A estratégia do 'Lulaverso' e os colonizados vs. colonizadores na Copa
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🔸 Ao anunciar os primeiros ministros de seu governo, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabia que tinha um flanco aberto: onde estão as mulheres e os negros? Na sexta-feira, afinal, cercado de homens brancos, ele apresentou Fernando Haddad (Fazenda), José Múcio Monteiro (Defesa), Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública), Rui Costa (Casa Civil) e Mauro Vieira (Relações Internacionais). O Notícia Preta destaca o mea culpa de Lula no anúncio: “Primeiramente vocês devem estar pensando, ou alguém já está com a pergunta preparada: ‘Lula, não tem mulheres, não tem negros?’ Vai chegar a hora em que vocês verão mais mulheres aqui do que homens. Vai chegar uma hora que vocês vão ver a participação de muitos companheiros afrodescendentes aqui de pé, como estão hoje esses companheiros”.
🔸 A primeira mulher negra da Esplanada de Lula deve ser Margareth Menezes. Ela foi convidada pelo PT para assumir o Ministério da Cultura, que será recriado após a extinção feita pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). A assessoria da cantora de axé, indicada quatro vezes ao Grammy, afirma que o convite chegou, mas a resposta ainda não está definida. A CartaCapital resgata a trajetória da baiana de 60 anos que, em 2004, fundou a Associação Fábrica Cultural, entidade sem fins lucrativos que promove projetos de educação, cultura e produção sustentável.
🔸 A equipe de comunicação do presidente eleito quer manter a estratégia de “digitalizar” o político cuja trajetória se desenvolveu sobretudo na era “analógica”. Se Bolsonaro tinha milhares de seguidores a mais do que o petista e mais engajamento nas plataformas, a diferença foi reduzida ao longo da campanha. O Metrópoles detalha o plano para aproximar cada vez mais Lula dos internautas. Agora, a meta é manter o “Lulaverso”. Sai o tom oficial de antes da campanha, entram as mensagens que parecem ter sido escritas por Lula – parecem, já que as contas dele são alimentadas por uma equipe profissional de comunicação. O deputado federal reeleito André Janones (Avante-MG), que ensinou o petista de 77 anos a falar com os internautas, é parte do grupo da transição focado nessa estratégia.
🔸 Segue a saga da Educação ainda sob o governo Bolsonaro. Além dos cortes na pasta que já deixam milhares de bolsistas sem recursos neste mês, já se antecipam os problemas de 2023. O Congresso em Foco alerta para o fato de apenas 50% dos livros didáticos previstos para o próximo ano letivo terem sido impressos até o momento. Os materiais não serão entregues na sua totalidade até o dia 1º de fevereiro, quando começam as aulas na maioria das escolas. Na melhor das hipóteses, a entrega pode ser concluída com atraso de um a dois meses, mas vale lembrar que, do orçamento previsto para o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), R$ 825 milhões ainda estão indisponíveis, em decorrência dos bloqueios do governo. Logo, há risco de não pagamento das editoras e, portanto, de suspensão da impressão dos livros.
🔸 Com o Brasil fora da Copa do Mundo, eliminado pela Croácia nos pênaltis na última sexta-feira, o foco está no Marrocos. É a primeira vez que uma seleção africana chega à semifinal de um Mundial. O feito é histórico também do ponto de vista estatístico, como destaca o Esporte News Mundo. O time, que já eliminou Portugal e Espanha, teve em média 31,2% de posse de bola, o segundo pior índice de toda a edição da Copa do Catar, ficando à frente apenas da Costa Rica.
🔸 Ainda na Copa, colonizados X colonizadores: A seleção marroquina derrotou a Espanha e agora enfrentará a França, na quarta-feira. Os países foram dois dos principais a explorar o território do Marrocos, que foi um protetorado francês até meados do século XX e só se tornou independente em 1956. A Alma Preta lembra que, neste Mundial, outros três países competiram contra seus colonizadores: o Senegal enfrentou a Holanda, a Tunísia jogou contra a França e os Estados Unidos disputaram contra a Inglaterra.
📮 Outras histórias
Não é apenas o governo federal que tem tirado recursos destinados à pesquisa. Deputados estaduais de Pernambuco aprovaram um remanejamento de R$ 90 milhões do orçamento de 2023 enviado pelo governador. Entre as 22 emendas, de autoria do deputado Coronel Alberto Feitosa (PL), está uma anulação orçamentária de R$ 8,5 milhões da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia (Facepe). O Marco Zero informa que a retirada de verba da instituição fere leis estaduais, uma vez que o estado precisa investir pelo menos 0,5% em ciências anualmente.
De crias do morro para crias do morro. Podcast em vídeo da favela da Rocinha, o Rocinhacast se tornou um fenômeno nas ruas e vielas da comunidade, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Lançado em outubro passado, o programa se orgulha de ter alcançado 500 visualizações em média em cada um dos quatro episódios realizados até agora. O Fala Roça conta a origem do podcast, apresentado por Igor Germano, 31 anos, e Ruan Honório, 29 anos. Os dois recebem convidados e conversam sobre o dia a dia na favela. “É muito bom e estranho ao mesmo tempo ver a galera na rua falando comigo e elogiando. É muito engraçado. Tem pessoas que nunca nem vi e conversei, mas vem falar sobre algum episódio”, conta Germano.
