A medida do sucesso da COP30 e os hospitais veterinários públicos em SP
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🔸 Cerca de 70 mil pessoas fizeram a Marcha Global pelo Clima no sábado, em Belém (PA), sede da COP30. O movimento, organizado pela Cúpula dos Povos e COP das Baixadas, percorreu quase 5km sob 35ºC. A marcha quebra um jejum de três anos sem atos nas COPs do Egito, dos Emirados Árabes e do Azerbaijão, imposto pelas legislações locais. O retorno das manifestações nas ruas, ponto alto da agenda paralela da COP30, teve forte presença internacional e clima de celebração democrática, com elogios à organização e à energia do público. A Alma Preta conversou com diversos ativistas estrangeiros ao longo do ato. Eles apontaram duas chaves do momento: a chance de protestar fora dos “muros” da COP e a união de pautas – de justiça climática à solidariedade internacional.
🔸 Fotogaleria: movimentos de 65 países percorreram o trecho entre o Mercado de São Brás e a Aldeia Cabana, organizado em blocos. As ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, estiveram no ato. O Colabora reúne imagens da marcha. “Em outras realidades políticas do mundo, onde as manifestações eram feitas apenas dentro do espaço da ONU, agora, no Brasil, um país do Sul Global, de uma democracia conquistada e consolidada, sejam bem-vindos às praças”, disse Marina Silva.
🔸 O governo anunciou a demarcação de duas terras indígenas – Sawré Muybu e Sawré Ba’pim, ambas do povo Munduruku, no Pará – depois de um protesto pacífico na manhã de sexta, na entrada principal da COP. A InfoAmazonia explica que, no ato, indígenas cobraram a revogação do decreto que instituiu o Plano Nacional de Hidrovias e incluiu os rios Tapajós, Madeira e Tocantins como eixos prioritários para navegação de cargas. As lideranças lembraram ainda a Ferrogrão, que pode afetar seis terras indígenas, onde vivem cerca de 2,6 mil pessoas, incluindo povos isolados. Os projetos previstos para a região não cumpriram com a consulta prévia, livre e informada. “Tudo isso acontece sem o Estado nos ouvir. Querem destruir o fundo do rio, explodir nossos pedrais sagrados, lotar o Tapajós de barcaças para levar soja para fora do Brasil. Quem mora aqui somos nós, não as empresas”, disse uma liderança Munduruku.
🔸 Enquanto a COP se desenrola em Belém, um indígena foi assassinado no domingo, com um tiro na testa durante um ataque atribuído a pistoleiros contra a retomada Pyelito Kue, no município de Iguatemi (MS). Vicente Fernandes Vilhalva, do povo Guarani Kaiowá, tinha 36 anos. Outros quatro indígenas ficaram feridos, e as lideranças relatam que barracos e pertences foram incendiados e destruídos por um trator. A Repórter Brasil lembra que a área integra a terra indígena Iguatemipeguá I, sobreposta à Fazenda Cachoeira e retomada pelos indígenas em 3 de novembro. Desde então, a tensão aumentou. “Estamos muito preocupados e as autoridades demoraram muito para chegar. As crianças estão assustadas”, afirma Lide Solano, cacique de Pyelito Kue.
🔸 “O que seria a medida do sucesso, ou do fracasso dessa COP?”, pergunta Giovana Girardi. Em coluna na Agência Pública, ela conversa com Christiana Figueres, uma das arquitetas do Acordo de Paris, para explicar o que poderia fazer da conferência em Belém a “COP da implementação”. Para ela, o desafio é menos “fazer algo histórico” e mais tornar comunicável a implementação: consolidar decisões e iniciativas em um documento político coerente e compreensível, ainda que não vinculante, que prove resultados. Para isso, será preciso organizar a profusão de iniciativas e comunicar o conjunto de forma clara à imprensa e ao público. A primeira semana terminou no sábado com “muitas indefinições e bem pouca concretude”, lembra Girardi. Agora, resta esta semana para o desfecho das negociações.
🔸 Os EUA retiraram, na sexta-feira, a sobretaxa global de 10% para produtos brasileiros imposta pelo governo Trump. A remoção da taxa beneficia produtos brasileiros-chave na relação comercial com os EUA, especialmente carne bovina e café. O alívio, porém, é parcial: para o Brasil segue em vigor a tarifa adicional de 40% decretada no fim de julho, o que limita o efeito imediato sobre a competitividade das exportações. O Metrópoles lista os itens contemplados, que inclui, além de alimentos in natura e processados, matérias-primas e bens industriais, como metais, semicondutores e aparelhos eletrônicos.
📮 Outras histórias
O atendimento veterinário público e gratuito é escasso e distante das quebradas da Grande São Paulo. Levantamento da Agência Mural revela que só oito dos 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo têm hospitais gratuitos, e Guarulhos paralisou suas duas unidades em julho, agravando a falta de assistência aos animais domésticos. Nas periferias, os custos de consultórios privados são altos (com consultas raramente abaixo de R$ 200), enquanto os Centros de Controle de Zoonoses oferecem apenas prevenção básica, como vacinas e castração, sem dar conta de consultas, exames e cirurgias. “São vidas que importam, parte da família, mas se o assunto é saúde e bem estar [os animais domésticos] são negligenciados. Quando adoecem, muitos acabam morrendo sem que consigam atendimento digno”, afirma Thais Oliveira, 25 anos, moradora do Cabuçu, em Guarulhos.
