O anúncio de Mercadante para o BNDES e os bolsistas da periferia
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Em meio à coletiva de encerramento do trabalho dos grupos técnicos da transição, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou Aloizio Mercadante para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com formação na área de economia, ele já esteve à frente de diversas pastas em gestões anteriores do PT, como o Ministério da Educação e a Casa Civil. Com sua nomeação agora, Lula afirmou que o objetivo é garantir que o banco seja gerido por alguém que pense “em desenvolvimento, reindustrialização, evolução tecnológica, geração e financiamento ao pequeno, médio e grande empresário”. O Congresso em Foco lembra também que o nome de Mercadante gera controvérsias – ele foi investigado na Operação Lava Jato e processado no Conselho de Ética da Presidência da República.
🔸 O ataque de bolsonaristas em Brasília terminou sem nenhum preso, apesar dos ônibus e carros incendiados e de ações em diversos pontos da capital federal. Por isso mesmo, a Secretaria de Segurança do Distrito Federal convocou uma reunião, em caráter de urgência, para questionar a Polícia Militar do Distrito Federal sobre a falta de prisões na noite de segunda-feira. Segundo O Antagonista, autoridades vêem a inércia da PM como causa de uma forte crise para a secretaria.
🔸 A prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes na segunda, teria sido o estopim para os atos dos apoiadores de Bolsonaro na capital. Preso em 2007 por tráfico de drogas, quando também aliciava garotas Xavante para prostituição em cidades do Mato Grosso, ele conta ter recebido o chamado para ser tornar evangélico na cela do presídio. O Joio e O Trigo traça o perfil do pastor xavante que tem hoje 42 anos, não aceita o resultado das urnas, pede a prisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral e figura ao lado de apoiadores ou integrantes de projetos de agronegócio dentro de terras indígenas.
🔸 Lula acusou Bolsonaro de incentivar os “fascistas que estão na rua” ao negar o resultado das eleições. O Metrópoles destaca ainda que o presidente eleito afirmou que eles fazem parte de uma organização de extrema direita que não está restrita ao Brasil. “Existe na Espanha, na Itália, na França, nos EUA, que têm como líder o presidente Trump, existe na Hungria e em vários outros países do mundo, até mesmo na Argentina”, disse Lula. Já Bolsonaro participou de um evento pela manhã, no qual não mencionou os atos de seus apoiadores e exaltou as Forças Armadas que “lutaram e sempre lutarão para impedir qualquer iniciativa arbitrária que possa vir a solapar os interesses de nosso país”.
🔸 Margareth Menezes aceitou o convite de Lula para ser ministra da Cultura no novo governo. O Notícia Preta conta que ela se disse surpresa com o chamado e que, primeiro, vai “levantar o ministério” – a pasta foi extinta pelo governo Bolsonaro. A cantora, compositora e fundadora da Associação Fábrica Cultural já anunciou como primeiro nome de sua equipe o secretário nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores (PT), Márcio Tavares, historiador e curador de arte. A CartaCapital aponta alguns dos desafios que esperam a nova ministra. Ela terá, por exemplo, que reativar a Lei Rouanet e destravar a Lei do Audiovisual.
📮 Outras histórias
Pesquisadores periféricos viveram momentos de angústia diante do bloqueio de verbas no Ministério da Educação (MEC), que gerou incerteza sobre o pagamento de bolsas. O valor é baixo (R$ 1.500 para mestrandos e R$ 2.200 para doutorandos), e o programa requer exclusividade. “A gente estuda de maneira exclusiva a pesquisa, vivemos isso 24 horas por dia, sem acesso ao INSS, não temos plano de saúde nem direitos trabalhistas, só que temos todas as características de um trabalhador”, diz Kléber Ramos, 28 anos, doutorando pela USP e morador de Rio Pequeno, na Zona Oeste de São Paulo. A Agência Mural reúne histórias de pesquisadores da periferia e a tensão diante do contingenciamento do governo, revertido depois da mobilização de estudantes em todo o país.
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), pretende fazer uma concessão do Parque da Redenção, Patrimônio Histórico e Cultural da capital gaúcha. Paulo Fernando Pizá Teixeira, um dos fundadores da Secretaria do Meio Ambiente da cidade, afirma que a prefeitura está “fugindo da palavra privatização”, mas “a concessão à iniciativa privada transfere para poucas pessoas o poder de decisão sobre uma área que é pública”. O Matinal conversa com Pizá sobre os problemas do documento apresentado pela gestão municipal, texto que tem sido criticado por ambientalistas e frequentadores do parque.
