O 'mercado sensível' e os ícones do movimento negro na transição
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 “Muitas coisas que são consideradas como gastos neste país precisam passar a ser encaradas como investimento.” O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu na manhã de ontem que sejam priorizadas políticas sociais, como o combate à fome, em detrimento de regras fiscais. O mercado reagiu mal. Como informa o Nexo, a bolsa fechou com queda de 3,35%, e o dólar disparou 4,14%. Ao fim do dia, nas redes sociais, Lula publicou vídeo dizendo que o mercado “fica nervoso à toa” e completou: “Eu nunca vi um mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso nos quatro anos do Bolsonaro”.
🔸 A PEC da Transição: a equipe do novo governo trabalha com a ideia de retirar o Bolsa Família do teto de gastos de forma permanente na Proposta de Emenda à Constituição. Foi o que afirmou o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator do Orçamento de 2023. O Portal Terra lembra que a previsão é que o Bolsa Família, turbinado com um bônus de R$ 150 por criança de até seis anos, custe aos cofres públicos R$ 175 bilhões em 2023. A CartaCapital apurou que o clima no Congresso é favorável à aprovação da PEC. Os gestos de diálogo de Lula com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), abrem caminho para a celeridade da tramitação da PEC nas duas casas.
🔸 Ícones do movimento negro no governo de transição: Silvio Almeida, Anielle Franco e Preta Ferreira estão entre os novos nomes anunciados ontem pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) para compor mais seis grupos técnicos. O Notícia Preta traz a lista completa e conta que Silvio Almeida, advogado e filósofo, ficará no setor de direitos humanos. Já Anielle, irmã de Marielle Franco, estará no grupo para questões das mulheres. Preta Ferreira, ativista do movimento negro e do movimento de moradia, por sua vez, integra o time de igualdade racial.
🔸 A Polícia Federal vai investigar o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, após pedido do Ministério Público Federal. O Metrópoles relembra que, no domingo do segundo turno, a região Nordeste, que concentrou número massivo de votos em Lula, foi alvo de diversas blitze, e cidadãos se queixaram da dificuldade para votar. As operações naquele dia, porém, estavam proibidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No mesmo domingo, Vasques publicou mensagem de apoio a Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais.
🔸 Embora o TSE tenha removido mais de 700 links com desinformação das redes sociais, os conteúdos falsos ainda circulam na internet, por meio de outras contas e plataformas. A Lupa detalha algumas das peças que seguem viralizando, como um vídeo falso postado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que segue no ar porque ele o publicou duas vezes no Twitter — e apenas uma das versões foi alvo de ação.
📮 Outras histórias
Quase sete a cada 10 armas de fogo furtadas ou roubadas no Rio Grande do Sul foram retiradas de dentro de residências nos últimos sete anos e meio, segundo a Secretaria da Segurança Pública do estado. A informação foi obtida pelo Sul21 por meio da Lei de Acesso à Informação. Coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, Natalia Pollachi explica que as armas registradas por caçadores, atiradores esportivos e colecionadores são as mais visadas e que a maior disponibilidade no mercado legal contribui diretamente para o armamento do crime organizado.
Uma capital segregada. No Distrito Federal, 58,9% dos moradores são autodeclarados negros – 48,3% pardos e 10,6% pretos –, mas não são eles os que desfrutam da vida de poder em Brasília. A maior parte pertence à classe trabalhadora, vive nas periferias da cidade que ajudaram a construir e luta com o difícil acesso ao centro, onde trabalham. A Alma Preta analisa a história da população negra na capital do Brasil.
📌 Investigação
Um dos maiores frigoríficos do mundo, a JBS admite a compra de 8.785 cabeças de gado com origem em três fazendas que desmataram a Amazônia, em Rondônia, com a participação de seus funcionários no esquema. Em parceria com o Greenpeace Brasil e o Unearthed, a Repórter Brasil revela que as irregularidades aconteceram pelo menos por quatro anos, entre 2018 e 2022. As fazendas em questão pertencem a Chaules Volban Pozzebon, considerado o maior desmatador do país, além de ter sido condenado por usar mão de obra escrava e estar preso por extração ilegal de madeira.
