As mentiras sobre o Pix e a briga de advogados na tragédia de Mariana
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🔸 A desinformação sobre o Pix alcançou mais de 9,4 milhões de brasileiros em apenas uma semana, entre 7 e 14 de janeiro, no Whatsapp e no Telegram. A Lupa identificou mais de 18 mil mensagens únicas sobre o tema que foram compartilhadas em 2,2 mil grupos em diferentes regiões do país nos últimos sete dias. Os conteúdos disseminam a falsa narrativa de que o governo começaria a taxar transações bancárias via Pix. Tanto o governo quanto a Federação Nacional de Bancos (Febraban) já desmentiram a informação. O que houve foi apenas uma atualização do acompanhamento e da comunicação obrigatória entre bancos e Receita Federal, algo normalmente feito para transações superiores a certos valores. Os ataques ao Pix tiveram um pico no último domingo – dia em que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) gravou um vídeo em tom irônico dizendo que o presidente Lula passaria a “monitorar até quem pede dinheiro em sinal de trânsito”.
🔸 A propósito: a agenda econômica do governo pautou a desinformação nas redes no início deste ano. Quanto ao Pix, a mentira foi tanta que a Receita Federal publicou um guia com perguntas e respostas sobre o tema, informa o Aos Fatos. O governo também iniciou uma campanha publicitária de emergência sobre o assunto. Mas a desinformação se estendeu a outros temas da economia. Circularam nas redes, por exemplo, mentiras como a de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse que a ordem era “taxar tudo”, e de que o presidente congelaria o salário mínimo.
🔸 A enxurrada de desinformação, aliás, fez a Receita Federal voltar atrás sobre a fiscalização do Pix. A normativa que obriga bancos digitais a informarem a respeito das transações via Pix superiores a R$ 5 mil foi revogada ontem, como conta o Congresso em Foco. “Pessoas inescrupulosas distorceram e manipularam o ato normativo da Receita Federal prejudicando milhões de pessoas, causando pânico principalmente na população mais humilde”, explicou secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas
🔸 De volta às mudanças da Meta: “Escondido sob o discurso da liberdade de expressão sem restrições, reside o interesse econômico. Acenando para o novo presidente, Mark Zuckerberg busca decisões e acordos que inviabilizem – ou ao menos limitem – as investigações contra a Meta. A empresa quer manter intacto seu domínio sobre a internet, hoje parcialmente ameaçado pelo TikTok e aplicativos similares.” A análise é de Pedro Abramovay e Yasmin Curzi de Mendonça, em artigo na revista piauí. O vice-presidente da Open Society Foundations e a advogada destrincham os motivos do aceno do CEO da Meta a Donald Trump e voltam às origens das big techs. “No começo de tudo, as empresas do Vale do Silício propagavam uma cultura libertária e de respeito às minorias. Depois da primeira eleição de Trump, postaram-se como polos de resistência aos valores da extrema direita, ainda que tivessem ajudado o candidato republicano. (...) A convicção democrática, vemos agora, não era muito consistente. Em nome dos próprios interesses, Zuckerberg e seus companheiros pularam sem hesitar do barco da democracia.”
📮 Outras histórias
As bicicletas têm um papel marcante nas aulas de história do professor Michel Pinho. Com uma “bike som” – equipada com caixas de som para amplificar a voz, um recurso comum no comércio e nas periferias de Belém –, ele percorre as ruas da capital paraense em aulas públicas gratuitas. Com duração de uma hora e meia, os passeios incluem seis paradas. A cada uma delas, narra a Amazônia Vox, o professor traz perspectivas diversas que ajudam a explicar a pluralidade dos moradores de Belém hoje. No percurso pela Cidade Velha, Michel destaca marcos como o Forte do Presépio, o Palácio Lauro Sodré e o movimento da Cabanagem, conectando histórias pouco contadas, como a influência dos povos indígenas e africanos na formação local. O projeto começou em 1999 e ganhou força com as redes sociais, tornando as aulas mais inclusivas com tradução em libras e audiodescrição.
📌 Investigação
Quase uma década depois, a tragédia em Mariana (MG) se tornou uma batalha pública entre advogados famosos do Brasil e do mundo. Diante da possibilidade de bilhões de reais – ou libras – em honorários, os profissionais disputam espaço em jornais, nas redes sociais e na Justiça, ao mesmo tempo que os impactados pelo desastre aguardam uma reparação justa. O Intercept Brasil mergulha no confronto entre escritórios de advocacia, como o Pogust Goodhead, especializado em ações coletivas internacionais, fundado pelo advogado galês Tom Goodhead, e advogados brasileiros, que defendem que o modo como o galês atua fere a soberania nacional e que um de seus objetivos é controlar a Vale futuramente.
🍂 Meio ambiente
A Amazônia não recebeu tudo o que Joe Biden prometeu. A gestão do democrata se encerra neste domingo com uma agenda ambiental frustrada e promessas de investimentos que não saíram do papel. O RealTime1 lembra que, quando Lula foi eleito em 2022, Biden doou US$ 50 milhões ao Fundo Amazônia – um valor considerado baixo. Foi o único investimento concreto de Biden no fundo, composto por recursos da Noruega (US$ 3,5 bilhões) e da Alemanha (US$ 500 milhões). Biden prometeu aportar US$ 500 milhões em cinco anos, mas o debate foi travado pelo Congresso. Outros projetos de investimento ambiental para florestas tropicais anunciados pelo democrata no fim de seu governo dificilmente serão encaminhadas pela gestão de Donald Trump.
📙 Cultura
O esporte, o lazer e a cultura se cruzaram para transformar as quadras poliesportivas do Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo. Formado por DJs, artistas visuais e comunicadores, o coletivo Dream Team do Guetto reuniu mais de 30 pessoas para dar cor aos espaços esportivos. A Emerge Mag conta que a revitalização era um desejo antigo da comunidade: nos últimos anos, os campos de futebol de várzea foram transformados em quadras poliesportivas cinzas. O objetivo da pintura é que os novos espaços reflitam as identidades culturais dos moradores e sejam seguros e acolhedores para a prática de atividades físicas e eventos culturais.
🎧 Podcast
O escritor Julián Fuks nasceu durante o exílio de seus pais, que fugiram da ditadura militar argentina para morar no Brasil. Sua infância foi marcada pela instabilidade sobre o futuro da família. No “Estranho Familiar”, produção da Trovão Mídia, Fuks conta que distante dos parentes de sangue, ele cresceu cercado por outros vínculos: um conjunto de exilados de muitas famílias argentinas que vieram ao Brasil entre as décadas de 1970 e 1980. “Para mim, chamava a atenção justamente que meus primos não eram propriamente meus primos, e meus tios não eram meus tios. Eram outra coisa – e, no entanto, se configuravam em uma coletividade que desempenhava o papel de família e que se tornou muito importante na existência cotidiana.”
👩🏾🏫 Educação
“As escolas que não esperaram pela regulamentação pública e já baniram celulares nos guiam para o que esperar em relação a esses efeitos. O que elas relatam é que, passado um breve período de descontentamento dos alunos, eles voltam a socializar nos intervalos das aulas, brincando, brigando, se frustrando, fazendo as pazes, conversando e desenvolvendo habilidades socioemocionais tão importantes para sua vida adulta”, afirma a designer Mariana Uchoa, cofundadora do Movimento Desconecta, que reúne mães e pais preocupados com os impactos do smartphone na vida de crianças e adolescentes. Ao Fast Company Brasil Uchoa fala sobre a educação digital dessa população e a necessidade dos limites de telas durante a fase de formação.