O mapa da fome no RJ e um barco-laboratório no rio Negro
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🔸 O aquecimento global dobrou a possibilidade das chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul. As mudanças climáticas também aumentaram a intensidade da tragédia numa escala de 6% a 9%, quando comparado com um cenário de menos carbono na atmosfera. É o que concluiu um estudo produzido por 13 cientistas de cinco países, vinculados ao centro de pesquisas World Weather Attribution (WWA). A Agência Pública detalha o trabalho que também aponta para fatores como a vulnerabilidade social dos territórios afetados. “Regiões desprotegidas, normalmente habitadas por populações mais pobres, enfrentam riscos mais elevados de inundações e impactos associados”, diz o estudo. Os pesquisadores lembram ainda que o Código Florestal brasileiro, vigente desde 2012, estabelece que as propriedades rurais no Rio Grande do Sul devem preservar 20% de suas áreas de vegetação nativa – o que não é respeitado.
🔸 A propósito: 97% das comunidades quilombolas do estado estão em estado de calamidade ou emergência, segundo o Ministério da Igualdade Racial. Apenas 11 de um total de 147 comunidades estão em municípios que não foram diretamente afetados. Isso não significa, porém, que estão em segurança, como informa a Alma Preta. Muitas podem estar em vulnerabilidade em decorrência do isolamento geográfico, causado pelo bloqueio de estradas ao longo do período de enchentes.
🔸 De 2018 para cá, o índice de insegurança alimentar grave aumentou 300% na cidade do Rio de Janeiro, o que significa que quase um milhão de cariocas comem pouco e mal, por falta de opção. O Joio e O Trigo explica que os índices da capital fluminense vão na contramão das taxas nacionais. “Isso pegou a gente um pouco de surpresa. Normalmente, a capital do Rio, em relação à insegurança alimentar, sempre se comporta um pouquinho melhor do que o estado”, diz Paulo César Castro, professor e pesquisador da UFRJ. O fato de a cidade ter o segundo custo de vida mais caro do país se soma a outro fator: o Rio também fica em segundo lugar quanto à cesta básica mais cara do país. Dentro da capital, a fome acompanha a desigualdade: 22,4% dos cariocas que passam fome estão em bairros da zona norte, como Méier, Madureira, e Ilha do Governador.
🔸 No Paraná, deputados aprovaram a privatização de escolas estaduais, sob protestos de professores e estudantes que forçaram a entrada na Assembleia Legislativa e ocuparam as galerias do prédio. Proposta do governo de Ratinho Jr. (PSD), o texto prevê a terceirização da gestão de escolas públicas, retirando professores concursados dos cargos para entregar a administração dos colégios a empresas privadas. O Plural conta que, segundo os professores, o projeto põe em risco a própria existência da educação pública no Paraná.
📮 Outras histórias
Uma das lutas recentes mais emblemáticas de Recife, o Ocupe Estelita completa dez anos. Ativistas em defesa do direito à cidade lutaram para barrar um projeto que previa 12 torres com mais de 40 pavimentos e cem metros de altura na região do marco zero da capital pernambucana. Em artigo no Outras Palavras, a arquiteta e urbanista Marta Santa Cruz Pordeus resgata a história do movimento. “A ocupação ganhou forte apoio da classe artística recifense: Kléber Mendonça, Nação Zumbi, Otto e Karina Buhr, Ney Matogrosso e Zélia Duncan, foram alguns dos nomes que apoiaram o MOE, além das apresentações dos blocos ‘Empatando Tua Vista’ e ‘Eu acho é pouco’, e o ‘Som na Rural’, projeto de música itinerante que fornecia estrutura para os eventos e shows gratuitos que levaram aproximadamente 10 mil pessoas ao Estelita ocupado. David Harvey, influente geógrafo estadunidense, visitou a ocupação e elogiou a união da luta com a festa.”
📌 Investigação
Em média, bastam apenas 5,75 dias para que um projeto de lei anti-LGBTQIA+ seja replicado e se espalhe pelas casas legislativas, atravessando os níveis municipal, estadual e nacional. A Agência Diadorim identificou as quatro propostas mais protocoladas nos últimos quatro anos para entender o modo de operação por trás da criação e difusão de propostas contra os direitos dessa população. Na maioria dos casos, são textos que nascem a partir de eventos midiáticos, com o objetivo de incitar o pânico moral sobre os temas de linguagem neutra, banheiros unissex, publicadade pró-LGBTQIA+ e crianças em paradas do orgulho. Entre os principais partidos responsáveis pela disseminação desses projetos estão o PL, o Republicanos, o PP e o PSD.
🍂 Meio ambiente
Uma expedição científica inédita em barco-laboratório reuniu pesquisadores das universidades do Estado do Amazonas (UEA) e de Harvard em setembro do ano passado para investigar a contaminação por mercúrio e desenvolver o primeiro Índice de Qualidade das Águas (IQA) do rio Negro, segundo maior afluente do rio Amazonas. A Ambiental Media participou da expedição e mostra como funciona a elaboração desse medidor. “Um índice de qualidade de água tem de partir de locais sem nenhuma interferência humana. E, na Amazônia, o rio Negro nos dá essa condição”, diz Sérgio Duvoisin Júnior, pesquisador da UEA. Apesar do ambiente pouco alterado pela ação humana ao longo da bacia, a pior seca registrada em 121 anos revelou diversas questões socioambientais, desde a dificuldade de navegação até a sufocante fumaça das queimadas em Manaus.
📙 Cultura
Foram identificados 37 imóveis históricos que devem ser restaurados pela Braskem nos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol, em Maceió (AL), atingidos pelo afundamento do solo causado pela mineração de sal-gema. Segundo a Revista Alagoana, isso é parte do Termo de Acordo Socioambiental de 2020, firmado entre o Ministério Público Federal (MPF), a mineradora e outros órgãos. A lista de imóveis a serem preservados inclui a Igreja de Santo Antônio de Pádua. Lá, especialistas descobriram mosaicos de cerâmica durante o processo de restauro.
🎧 Podcast
Fechada para o mundo externo até os anos 1990, a comunidade quilombola de Mumbuca, no Jalapão, em Tocantins, “entrou” no mapa nacional após o Rally dos Sertões de 1998. Pela primeira vez os pilotos cruzaram o Tocantins, e os carros chegaram a Mumbuca. Já em 2001, chegou a rede elétrica – sem que a comunidade pedisse. No início, os moradores ficaram maravilhados com a luz e a televisão. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, narra as transformações que a comunidade sofreu e como a chegada de pessoas externas também representou a quase expulsão dos quilombolas de seus territórios ancestrais.
🧑🏽🏫 Educação
“Não há previsão para voltar às aulas. Agora é esperar baixar as chuvas para depois pensar nessa retomada. Houve a tentativa em Porto Alegre na última semana de maio. Mas a enchente voltou e impediu novamente a normalidade”, afirma Helenir Schürer, presidente do Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Rio Grande do Sul. O Lunetas detalha a situação das escolas no estado, onde mais de 100 mil estudantes não retornaram às aulas. Além de mais da metade das 2.340 unidades estarem danificadas ou servindo de abrigo, professores, funcionários e alunos seguem desabrigados. Schürer também aponta que a retomada das aulas deve “considerar como a comunidade escolar será acolhida depois de passar por situação de traumas e perdas”.