A disputa de Lula e Bolsonaro por tempo de TV e o arroz e feijão no prato do brasileiro
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🔸 Depois de apresentar decisões que ampliariam o tempo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos comerciais na televisão, a ministra Maria Claudia Bucchianeri, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), voltou atrás e suspendeu o direito de resposta concedido ao candidato petista em 164 inserções de 30 segundos que ele teria no tempo do rival Jair Bolsonaro (PL). Nas decisões originais, Lula teria 340 comerciais a mais que o oponente, mas o atual presidente entrou com recurso para derrubar a medida. Agora, relata o Metrópoles, os advogados de Bolsonaro têm 24 horas para complementar o recurso. Os advogados do petista também têm o mesmo prazo para serem ouvidos. O Nexo explica como funcionam os direitos de resposta e, também, trata dos poderes ampliados do TSE, que, a dez dias do segundo turno, poderá diretamente fazer a remoção de conteúdos classificados pelo tribunal como falsos, descontextualizados ou ofensivos.
🔸 Salário mínimo e aposentadoria sem correção pela inflação. Trata-se do plano do ministro da Economia, Paulo Guedes, que seria apresentado ao Congresso no dia seguinte ao resultado das urnas, caso Bolsonaro seja eleito. O projeto, revelado pela Folha de S.Paulo, também prevê a desindexação dos benefícios e aposentadorias do salário mínimo, ou seja, aposentados e beneficiários poderão receber menos. Se antes de Bolsonaro o salário era corrigido pela inflação e também com base no crescimento do PIB, nos quatro anos de seu governo, houve apenas a reposição prevista em Constituição, sem qualquer aumento. A CartaCapital destaca que a medida seria uma forma de garantir dinheiro fora do teto para Bolsonaro pagar promessas de campanha que não têm recursos previstos para saírem do papel. Mais tarde ontem, Guedes negou as medidas, mas confirmou que há um plano em estudo.
🔸 O saldo do governo Bolsonaro para a liberdade de expressão: desde o início de seu governo, foram 110 denúncias de violações desse direito, segundo relatório do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. São direcionadas a jornalistas, artistas, manifestações sociais e organizações políticas que, segundo o Congresso em Foco, demonstram a escala autoritária no país. O levantamento aponta ainda que jornalistas e meios de comunicação foram as maiores vítimas de censura, com 54 denúncias ao todo.
🔸 “QI de ameba.” Foi como o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran da Silva Gallo, referiu-se a manifestantes na Câmara dos Deputados, que protestavam contra a medida do órgão que restringe a prescrição do canabidiol. A resolução do CFM, publicada na semana passada, limita o uso da substância ao tratamento de epilepsias de crianças e adolescentes refratárias a terapias convencionais. No Jota, Lígia Formenti narra o episódio na Câmara e avalia: “De olho nos desejos de grupos ultraconservadores, o CFM não levou em consideração os estudos que se somam sobre o tema, as necessidades dos pacientes, os apelos feitos pelas famílias. Mais ainda: desconsiderou que o tema está longe de ser bandeira de grupos políticos de direita ou esquerda”.
📮 Outras histórias
Quilombolas da comunidade Pedro Cubas, no Vale do Ribeira, serão indenizados em R$ 125 mil pelo estado de São Paulo. A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) veio agora, depois de mais de 10 anos com os moradores sofrendo pelas falhas de estrutura do programa “Moradias Quilombolas”, entregue em 2009. A Alma Preta apurou que a comunidade é afetada até hoje pelos problemas que envolvem transbordamento de esgoto, urina, fezes e riscos à saúde.
Homens negros, que estudaram até o ensino fundamental, com renda de até um salário mínimo ou desempregados. Este é o principal perfil das pessoas que frequentam o Restaurante Popular Jorge Amado, no Centro de Niterói, com o valor da refeição a R$ 2. Segundo os dados da Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária, o local atende pelo menos 2 mil pessoas diariamente. O A Seguir: Niterói passou um dia no restaurante e conversou com clientes e funcionários.
