A máquina populista digital de Bolsonaro e o tiroteio na favela de Paraisópolis
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🔸 Segue estável o cenário do segundo turno: o Ipec divulgou ontem os números do mais recente levantamento, segundo o qual Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou um ponto para baixo e tem 50% das intenções de voto. Já Jair Bolsonaro (PL) oscilou um ponto para cima e chegou a 43%. O BHAZ lembra que na pesquisa anterior, do último dia 10, Lula tinha 51% contra 42% de Bolsonaro.
🔸 Enquanto isso… a Câmara dos Deputados quer urgência na votação do projeto de lei que pretende punir institutos de pesquisas eleitorais que divulgarem percentuais diferentes, acima da margem de erro, dos resultados oficiais das eleições. Com a manobra, como explica o Metrópoles, os deputados podem votar a proposta de imediato em plenário, pulando, por exemplo, a tramitação da pauta nas comissões da casa. De autoria de Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, o projeto prevê reclusão de quatro a 10 anos, além de multa, aos responsáveis pelas pesquisas com “dados divergentes” na quinzena anterior ao pleito.
🔸 Um tiroteio em Paraisópolis interrompeu a agenda do candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que participava da inauguração do primeiro pólo físico de uma universidade na segunda maior favela da capital paulista. Em seguida, surgiram boatos de um possível atentado ao candidato apoiado por Bolsonaro, o que, como explica a Ponte, é também uma forma de criminalizar a favela. “Aquilo não foi um atentado porque todas as pessoas da comunidade têm um respeito grande pelo nosso trabalho, que é voltado para a educação, e tinha moradores, a imprensa ali, os tiros foram a 300 metros da escola”, explica Wallace Rodrigues, morador da comunidade.
🔸 Rescaldos do debate de domingo: Bolsonaro chamou Rodrigo Maia (PSDB-SP) de “pai do orçamento secreto”. Ontem, veio a resposta de Maia, segundo o qual foram os próprios ministros de Bolsonaro que sustentaram a criação das emendas de relator. Veja a réplica do deputado em vídeo no Congresso em Foco. Já a CartaCapital traz avaliações de campanhas e veículos para o confronto entre os presidenciáveis na TV. As análises variam. A medição da AtlasIntel, por exemplo, indicava clara vitória do petista no debate. Já nos grupos focais monitorados pela campanha petista, a vantagem não pareceu tão nítida. Uma coisa é consenso: os indecisos não gostaram do que viram.
🔸 A máquina populista digital de Bolsonaro se vale da infraestrutura tecnológica das redes sociais, que foi pensada para o marketing, e não para a política. Letícia Cesarino, especialista em desinformação e antropologia digital, em entrevista à Agência Pública, explica como funciona essa máquina e avalia que, apesar da demora, a esquerda está começando a “entrar nesse jogo da internet”. Um exemplo é a ofensiva em torno da associação de Bolsonaro à maçonaria: “O que me surpreendeu nessa empreitada da maçonaria é que eles conseguiram perturbar. E aí é volume, é quantidade. A direita trabalha com disparo automatizado e a militância sempre mobilizada, por isso tem que ter sempre uma ameaça, algum perigo. E, também, temporalidade. O dia inteiro tem que estar sempre aquilo ativo. Quem está ali está ocupando espaço. Quem não está, já perdeu um território”.
🔸 Sobre “pintar um clima”. Depois de Bolsonaro ter usado a expressão para se referir a um encontro com adolescentes venezuelanas que, segundo ele, estavam “arrumadas para ganhar a vida”, a primeira-dama Michelle Bolsonaro saiu em sua defesa. O argumento dela é de que o marido usa o termo com frequência. O Portal Terra mostra que a tese não se sustenta. Em 128 lives exibidas entre 2019 e 2021, Bolsonaro nunca usou a expressão.
📮 Outras histórias
O projeto Marcas da Memória, que instala placas em locais que serviram como centros de tortura e repressão em Porto Alegre, afirma estar sofrendo “descaso” do prefeito Sebastião Melo (MDB). A iniciativa, promovida pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos, pede a restauração de nove placas já fixadas e a continuidade da pesquisa por endereços utilizados para silenciar a resistência à ditadura militar. O Matinal Jornalismo explica a situação do projeto na capital gaúcha e o que são políticas de memória.
