O discurso de Lula na ONU e o tráfico de aves do Cerrado
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🔸 “A fome, tema central da minha fala neste Parlamento mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã. O mundo está cada vez mais desigual”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no discurso de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). A fala – com ênfase na fome e na desigualdade social – remete ao primeiro discurso de Lula na ONU, em 2003. O Nexo analisa o que disse o presidente ontem e 20 anos atrás. De lá para cá, um tema que aparecia de forma vaga e ganhou destaque é a crise climática: “Ela bate às nossas portas, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimentos a nossos irmãos, sobretudo os mais pobres”, afirmou Lula.
🔸 Sobre a crise climática, o presidente errou. