Os mandantes do caso Marielle e os lares chefiados por mulheres negras
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🔸 A Polícia Federal prendeu ontem três suspeitos de mandar matar Marielle Franco, numa execução brutal que também tirou a vida do motorista Anderson Gomes, em 2018. Domingos Brazão, político de carreira e conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, seu irmão Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa tiveram a prisão decretada após serem apontados como mandantes na delação de Ronnie Lessa, executor do assassinato. A CartaCapital detalha como se deu a encomenda do crime e a motivação, de acordo com Lessa. Os irmãos Brasão começaram a arquitetar a execução da vereadora ainda no segundo semestre de 2017. Chegaram a infiltrar um homem no PSOL, partido de Marielle, para obter informações. Segundo o “espião”, ela vinha pedindo à população que não aderisse a loteamentos situados em região de milícia na zona oeste. Esta teria sido a gota d’água para o clã Brasão – que, por sua vez, ofereceu a Lessa lotes de terra naquela área como recompensa pela morte da vereadora.
🔸 “Cenário de crime pré-pago”. A execução só não aconteceu antes por determinação do delegado Rivaldo Barbosa, empossado como chefe da Polícia Civil fluminense exatamente um dia antes do crime. Ele também é considerado mentor intelectual do assassinato pela Procuradoria- Geral da República (PGR). O Jota lembra que, segundo o relatório da Polícia Federal que embasa os pedidos de prisão dos Brasão e de Rivaldo Barbosa, o trio se movimenta “até os dias atuais” para “criar obstáculos” na apuração do caso. “Nesse contexto de absurdos e excrescências, é absolutamente deplorável que estejamos diante de um cenário de crime pré-pago no Rio de Janeiro, onde os autores intelectuais avançam com a polícia judiciária a melhor forma de se cometer um homicídio, a fim de que não haja qualquer represália no decorrer de sua futura apuração”, diz o relatório.
🔸 Conhecidos por andar armados, os Brasão tinham o apelido de “Irmãos Metralha” na zona oeste do Rio de Janeiro. Quando a região era pouco ocupada, nos anos 1980, os terrenos eram tomados por grileiros e invasores de terras – caso dos Brasão. O Nexo mostra como a história dos irmãos está vinculada aos esquemas de grilagem na zona oeste que deram origem às milícias e conta como foram parar na política. Brasão, aliás, já respondeu antes por homicídio: em 1987, perseguiu e matou um vizinho que acusava um de seus irmãos de traição conjugal.
🔸 “A resolução do caso é central para nós, mas não apenas. Hoje, falamos da importância desta resposta para todo o Brasil, os eleitores de Marielle, para defensoras e defensores de direitos humanos e para a população mais vulnerabilizada desse país”, escreveram, em nota, Marinete Silva e Antonio Francisco da Silva Neto, Anielle Franco e Luyara, os pais, a irmã e a filha de Marielle Franco. A Alma Preta traz a íntegra do texto dos familiares da vereadora.
📮 Outras histórias
Em vídeo: num ponto em Pirapora (MG), o Rio São Francisco fica navegável. Lá, estão os barranqueiros, população ribeirinha que guarda conhecimentos e uma cultura própria. “Antigamente todo barco grande tinha uma carranca. Por quê? Porque a carranca antigamente era para espantar os maus espíritos”, conta o pescador Reinaldo dos Santos. A série “Saberes Ancestrais”, do Projeto Preserva, resgata a importância histórica dos barranqueiros e como essa população resiste.
📌 Investigação
O link para um site falso de ingressos para a turnê de Caetano Veloso e Maria Bethânia foi patrocinado no Google e aparecia em primeiro lugar nos resultados, acima do canal oficial de vendas. Segundo o Aos Fatos, a página golpista imitava a Ticketmaster e vendia as entradas por até R$ 520. A plataforma informava o nome de uma pessoa física como responsável pelo impulsionamento e dizia que a identidade do anunciante havia sido “verificada pelo Google”. Essa não é a primeira vez que o Google permite anúncios de sites falsos de venda de ingressos. Em junho do ano passado, o mesmo tipo de golpe foi aplicado para o show da cantora Taylor Swift.
🍂 Meio ambiente
Um decreto na Lei do Pantanal do Mato Grosso do Sul prevê mais corredores ecológicos para a conservação do bioma. “A legislação traz uma inovadora rede de corredores de biodiversidade, cuja vegetação nativa não poderá ser substituída por espécies exóticas”, diz Walfrido Tomás, doutor em Ecologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e pesquisador da Embrapa Pantanal. O Eco conta que o Mato Grosso também pretende implantar uma lei parecida, embora a política estadual vá no sentido contrário, com projetos que emperram a criação de unidades de conservação.
📙 Cultura
“A poesia tem um poder encantador. A gente vê a grande potência das batalhas de rima atualmente, e acho que a poesia também. A pessoa quando escuta uma rima se interessa por aquilo. Acho que esse poder transformador entra na cabeça das pessoas e ajuda a abrir outros pensamentos.” Mileny Leme é multiartista e uma das responsáveis pelo Slam do ABC. A Agência Mural destaca que a iniciativa tem como objetivo impulsionar o trabalho de novos poetas e artistas da Grande São Paulo. O primeiro slam reuniu mais de 50 jovens na Praça do Relógio, em Mauá, no dia 22 de fevereiro deste ano. “O slam tem essa pegada de ser uma poesia mais de resistência, mas até quando eu falo de amor pra mim é político. Consigo enxergar a política em tudo. E principalmente na poesia”, afirma.
🎧 Podcast
Em março de 1973, em uma noite de sábado, começou a circular a notícia da prisão de Alexandre Vannucchi Leme, o Minhoca, de 22 anos, que estava prestes a concluir a graduação em Geologia na Universidade de São Paulo. O “Eu Só Disse Meu Nome”, produção da NAV Reportagens, em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, narra quem foi Minhoca, levado para o Departamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) da ditadura para ser torturado, e como isso definiu os rumos do movimento estudantil e da luta pela redemocratização no Brasil.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Mais da metade das famílias chefiadas por mulheres negras está em algum nível de insegurança alimentar e a renda é o fator fundamental para isso. A partir dos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/2018, a Gênero e Número mostra que a renda média de uma família chefiada por uma mulher negra é de R$ 1.700 por mês, contra R$ 3 mil de uma chefiada por um homem branco.