A manobra final de Arthur Lira e o maracatu nas periferias de SP
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🔸 No apagar das luzes de seu mandato como presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) deu seu golpe final: suspendeu comissões permanentes, descumpriu leis e redirecionou parte dos R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão por meio de um ofício sigiloso. Mais de 11% desse total foi direcionado para Alagoas, estado que elegeu Lira. A revista piauí detalha o que define como “cambalacho”, algo que não se fez sem aliados – o esquema contou com o apoio de 17 líderes partidários, incluindo seu provável sucessor na presidência da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE). “Toda a operação – suspensão das comissões, proibição das reuniões, remanejando das emendas – é irregular, mas não apenas isso: transforma em pó todo o esforço que o Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do ministro Flávio Dino, vem dedicando para que as emendas sejam utilizadas respeitando a Constituição e os princípios da administração pública, com um mínimo de transparência”, escreve o repórter Breno Pires.
🔸 A reforma tributária foi modificada no Senado para incluir ultraprocessados na cesta básica e retirar refrigerantes da lista de produtos sujeitos ao imposto seletivo. Quem liderou as mudanças foi o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) – dono de uma fábrica que produz bolachas, salgadinhos, refrigerantes e sucos em pó, entre outros ultraprocessados. O Joio e O Trigo explica que ele contou com apoio do líder do partido, o senador Otto Alencar (BA), que também tem interesse no tema: sua família é dona da Forte Nordeste, uma empresa distribuidora de bebidas. Alencar, aliás, recebeu uma doação de R$ 1,19 milhão da Abir e R$ 320 mil da Coca-Cola para sua disputa ao Senado em 2014, quando as empresas ainda podiam financiar campanhas eleitorais. A mudança na reforma para favorecer os ultraprocessados contou ainda com o jogo duplo do relator, o senador Eduardo Braga (MDB-AM). Se não incluiu as alterações no texto inicial, ele as defendeu assim que foram apresentadas.
🔸 O garimpo segue avançando na Amazônia. Em apenas dois meses, uma área equivalente a 462 campos de futebol foi devastada por garimpeiros dentro de unidades de conservação no bioma, de acordo com levantamento do Greenpeace Brasil. Segundo O Eco, os garimpos estão localizados sobretudo na divisa entre os estados do Pará e Amazonas, nas bacias dos rios Tapajós, Crepori, Jamanxim, Maués-Açu e Abacaxis. Para os especialistas, a região é considerada a nova fronteira do desmatamento.
🔸 A propósito: o ouro de garimpos ilegais do Pará pode estar na cadeia de produção da Amazon, da Embraer e do Google, entre outras empresas. A Polícia Federal investiga o rastro do minério e suspeita que, desde 2021, parte dele foi extraído ilegalmente de territórios indígenas e unidades de conservação. A Repórter Brasil apurou que, nos últimos quatro anos, a refinadora indiana Sovereign Metals fez diversas aquisições de ouro da Fenix Metais do Brasil, apontada como parte de esquemas de exploração e “esquentamento” de ouro. A refinadora fornece o minério para empresas como Amazon, Philips, Sony, Canon e até para a rede Starbucks, que produz máquinas de café com filamentos de ouro.
📮 Outras histórias
“Eu nunca tive a oportunidade de fazer uma faculdade, nem sequer havia entrado em uma. A UATI foi a chance que eu encontrei através de uma propaganda na TV, e lá eu me encontrei”, diz Sônia Cristina, referindo-se ao programa Universidade Aberta à Terceira Idade, iniciativa da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão. Aos 66 anos, Sônia conta que “sentia que faltava algo”: “Eu só fazia os serviços de casa, e isso não era suficiente para mim. Quando entrei na UATI, a mudança aconteceu: minha mente se renovou e meu bem-estar melhorou”. O Portal Assobiar mostra como funciona o programa que oferece cursos não regulares para a integração social e educacional de pessoas idosas. “Trabalhamos algumas disciplinas voltadas ao retorno ao mercado de trabalho e à relevância de estar ativo, até quebrando os preconceitos de que os idosos não produzem mais ou não têm capacidade de aprender", explica o professor José Milton Lopes Pinheiro.