📌 Investigação
Apesar de debates sobre os direitos das mulheres no Catar terem surgido em meio à Copa do Mundo, o tema nunca foi um critério para a Fifa. O próprio Brasil é uma mostra disso. Há 50 anos, as mulheres brasileiras também não podiam ter cartão de crédito ou fazer um empréstimo sem um homem para assinar por elas, mas o país então já havia sediado o Mundial. A revista AzMina organiza uma linha do tempo dos direitos femininos de cada ano em que o Brasil foi campeão. Spoiler: em 1958, primeira vez em que a Seleção – masculina, claro – levantou a taça, as mulheres eram proibidas de praticar o esporte.
🍂 Meio ambiente
A destruição do Cerrado custou a entrar na pauta da equipe de transição do governo eleito, depois de ter passado longe da campanha eleitoral. Há divergências tanto no grupo de trabalho (GT) do Meio Ambiente quanto no da Agricultura. E foi só em 30 de novembro que o ex-ministro Carlos Minc (PSB-RJ), membro do GT voltado à pauta ambiental, fez menção ao bioma, considerado o berço das águas brasileiras. Disse estar em conversas com o setor da soja para estender ao Cerrado o pacto feito na Amazônia, segundo o qual o grão produzido na floresta e comercializado pelos signatários do acordo não pode vir de áreas desmatadas desde julho de 2008. A ideia desagrada ruralistas. A Agência Pública explica os motivos e esmiúça as divergências nos GTs.
Fora do foco da grande imprensa, territórios do Maranhão e de Tocantins são palco de queimadas e incêndios por grileiros. Os criminosos não só destroem a floresta, mas também as casas de povos tradicionais que ali habitam e que aguardam pela titulação como comunidades quilombolas. O Le Monde Diplomatique reúne casos e relatos de moradores e indígenas que lutam para manter a floresta e suas casas de pé. Dados e estudos comprovam os incêndios criminosos nos dois estados. O Tocantins ocupou a segunda posição no ranking nacional de desmatamento nos primeiros oito meses deste ano. Entre as 13 terras indígenas mais desmatadas na Amazônia Legal, três estão no Maranhão.
📙 Cultura
Entre as dez maiores economias do mundo, apenas o Brasil reduziu o investimento na cultura na última década. Mesmo com o impacto da pandemia, os demais países não diminuíram os valores destinados ao setor. Pelo contrário, implementaram medidas para salvar a cultura, enquanto o governo Bolsonaro tentou impedir as aprovações das leis Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo. A Escotilha lembra que os cortes tiveram dois momentos cruciais: em 2017, quando o ex-presidente Michel Temer conseguiu aprovar o Teto de Gastos e, em 2019, quando o Jair Bolsonaro rebaixou o ministério e o converteu em Secretaria Especial da Cultura.
“Eu vejo tudo acontecendo/ Uns ficando rico/ E outros morrendo/ Menino novo cheio de talento/ Catando milho no sertão fervendo/ Sobrevive à seca/ Até que um dia refloresça/ Um dia essa planta cresça/ Essa raiz ninguém vai cortar.” Os versos são da música “Raiz do Sertão”, que também dá o nome ao álbum de dez faixas do rapper baiano TR MC. Nascido no município de Itarantim (BA), o artista chegou cedo a Vitória da Conquista (BA) e se desenvolveu no hip hop. Em entrevista ao Conquista Repórter, o MC conta que junta ritmos do sertão ao rap e usa a música como ferramenta de transformação social.
🎧 Podcast
Ávida pelas goiabas dos vizinhos, Darling é uma garota de 10 anos que vive acompanhada de seus companheiros Chipo, Sbho, Bastard, Stina e Godknows se divertindo enquanto, aos poucos, descobre o que os adultos tanto falam sobre os rumos do Zimbábue, no sudeste do continente africano. A história é narrada no livro “Precisamos de Novos Nomes”, da escritora NoViolet Bulawayo, e tema do novo episódio do “Põe na Estante”, produção da Rádio Guarda-Chuva. A obra é narrada por Darling ainda criança, mas o leitor acompanha a passagem de suas fases até se tornar uma mulher adulta.
🧑🏽🏫 Educação
“Educo jovens para amanhã ter alguém preparado para enfrentar essa luta. Para mim, é uma luta linda. Formei alunos na minha comunidade que hoje são médicos, advogados e engenheiros.” Maria José Muniz de Andrade, conhecida como Mestre Mayá, de origem tupinambá, é professora, parteira, guardiã das sementes crioulas, mestra de saberes tradicionais, liderança política e religiosa dos povos Pataxó Hã hã hãe. Mayá dedica a vida à defesa dos direitos indígenas por meio da educação e revela o desafio de lecionar fora das aldeias com um conteúdo padrão que não incluía a história do seu povo. O Nós, Mulheres da Periferia narra sua trajetória.