Garimpeiros ilegais incendiaram pneus e bloquearam a BR-319, em Porto Velho, em Rondônia, entre os dias 12 e 13 deste mês, manifestando-se contra a operação da Polícia Federal que destruiu balsas e dragas ligadas às infrações ambientais no rio Madeira. A Amazônia Real conta que o governador coronel Marcos Rocha (União Brasil), apoiador de Bolsonaro e candidato à reeleição no estado, reuniu-se com os manifestantes e afirmou que tentaria uma reunião com o Ministério da Justiça para mediar um diálogo e impedir que novas balsas de garimpo sejam destruídas.
📌 Investigação
Integrante da Comissão de Igualdade Racial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Frei Davi afirma que os partidos podem ter induzido a troca do quesito raça/cor das candidaturas. Um dos motivos para essa alteração repentina pode ter sido a nova legislação de distribuição dos recursos do Fundo Eleitoral, em que os partidos passam a receber verbas proporcionais aos número de candidatos negros que apresentam para o pleito. Primeiro veículo a denunciar o caso do candidato ao governo da Bahia, ACM Neto (União Brasil), o Alma Preta revela que um em cada cinco concorrentes aos cargos políticos alteraram a autodeclaração de cor, sendo que maioria foi de branco para pardo.
🍂 Meio ambiente
“Dá um Google.” Foi o que Bolsonaro disse ao espectador que acompanhava seu debate com Lula na TV, no último domingo, após ser cobrado pelos altos índices de desmatamento em sua gestão. O candidato à reeleição sugeria que o eleitor comparasse os números atuais aos de governos anteriores do petista. O Projeto Colabora traz a resposta a partir de dados oficiais do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia por Satélites (Prodes). A saber: quando Lula foi eleito, em 2002, o desmatamento da Amazônia era de 21.650 km². Ao deixar o governo, em 2010, o índice havia caído para 7.000 km². Quando Bolsonaro foi eleito, em 2018, o desmatamento era de 7.500 km². De lá para cá, os números só crescem: 10.100 km², em 2019; 10.900, em 2020; e 13.000, em 2021.
Tudo pela reprodução. Para copular, um morcego no Brasil chega a voar 700 quilômetros à noite, entre uma caverna e outra. Trata-se da maior distância já registrada entre os morcegos-das-costas-peladas. A descoberta, parte do doutorado da bióloga Fernanda Ito, foi feita por pesquisadores em colônias da espécie em cavernas no Nordeste. O Eco detalha as conclusões do estudo feito a partir da análise das ‘bat caves’, algumas com mais de 150 mil indivíduos. Ao todo, a pesquisa mapeou nove cavernas no Ceará, em Sergipe, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte – algumas vizinhas e outras separadas por uma distância de 700 quilômetros em linha reta.
📙 Cultura
Responsável pela titulação de quilombos, a Fundação Cultural Palmares reconheceu apenas três comunidades ao longo do governo Bolsonaro. O Nonada apurou o discurso do atual presidente, seus filhos e seus ministros com relação aos quilombolas, que, por lei, têm direito aos seus territórios tradicionais e às suas práticas sociais e culturais próprias. Ao mesmo tempo que desmontou as políticas públicas, Bolsonaro passou para uma atuação assistencialista, como distribuição de cestas básicas.
“Alguém tem que fazer alguma coisa pra ele não ser mais um esquecido na nossa província.” Jornalista e poeta, Anchieta Fernandes revolucionou a literatura no Rio Grande do Norte com o “Poema/Processo”. Morto no último domingo, vítima de um ataque cardíaco, Fernandes é considerado um vanguardista e um expoente da poesia concreta. “Olho” (1967) chegou a ser citado em livros didáticos por todo país. Em homenagem ao seu legado, o Saiba Mais conversa com pessoas próximas ao poeta.
🎧 Podcast
A Controladoria-Geral da União está monitorando 500 municípios que podem ter desviado verbas do orçamento secreto. O podcast “Durma com Essa”, produção do Nexo, aborda a falta de transparência e os indícios de corrupção da prática que tem sido o mecanismo para Bolsonaro ter apoio do Congresso.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
O desemprego diminuiu, os salários e os direitos, também. No trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego no país ficou em 9,1%, sendo a menor desde dezembro de 2015 ‒ quando também foi de 9,1%. A boa notícia, porém, veio acompanhada da má notícia: a desigualdade persiste em um cenário de redução dos salários e dos direitos trabalhistas. A carteira assinada está longe de ser uma realidade. O Maré de Notícias lembra ainda que mulheres e pessoas negras são as que mais sofrem com a falta de empregos e direitos.