Os megaincêndios na Amazônia e a cruzada contra o aborto legal no país
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🔸 Os megaincêndios florestais na Amazônia em 2023 deixaram marcas por toda a região, “mas ainda é cedo para fazer um balanço definitivo do estrago, já que a mortalidade de árvores depois do fogo pode se manter elevada por dois anos e meio”. Em reportagem na revista piauí, o jornalista Bernardo Esteves narra os efeitos da temporada de incêndios na floresta mais biodiversa do mundo em 2023, quando a seca foi turbinada pelo El Niño e pela emergência climática. Somente no Baixo Tapajós, no oeste do Pará, o fogo atingiu cerca de 300 mil hectares. O repórter visitou a área e conversou com as ecólogas Joice Ferreira e Erika Berenguer, da Rede Amazônia Sustentável. Segundo Berenguer, há uma nova realidade na floresta amazônica no Antropoceno – está mais quente, mais seca e mais vulnerável aos incêndios.
🔸 A floresta ainda sofre com o garimpo ilegal. Na Terra Indígena Yanomami, a prática desacelerou em 2023, mas a área atingida continuou crescendo, como informa O Eco. Segundo nota produzida por organizações indígenas com apoio técnico do Instituto Socioambiental e do Greenpeace Brasil, houve aumento de 7% na área afetada. É um percentual muito abaixo dos 54% registrados em 2022. Ainda assim, evidencia que as ações do governo para o combate ao garimpo ilegal foram insuficientes. De acordo com o documento, de 70% a 80% dos garimpeiros deixaram a região no primeiro semestre do ano passado. Retornaram, porém, depois do “relaxamento das ações de repressão”.
🔸 O Brasil vive uma cruzada contra os serviços de aborto legal e também contra os profissionais de saúde que atuam para garantir o direito previsto em lei. O encerramento do serviço no Hospital Municipal e Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, ilustra o cenário. A revista AzMina lembra que a unidade era a única do estado e uma das poucas no Brasil a realizar o aborto legal em casos de gestações avançadas, acima de 22 semanas. “Hoje, a oferta de serviço é totalmente incompatível com a demanda”, afirma Gabriela Rondon, advogada do Anis Instituto de Bioética. No Paraná, por exemplo, os serviços atendem, via de regra, até a 20ª semana. Em Brasília, um hospital que realiza aborto legal tem orientações explícitas para não fazer o procedimento em gestações mais avançadas. “Nenhuma mulher chega a 22, 24, 29 semanas (de gravidez) porque quer. É muito menos responsabilidade delas e muito mais uma expressão da falência do Estado e das políticas públicas que deveriam protegê-las”, diz a pesquisadora Greice Menezes.
🔸 Em dez dias, mais de 121 mil casos de dengue foram registrados no país. A vacinação terá início ainda neste mês, segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade. O primeiro público serão crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, em municípios selecionados, informa o Metrópoles. Até o fim da tarde de ontem, o Painel de Monitoramento das Arboviroses contabilizava quase 365 mil casos prováveis da doença. As unidades da Federação com a maior incidência de registros a cada 100 mil habitantes são Distrito Federal, Minas Gerais e Acre. O Terra conta que o governo federal anunciou o repasse de R$ 1,5 bilhão aos estados para ações de combate à doença. A ministra lembrou que a população tem papel importante, já que, segundo ela, cerca de 75% dos focos do mosquito transmissor estão dentro de casa.
📮 Outras histórias
Zé Baticabo, carpinteiro e folião, teve papel crucial na revitalização do Carnaval de Vitória da Conquista (BA). Nos anos 80, incentivou a transformação de batucadas em escolas de samba frente ao declínio das festividades de rua e a popularização dos bailes em clubes. Seus esforços para adaptar a musicalidade das batucadas e introduzir novos instrumentos, além de arrecadar fundos para fantasias e alegorias, ajudaram a manter viva a tradição carnavalesca na cidade. Em artigo no Conquista Repórter, João Paulo Pereira, historiador e filho de Zé Baticabo, resgata o trabalho do “painho” para preservar a memória da cultura local.
📌 Investigação
Gigante do agronegócio mundial, a Bayer no Brasil patrocinou uma série de publicações com o pretexto de preencher uma lacuna na formação dos profissionais da nutrição sobre tópicos relacionados à agricultura e à sustentabilidade na produção de alimentos. O Joio e O Trigo detalha que os textos tentam convencer os nutricionistas de que agrotóxicos e alimentos transgênicos são seguros e imprescindíveis para garantir a segurança alimentar e nutricional, além de desqualificar a produção de orgânicos e suas vantagens ambientais e nutricionais. Os materiais são assinados pelas nutricionistas Sonia Tucunduva e Lara Natacci. A primeira é professora aposentada da Faculdade de Saúde Pública da USP e tem um histórico de publicações patrocinadas por empresas.
🍂 Meio ambiente
“O verão chegou muito cedo e muito forte. As nossas plantações não aguentaram o calor. Muitas comunidades estão sofrendo com a seca, principalmente aquelas que vivem de poço artesiano”, conta Amarildo Macuxi, coordenador da Região das Serras, uma das quatro da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, no nordeste de Roraima. A InfoAmazonia explica que o calor extremo que assola a Amazônia desde os últimos meses de 2023 tem causado a escassez de mandioca, um dos alimentos mais importantes para a subsistência da população local.
📙 Cultura
O acervo de 216 objetos históricos roubados no maior ataque na história do Brasil a religiões de matriz africana pode ser tombado como patrimônio cultural brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) neste ano. Segundo a Alma Preta, são instrumentos musicais, indumentárias, estatuetas, insígnias e outros objetos sacralizados que foram saqueados no episódio conhecido como “Quebra de Xangô”, que ocorreu em cerca de 150 terreiros em Maceió e cidades vizinhas, durante a madrugada do dia 2 de fevereiro de 1912. A partir do momento em que a coleção for tombada pelo Iphan, o órgão será responsável pela preservação, conservação e estudo da historiografia.
🎧 Podcast
Destinar recursos para atividades de baixo impacto ao meio ambiente e desincentivar as mais danosas tem sido um dos caminhos de diversos países para diminuir as emissões de carbono. A prática é conhecida como “Taxonomia Sustentável” e passou por uma consulta pública no país no fim do ano passado. Há também dois projetos de lei, um na Câmara e outro no Senado, a respeito do tema. No entanto, não é tão simples como parece. O “Economia do Futuro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, conversa com Luciane Moessa, diretora executiva e técnica da Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS) para entender as taxonomias de alguns países e a proposta brasileira. Moessa analisa também as principais controvérsias – inclusive socioambientais – desse plano.
✊🏽 Direitos humanos
Quinta cidade mais rica do país, Niterói (RJ) reduziu os atendimentos para pessoas em situação de rua. Essa população no município, no entanto, dobrou. É o que revela levantamento da Agência Nossa com base no relatório “População em Situação de Rua”, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O total de atendimentos em Centros de Referência (Centros Pop) e por Equipes de Consultórios na Rua caiu de 7.406 em 2018 para 2.196 em 2022, enquanto esse público passou de 352 para 707. Os Centros Pop são unidades específicas para quem vive nas ruas, com infraestrutura para banho, refeições e abrigo. O município do Rio de Janeiro é o que menos atende a essa população, entre as dez maiores do Brasil.