📌 Investigação
Antes de matar com sete tiros um jovem negro, policiais militares taparam as câmeras em suas fardas. Kaique de Souza Passos, 24 anos, foi morto em junho passado, no Guarujá, litoral de São Paulo. A Ponte obteve com exclusividade imagens dos agentes – os cabos Paulo Ricardo da Silva e Israel Morais Pereira de Souza e o soldado Diego Souza Luna – cobrindo o aparelho enquanto atiravam contra o jovem, que tinha uma arma de brinquedo. Viúva de Kaique, Cassiane dos Santos Reis conta que viu as imagens a partir da reportagem: “No vídeo mostra a hora que ele se rende, dá para ver ele levantando os braços. Fiquei sem entender o que aconteceu, tiraram uma vida, tiraram um sonho. Ele deixou uma filha de dois anos para trás, uma família que lutou tanto”.
🍂 Meio ambiente
“A experiência bem-sucedida do governo Lula no combate ao desmatamento é um motivo de otimismo, mas está longe de ser uma garantia de sucesso. A situação da Amazônia hoje é mais grave do que era no início do século XXI, quando o petista governou o país.” Na revista piauí, Bernardo Esteves descreve a passagem de Lula na COP27, a conferência do clima da ONU. O repórter lembra índices de desmatamento, ouve ambientalistas que apontam para pontos vagos no discurso de Lula e lembra que o cenário que aguarda o presidente eleito é “particularmente desafiador”: “O desmatamento disparou, o bolsonarismo se disseminou, e o crime organizado se enraizou na região, enquanto os órgãos ambientais foram desmontados e o Congresso Nacional ampliou a presença de forças retrógradas em questões ambientais”.
Grupos técnicos de povos indígenas no governo de transição já levantaram 11 alertas que devem ser ouvidos por Lula. Promessa feita pelo presidente eleito em abril, durante o Acampamento Terra Livre, e ao longo de sua campanha, o Ministério dos Povos Originários ou Ministério dos Povos Indígenas é uma demanda da qual as comunidades não abrem mão. Segundo a Amazônia Real, demarcação dos territórios, foco na saúde e segurança, educação específica – inclusive para indígenas desaldeados – e desmilitarização da Funai são os principais pontos destacados.
📙 Cultura
Para ensinar vivências que vão além dos livros didáticos, professores da rede pública de ensino têm levado artistas das periferias para estimularem os alunos por meio de saraus, batalhas de rima e oficinas criativas. “É importante dar uma direção para que os alunos que já escrevem ou têm planos de escrever, consigam se identificar com a nossa escrita, maneira de falar, além de ter diretamente as vivências delas e entender que podem falar e escrever sobre aquilo”, afirma a poeta Kelly Pereira, conhecida como King Abraba e integrante do Coletivo IncentivArt, grupo que participa da iniciativa, como relata o Desenrola e Não Me Enrola.
Pela primeira vez, crianças de uma escola do Parque de São Lucas, na Zona Leste de São Paulo, visitaram o Museu de Arte de São Paulo (Masp). Com idade entre 5 e 6 anos, elas passaram o ano estudando obras de arte e artistas com a professora Ester Gonçalves, na Escola Municipal de Educação Infantil Professor Antônio Rubbo Muller. A educadora decidiu levar os alunos ao museu, considerado um espaço excludente para crianças e pessoas periféricas. Em frente ao quadro “O Lavrador de Café” (1934), de Candido Portinari, Bernardo, 6 anos, afirmou: “Ele queria mostrar que os trabalhadores têm valor”. O Nós, Mulheres da Periferia narra a visita dos pequenos e reflete sobre a presença de crianças em museus.
🎧 Podcast
Os golpes online e as inteligências artificiais foram dois temas quentes em tecnologia ao longo de 2022. Na penúltima edição do ano, o “Guia Prático”, podcast do Manual do Usuário, Jacqueline Lafloufa e Rodrigo Ghedin relembram ciladas comuns na internet, como o pedido de dinheiro pelo Whatsapp ou por meio de contas clonadas no Instagram, e lembram que estar informado sobre os “golpes do momento” é uma forma de se prevenir. A dupla também discorre sobre as inteligências artificiais cada vez mais sofisticadas que produzem conteúdo a partir do nada.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
O capitalismo transformou a maternidade num checklist traumático, como define a revista AzMina. O formato de família heteronormativa que predomina hoje, com papai, mamãe e filhinho, data do século XIX, com o crescimento da burguesia. “Acontece o que chamamos de modelo do homem provedor e da mulher cuidadora”, diz a pesquisadora em relações de gênero da Universidade de Campinas (Unicamp), Glaucia Marcondes. A reportagem segue mostrando como o desenvolvimento das tecnologias deixou para trás saberes ancestrais das mulheres e os substituiu por médicos e especialistas. Os manuais de maternidade, por sua vez, completam a equação que alimenta a insegurança e a culpa nas mães.