🍂 Meio ambiente
Marina Silva chegou à COP27 com uma proposta: a criação de uma Autoridade Nacional para o Risco Climático, que coordenaria de maneira interdisciplinar a ação climática do governo brasileiro. Deputada federal eleita, ela é cotada para assumir o Ministério do Meio Ambiente no governo Lula, que desembarca em breve na conferência do clima da ONU, em Sharm el-Sheikh, no Egito. Em entrevista à Agência Pública, Marina explicou que o órgão proposto por ela faria “o acompanhamento, a articulação da implementação e capacidade de resiliência do Brasil no plano nacional referente aos compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris”.
O ICMBio autorizou o plantio de soja entre parques nacionais no Piauí. Monoculturas de grãos estão licenciadas pelo órgão para um latifúndio entre os parques nacionais das serras da Capivara e das Confusões. A medida, como reporta O Eco, ignora pareceres contrários da própria autarquia e da sociedade civil. Uma análise técnica do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), do próprio ICMBio, recomendou em fevereiro que a autarquia não autorizasse a licença pela “incompatibilidade do empreendimento” com a preservação dos parques e, sobretudo, de animais que podem ser extintos, como a onça-pintada. A região abriga uma das últimas populações do grande felino na Caatinga, além de outras espécies raras, como tatus canastra e tamanduá-bandeira.
📙 Cultura
“Sarau é quilombo cultural. Grito do povo que se recusa a andar de cabeça baixa.” Dona Edite proclama os versos do livro “Literatura Pão e Poesia”, do poeta Sérgio Vaz, no Sarau da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa), que comemora 21 anos de existência com a 13ª mostra. Ao longo da noite da última terça-feira, na Chácara Santana, zona sul de São Paulo, artistas se revezaram no microfone, com poesias e músicas sobre vivências periféricas. A Periferia em Movimento registrou o evento em uma fotorreportagem.
Nascido em 2011, na zona sul de São Paulo, o coletivo Bons Tempos Nostalgia Black tem o objetivo de disseminar a cultura do Samba Rock nas periferias da capital paulista. Seu mais novo projeto é uma websérie de cinco episódios, nomeada de “Resistência Samba Rock”, com temas que vão desde o contexto político em que o gênero nasceu até o papel da estética da cultura dos bailes na autoestima e na construção da identidade do povo preto. O Desenrola e Não Me Enrola conversa com os criadores da obra audiovisual.
🎧 Podcast
João Guimarães Rosa vislumbrou “a terceira margem do rio” em conto de mesmo nome, publicado em 1962. A história do escritor inspira “A Terceira Margem do Reno”, podcast da Quatro Cinco Um. Em nove episódios lançados quinzenalmente, a produção trata da literatura em língua francesa e alemã e suas pontes com o Brasil e se guia pela pergunta: Onde fica “A Terceira Margem do Reno”, rio que faz fronteira com a Alemanha e a França? Para além dos limites geográficos, poderia estar na literatura? O primeiro episódio parte do tema das viagens, que inclui, por exemplo, as aventuras de Albert Camus no Brasil no fim dos anos 1940.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Ao longo de quatro anos, Bolsonaro ameaçou retirar a concessão da TV Globo toda vez que ia ao ar alguma reportagem que, em sua visão, o prejudicava. Para explicar como funcionam as concessões de TV no Brasil, o Escotilha ouve dois especialistas: o advogado e professor Carlos Ari Sundfeld, da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público, um dos autores da Lei Geral de Telecomunicações; e o jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, professor aposentado da USP e uma das grandes autoridades brasileiras nos estudos sobre TV pública.