📌 Investigação
Apesar de indicar que o assassinato de Maxciel Pereira dos Santos, em 2019, tem conexões com as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, em 2022, a Polícia Federal pediu o arquivamento do caso. Maxciel era servidor da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), e o crime permanece impune, sem que PF e Ministério Público Federal (MPF) tenham indicado ao Judiciário os autores ou mandantes. O Intercept Brasil teve acesso com exclusividade ao relatório de pedido de arquivamento. O documento será apreciado pelo MPF e, após a manifestação, analisado pela Justiça Federal. As investigações anteriores da própria PF estabeleceram conexões entre as mortes de Maxciel e de Dom e Bruno, sugerindo que Rubens Villar Coelho, o “Colômbia”, seria o mandante de ambos os crimes. A interrupção da apuração do caso Maxciel acontece depois do delegado Francisco Badenes, que fez progresso significativo nos casos, ser retirado da condução de todos os inquéritos relativos ao Vale do Javari.
🍂 Meio ambiente
Falta de participação popular deixa a Baía de Guanabara à mercê de vazamentos de óleo. Um novo vazamento na semana passada, em São Gonçalo (RJ), expôs a falta de um canal participativo de denúncias online para identificar responsáveis por vazamentos. O canal sugerido por movimentos sociais prevê a coleta de imagens pelos órgãos públicos toda vez que for identificada a presença de óleo no mar, de lixo e outras fontes de poluição. Os pescadores artesanais e organizações afetadas afirmam que os vazamentos costumam ocorrer de madrugada quando a fiscalização ambiental não funciona e que as empresas responsáveis são recorrentes. Segundo a Agência Nossa, o Movimento Baía Viva defende que o monitoramento nas águas das baías fluminenses seja feito com a participação das comunidades pesqueiras cadastradas. “São eles que detém os conhecimentos naturalísticos sobre estes ambientes e poderiam estar colaborando com a atuação dos órgãos públicos”, afirma o pesquisador Sérgio Ricardo Potiguara, um dos fundadores da organização.
📙 Cultura
O Multipalco do Theatro São Pedro corre o risco de não receber mais programação a partir de janeiro de 2026. O espaço no centro de Porto Alegre é um dos maiores complexos culturais da América Latina. Segundo o presidente da Fundação Theatro São Pedro, Antonio Hohlfeldt, a justificativa é a falta de servidores. A estrutura física do multipalco aumentou, mas o quadro de funcionários, não. “Hoje somos apenas 27 pessoas tocando todo o serviço. Até a Covid-19, eram cerca de 60 colaboradores”, afirma à Matinal. Ele explica que já existe um projeto de lei pronto há dois anos para adequar a questão de pessoal que atua na fundação para viabilizar a operação. No entanto, para valer em 2026, o texto precisa ser enviado à Assembleia Legislativa nos próximos dias. “Enviamos os documentos, que ficaram em gavetas, ao longo destes dois anos”, diz. “O último pacote de projetos a ser enviado pelo Executivo ao Legislativo é nesta semana. Nosso projeto precisa estar aí, ele deve ser contemplado por justiça e porque, sem ele, não poderemos trabalhar. É simples assim.”
🎧 Podcast
“A agroecologia tem o papel fundamental dentro das cidades para falar sobre as questões ambientais, o reflorestamento, a qualidade de vida e o bem viver”, afirma o educador popular Iago Quinas Araújo, membro do Horta da Mata. Localizado em Itaquera, zona leste de São Paulo, o espaço é uma agrofloresta – além da produção agrícola, há diversas plantas nativas da Mata Atlântica – aberto aos moradores, que coletam os seus alimentos, e conta com voluntários para cuidar da horta. O “Cena Rápida”, produção do Desenrola e Não Me Enrola, narra a importância das hortas comunitárias, da agricultura familiar e dos saberes ancestrais para enfrentar a insegurança alimentar nas cidades, sobretudo nos territórios periféricos.
🏃🏿♂️ Esporte
O Brasil somou cem pódios nos Jogos Parapan-Americanos de Jovens 2025, conquistando o topo do quadro de medalhas – 61 ouros, 29 pratas e dez bronzes. Ao todo, 120 atletas competiram nesta edição. A competição é voltada para jovens de 14 a 23 anos e ocorreu entre 31 de outubro e 9 de novembro no Chile. O país participou de 12 modalidades, como bocha, goalball, futebol de cegos, atletismo, halterofilismo, judô e basquete em cadeira de rodas. O Eficientes destaca que, embora o recorde histórico de participação brasileira seja de 2013, com 209 medalhas, a edição deste ano mostra um novo ciclo de fortalecimento do esporte paralímpico brasileiro, sobretudo diante da queda de pódios da edição de 2023, com 52.