📌 Investigação
O arroz com feijão vai deixar de ser o prato dos brasileiros? O Joio e o Trigo explica que este é um saldo provável, caso Bolsonaro seja reeleito. Os quatro anos de seu governo foram marcados pela grande inflação dos dois itens, pelo empobrecimento da população e pelo desmonte de políticas públicas de alimentação, em prol da soja e do milho, prioridade da exportação. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) publicou neste mês a primeira projeção para a próxima safra de grãos. Como de costume, o país baterá recorde, mas o arroz e o feijão seguem perdendo espaço.
🍂 Meio ambiente
Ricardo Salles deixou o Ministério do Meio Ambiente com índices recordes de desmatamento e queimadas na Amazônia e no Pantanal. Foi, ainda assim, eleito senador – e arrecadou R$ 2,4 milhões na campanha, segundo o TSE. A Repórter Brasil conta quem foram os principais doadores numa lista encabeçada por Marcos Ermírio de Moraes, herdeiro do grupo Votorantim, e José Salim Mattar Junior, fundador da Localiza, que doaram R$ 250 mil cada um e respondem, juntos, por 20% da arrecadação.
A agenda internacional sobre meio ambiente costuma discutir a chamada Amazônia 4.0, que envolve, entre outros temas, mercado de carbono e uma “moderna bioeconomia da floresta”. “Mas como chegar ao 4.0 se não conseguimos viabilizar nem mesmo o 1.0?”, questiona Marcello Brito, em artigo na Reset. Professor associado e coordenador da Academia Global do Agronegócio da Fundação Dom Cabral, ele defende que, sem a valorização de frutas, raízes, plantas, madeiras e ativos da floresta, “permitimos que esse complexo sistema bioeconômico seja reduzido a um pequeno número de espécies, que por ora remuneram a tradicional ganância empresarial sem qualquer planejamento bioeconômico de longo prazo”.
📙 Cultura
“Aos meus olhos, e tenho escrito frequentemente sobre isso, o Haiti é uma matriz e um molde. Ele inaugura as relações Norte-Sul porque é o primeiro país deste Sul fabricado pelo Ocidente”, afirma a autora haitiana Yanick Lahens, que usa a ficção para revelar que países como o Brasil estão muito mais próximos do que imaginam de sua terra natal. A revista Quatro Cinco Um resenhou seu livro “A Cor do Amanhecer”.
Nascido em Alagoas e criado no Recife, Jonathas de Andrade é um artista propositivo que se vale de instalações, fotografias e filmes para retratar estratégias de resistência coletivas, passando por temas como colonialidade, classe, raça, relações de poder e território. Em entrevista ao Nonada, o artista comenta sua obra, que duvida do que os olhos veem: “Gosto muito de trabalhar na ambiguidade. Ser documento e ser ficção também – afinal, toda verdade é uma edição”.
🎧 Podcast
Mergulhando nos temas relacionados à saúde mental, o podcast Finitude, produção da Rádio Guarda-Chuva, chega à sua sétima temporada. No primeiro episódio, intitulado de “Como lidar com o burnout?”, os jornalistas Juliana Dantas e Renan Sukevicius conversam com a psiquiatra Gabriela Galvão para entender os sintomas, diagnóstico, tratamentos e causas da síndrome do esgotamento profissional.
✊🏽 Direitos Humanos
Com crise, inflação e desemprego, famílias de pessoas presas sofrem para conseguir mandar o jumbo, como são chamados os kits com alimentos e itens de higiene e limpeza enviados a detentos. Embora o jumbo seja importante para a ressocialização dos presos, o Estado não cumpre sua responsabilidade de oferecer o básico. A Periferia em Movimento narra a história de familiares que têm tentado não deixar faltar os itens aos parentes.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Presente em pelo menos 96,3% dos domicílios brasileiros, a televisão ainda é o meio de comunicação às massas mais acessado pela população, diferente das mensagens no WhatsApp, que, apesar de muito espalhadas pelos brasileiros, é fragmentada em “bolhas”. Pensando nisso, o Escotilha investiga como as emissoras estão combatendo, para seu público, as notícias falsas que rodam nas redes sociais.