição para o diálogo diante da agenda e das propostas que serão feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), especialmente a reforma tributária. O Congresso em Foco explica que tudo terá de ser negociado caso a caso e, nessa conta, vale muito o jogo de cintura de Lula.
🔸 Para o Supremo Tribunal Federal (STF), a derrota do candidato bolsonarista no Senado representa não apenas um passo a mais para isolar o extremismo, mas também um alívio para os magistrados da Corte. A Constituição, afinal, guarda exclusivamente para o Senado competências relativas ao STF – por exemplo, a atribuição para processar e julgar os processos de impeachment contra ministros do Supremo. A revista piauí lembra ainda a segunda competência importante do Senado: sabatinar e aprovar ou não os indicados pela Presidência da República para a Corte.
📮 Outras histórias
No Paraná, quase 2 milhões de doses de vacinas perderam a validade e foram jogadas no lixo. São imunizantes que estão no Calendário Nacional de Vacinação e também contra a Covid-19. O Plural obteve os dados via Lei de Acesso à Informação e mostra que as perdas ocorreram por falta de procura. A alta no descarte segue a queda da cobertura vacinal no estado, algo que se repete em todo o país. No topo das vacinas mais descartadas, estão dois importantes imunizantes para o público infantil: a BCG (contra tuberculose) e a de poliomielite, única forma de prevenir a circulação do vírus da paralisia infantil.
O Nordeste é a região do Brasil com maior número de mortes por afogamento. Entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020, foram 57 mil mortes no Brasil, e 11 mil delas se concentraram em estados nordestinos. O Sudeste aparece em segundo lugar, como apurou a Agência Tatu a partir de dados disponibilizados pelo DataSus. Os casos acontecem justamente no verão e em períodos de férias, entre dezembro e abril. Só em janeiro, foram quase duas mil mortes por afogamento registradas no Nordeste.
📌 Investigação
Durante o governo Bolsonaro, o valor da terra no Mato Grosso disparou. Apenas entre 2019 e 2021, o preço do hectare entre dez das principais cidades do agronegócio no estado passou de uma média de R$ 20 mil para R$ 43 mil. O Joio e O Trigo revela que a valorização da terra está diretamente ligada ao boom das commodities, além do aumento da inflação e da alta do dólar. Na gestão do ex-presidente, a área de produção do grão aumentou em dois milhões de hectares, o equivalente ao tamanho de Sergipe. As terras no Cerrado brasileiro têm também virado ativos financeiros na Bolsa de Valores, mesmo as com origem na grilagem e no desmatamento.
🍂 Meio ambiente
O rio Madeira nasce no Andes boliviano, passa pelos estados de Rondônia e Amazonas e desemboca no rio Amazonas. Ele é também um elemento ancestral do povo Mura, que vive em dezenas de territórios demarcados ou em reivindicação. A Agência Pública reúne histórias de indígenas e povos tradicionais que habitam as margens do Madeira e narram o antes e o depois da instalação de usinas hidrelétricas. “Tinha posto de saúde aí. Remédio. Agora não tem nada. Da hidrelétrica pra cá, fez só piorar”, afirma Raimundo Junior, liderança da comunidade de Bonfim, no distrito de Nazaré, em Rondônia.
“Transição para uma economia verde” é uma das metas prioritárias do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo o chefe do departamento financeiro do banco, Alexandre Abreu. O Reset conta que uma das possíveis iniciativas é a criação de fundo específico para fomentar o mercado de títulos de dívida com metas de sustentabilidade e o estímulo a projetos alinhados a questões ambientais e sociais. A diretora de mercado de capitais do banco, Natalia Dias, aponta também que estão sendo estudadas práticas que deram certo no exterior quanto ao mercado de crédito de carbono.
📙 Cultura
“Conceição Evaristo é a autora da minha vida. Um dos temas do meu mestrado era a ‘escrevivência’, que, para mim, é sinônimo de ressignificação. Foi por meio da experiência das dores e dos amores que meu livro floresceu.” Em entrevista à revista Quatro Cinco Um, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, fala de seu livro “Minha Irmã e Eu: Diário, Memórias e Conversas sobre Marielle”, em que reúne lembranças sobre a vereadora e ativista assassinada em 2018. Ao longo da conversa, Anielle detalha como foi o processo de escrita e de transformação do luto em luta política, não somente pelo legado de Marielle, mas também pelos direitos humanos, pelas mulheres, pessoas negras e faveladas.
O crescimento das cidades tem avançado cada vez mais sobre as comunidades indígenas, com uma mínima distância e distinção entre zona rural e urbana. De acordo com o último Censo do IBGE, pelo menos 325 mil indígenas vivem nas grandes cidades, principalmente em São Paulo, Manaus, Boa Vista e Rio de Janeiro. A Emerge Mag mostra o desafio dos indígenas urbanos para manter sua cultura, além de serem discriminados por seu estilo de vida e costumes nesses locais.
🎧 Podcast
No dia do ataque aos prédios dos Três Poderes em Brasília, diversos usuários nas redes sociais lembraram da seletividade das forças de segurança e da Justiça brasileira no modo de tratar os golpistas e pessoas pretas e pobres. O Papo Preto, produção da Alma Preta, recebe Maurício Monteiro, mediador no espaço Memória Carandiru, e Caroline Iara, integrante da Bancada Feminista de São Paulo, para abordar questões como punição e racismo no sistema carcerário.
👩🏽💻 Tecnologia
Alinhada ao bolsonarismo e ao olavismo, a produtora Brasil Paralelo parece onipresente na internet por meio de buscas no Google, de anúncios no YouTube e de publicidades no Facebook. Com ajuda de profissionais de publicidade e marketing digital, e do software SemRush, o Núcleo destrincha a máquina que mantém a plataforma no topo das pesquisas do Google. De agosto de 2018 a 26 de janeiro de 2023, o Brasil Paralelo gastou mais de R$ 16 milhões em 48.690 anúncios nas redes sociais da Meta. Mas não é apenas o investimento direto que conta. Os especialistas ouvidos pela reportagem explicam que há uma estratégia de longo prazo, com ajustes constantes em SEO e construção de autoridade por meio de citações em outros sites bem ranqueados.
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