📌 Investigação
Com histórico de trabalho análago à escravidão e dívidas, a Usina Utinga, do grupo Grupo EQM, transformou parte da cidade de Messias (AL) em escombros. Desde outubro, com uma reintegração de posse concedida pela Justiça de Alagoas a favor da empresa, centenas de famílias que vivem da agricultura familiar se veem perdendo tudo o que construíram ou plantaram ao longo da vida. Segundo a Mídia Caeté, a área sequer pertence à Usina Utinga, mas sim ao Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) – que não solicitou a reintegração. A relação da empresa com as autoridades alagoanas não é nova, tampouco transparente: ao longo da história, foi socorrida recorrentemente com recursos públicos do estado de Alagoas, chegando ao montante de R$ 1,5 bilhão.
🍂 Meio ambiente
Todos os estados da Amazônia Legal apresentaram redução do desmatamento no último ano, exceto Roraima. Este, por sua vez, registrou um aumento de 45% no desmate entre 2023 e 2024. Embora tenha reduzido, o Pará segue com a maior taxa de destruição da vegetação da Amazônia, com mais uma área desmatada de 1.271 quilômetros quadrados. A InfoAmazonia analisou os dados do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que apresenta a taxa anual de desmatamento da Amazônia Legal. Entre as áreas públicas desmatadas, as florestas não destinadas representam 38% do total.
📙 Cultura
“Maracatu não é só batuque, tem vários outros saberes ancestrais. A dança, a espiritualidade, as cantigas, as roupas, o penteado”, descreve Luciana Félix, regente do grupo Caracaxá, na Vila Guilhermina, zona leste de São Paulo. De origem pernambucana, o maracatu chegou à capital paulista entre as décadas de 1940 e 1950 com as irmãs Ibeji. É sobretudo nas periferias da cidade que a manifestação se espalhou e se consolidou. O Desenrola e Não Me Enrola resgata a história do maracatu, patrimônio cultural do país desde 2014, nos bairros periféricos de São Paulo. “Uma nação de maracatu sempre vai estar numa comunidade, independente das pessoas virem de outros bairros, o grosso é daquele território”, afirma Félix.
🎧 Podcast
Com um canal no Youtube há mais de 14 anos, o youtuber Felipe Neto viveu uma transformação de suas posições políticas, passando de ideias conservadoras para temas mais progressistas. Sua rotina na internet rendeu algumas reflexões sobre a própria vida nas redes sociais, da saúde mental à disseminação de desinformação. O “Fio da Meada”, produção da Rádio Novelo, recebe Felipe Neto para falar sobre as mudanças de comportamento diante do público, as manipulações algorítmicas e a necessidade de regulação das plataformas digitais em um ambiente marcado por discursos de ódio.
👩🏾⚕️ Saúde
“A minha vida foi devastada pelos agrotóxicos”, afirma a psicóloga Márcia Xavier, moradora da Comunidade Tomé, em Limoeiro do Norte, no Ceará. Sua primeira filha, que nasceu prematura, teve puberdade precoce, marcada pelo crescimento das mamas e por pelos pubianos, com apenas 1 ano e seis meses. O relato não é um caso isolado: diversas outras crianças da comunidade passaram a apresentar sintomas semelhantes. A cientista da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ada Pontes, descobriu, a partir da coleta de sangue e urina, que um agrotóxico banido no Brasil estava impactando as famílias da região. O Catarinas detalha como a exposição aos pesticidas altera os óvulos, provoca gestações de risco, abortos repetitivos e afeta os bebês ainda no ventre, desencadeando quadro de má formação congênita e cânceres.