A recuperação de Lula nas redes e o que pensam as mulheres conservadoras
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🔸 Com data de julgamento marcada, Jair Bolsonaro (PL) insiste em manter a candidatura à Presidência, apesar de estar inelegível até 2030. O ex-presidente contraria o gosto de líderes do Centrão, que tentam convencê-lo a antecipar o apoio a uma candidatura única da direita. Segundo o Jota, Bolsonaro vem repetindo a aliados que se apropriará da estratégia jurídica adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2018 – à época, embora estivesse preso, o petista registrou candidatura e manteve seu espólio político-eleitoral. O julgamento na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para 2 de setembro, deve terminar ainda em 2025. A condenação é considerada o desfecho mais provável, o que pode levar à suspensão dos direitos políticos e perda da filiação partidária. A pena definirá o regime de prisão, mas Bolsonaro só poderá ser preso após esgotar recursos.
🔸 Depois de meses de queda em 2024, Lula recuperou o bom desempenho nas redes sociais neste ano. Impulsionado pelo tarifaço promovido por Donald Trump contra o Brasil, Lula adotou o discurso de defesa da soberania nacional. Segundo a consultoria Ativaweb, entre dezembro de 2024 e agosto de 2025, o presidente ganhou 2,5 milhões de seguidores somados nas cinco principais plataformas. O Canal MyNews mostra o desempenho do petista em cada uma das redes. Os maiores crescimentos foram no TikTok (aumento de 18% do número de seguidores), que se consolidou como motor de expansão, e no Instagram (6%). No X (ex-Twitter), Lula somou mais de 500 mil seguidores. Já no Facebook, a base cresceu em 200 mil, enquanto no YouTube o aumento foi de 100 mil inscritos.
🔸 Uma semana depois de o vídeo do influenciador Felca denunciar a “adultização” de crianças na internet, conteúdos criminosos seguem circulando em plataformas como TikTok, Kwai, Meta e Telegram, revela a Lupa. Nas duas primeiras, publicações de adolescentes continuam a atrair comentários insinuantes de homens adultos. Já Facebook, Instagram e WhatsApp seguem veiculando anúncios que impulsionam bots e grupos de Telegram com conteúdo explícito de “novinhas”. A SaferNet – ONG que mantém, há mais de 20 anos, o Canal Nacional de Denúncias de Crimes e Violações a Direitos Humanos na Web – registrou 1.651 denúncias de exploração sexual infantil entre 6 e 12 de agosto, um aumento de 114% em relação a 2024.
🔸 O assassinato da líder quilombola Mãe Bernadete completa dois anos – sem julgamento. O Ministério Público denunciou cinco pessoas por envolvimento na execução da líder quilombola: três acusados aguardam júri popular, ainda sem data, enquanto outros dois seguem foragidos. A Alma Preta lembra que Mãe Bernadete foi morta dentro do Quilombo Pitanga de Palmares, área sob pressão de grileiros e do tráfico de madeira. Ela já estava sob programa federal de proteção a defensores de direitos humanos e havia denunciado ameaças pouco antes de morrer. “O Estado brasileiro é um problema. É a ele que cabe nos proteger, titular, e isso não acontece. Na contramão disso, nossos corpos são colocados para serem executados, e a impunidade corre solta. As pessoas cometem os crimes tendo a certeza de que não haverá punição”, afirma Selma Dealdina Mbaye, coordenadora do coletivo de mulheres da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas.
📮 Outras histórias
Parteira, rezadeira e liderança do povoado Resina, em Sergipe, Marília Santos sabe como poucos a história do Quilombo Brejão dos Negros. Aos 75 anos, ela se lembra de quando a luz chegou aos trabalhadores da comunidade. Também viu a luz ser retirada em seguida pelo dono da fazenda na qual trabalhavam em troca de comida. Dona Marília abre a série “Brejão, Quilombo de Reexistência”, especial da Mangue. É ela quem ajuda a contar as origens de Resina, povoado que se formou nos anos 1940 por famílias de pescadores descendentes de negros que fugiam da escravidão. A área sempre enfrentou a cobiça de fazendeiros. Em 2007, uma construtora reivindicou as terras para erguer um resort – e seguiram-se anos de violência: casas queimadas, barracos destruídos e prisões arbitrárias. Ainda assim, dona Marília e outras lideranças resistiram. Ela afirma: “O medo é do tamanho que a gente faz”.
📌 Investigação
Desmatamento e ameaças marcam o desmonte do sonho apoiado por Dorothy Stang, idealizadora do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Virola-Jatobá, em Anapu (PA). Ela própria foi assassinada em 2005 e, agora, 20 anos depois, a comunidade vive em clima de tensão. Em abril passado, Ronilson de Jesus Santos – conhecido como Lenilson ou Cara-Cortada – foi morto a tiros dentro de casa. Ele liderava famílias que ocupavam parte da floresta protegida e, em 2024, fundou uma associação para tentar legalizar a situação. Depois de recusar a proposta de um grileiro local, passou a receber ameaças. As famílias ali acampadas aguardavam uma possível visita dos técnicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) – o que não aconteceu. A Sumaúma visitou a área e, no lugar da esperança por um futuro sustentável, encontrou medo: moradores relatam crimes, intimidações e avanço de grileiros que reduzem a floresta e tensionam vidas tradicionais. A associação fundada por Lenilson tem 120 famílias cadastradas, mas a maioria já deixou o Virola-Jatobá por medo. “O PDS virou uma terra sem lei. A gente só quer voltar pra plantar. Mas lá dentro só milagre mesmo”, diz um morador.
🍂 Meio ambiente
O ICMBio barrou um projeto da Vale que pretendia abrir uma mina de ferro, uma usina e um ramal ferroviário a menos de 1 km do Parque Nacional da Serra do Gandarela, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Batizado de Apolo e com o slogan de “um novo conceito em mineração”, o projeto foi considerado incompatível com os objetivos de conservação do parque e oferecia riscos graves e irreversíveis para aquíferos, rios, biodiversidade e comunidades locais. O Conexão Planeta detalha a decisão do ICMBio e lembra que o Movimento Salve Gandarela lutava havia 16 anos contra a exploração. O grupo ressalta que o parque, essencial para a preservação hídrica e climática, pode gerar mais benefícios socioeconômicos sustentáveis do que os 780 empregos prometidos pela Vale. A empresa, por sua vez, diz que vai defender o projeto e apresentar novos estudos, o que mantém o processo de licenciamento em aberto.
📙 Cultura
“Ter informação, ser vigilante e falar” são, segundo o jornalista e pesquisador Octávio Santiago, premissas fundamentais para enfrentar o preconceito contra os nordestinos. Em seu mais recente livro, “Só Sei que Foi Assim: A Trama do Preconceito Contra o Povo do Nordeste”, ele investiga as raízes históricas, políticas e culturais que sustentam os estereótipos sobre a região. Em entrevista à Revista O Grito!, Santiago explica que, a partir de sua pesquisa de doutorado, identificou que o Nordeste foi construído no imaginário nacional como sinônimo de atraso, miséria e ignorância. “Essa caricatura do Nordeste é um produto mercadológico e a própria TV admite que, ao determinar que um personagem é nordestino numa trama, isso é assimilado pelo público como uma narrativa já conhecida”, afirma.
🎧 Podcast
O que pensam as mulheres conservadoras sobre gênero, papel do Estado, aborto e outros temas foi objeto de estudo da pesquisadora e cientista política Camila Rocha entre 2022 e 2024. A primeira pesquisa, “Feminismo em Disputa”, ouviu exclusivamente mulheres que se declararam conservadoras. Já a segunda, “Mulheres em Diálogo”, reuniu tanto conservadoras quanto progressistas. Em entrevista ao “Fio da Meada”, produção da Rádio Novelo, Camila contou que, ao perguntar se mulheres que abortaram deveriam ser criminalizadas, surpreendeu-se com as respostas: “Existe uma maioria falando que não, que isso não faz sentido nenhum”. Para ela, esse é um exemplo de que é importante abrir espaço para conversas menos polarizadas: “Ainda que a gente possa dizer: ‘Bom, mas é incompatível ser de direita e se dizer feminista’, nós, que realizamos a pesquisa, acreditamos que é muito mais importante fortalecer pontes de diálogo com essas mulheres do que disputar rótulos”.
🧑🏽⚕️Saúde
As escolhas alimentares não são meramente individuais: moldam-se por diversos contextos, como o geográfico. O local onde se adquire, prepara ou consome a comida vai além de mercados e restaurantes, abrangendo também espaços digitais, como redes sociais e aplicativos. O Joio e o Trigo explica que até o celular pode ser considerado um ambiente alimentar, com a influência constante de propagandas e recomendações algorítmicas. Especialistas em epidemiologia vêm analisando ambientes alimentares para compreender de que maneira eles influenciam as escolhas na dieta e afetam a saúde da população. Observar o que está presente ao redor tem sido uma estratégia para esclarecer a elevação nos casos de obesidade, diabetes, pressão alta e problemas cardíacos.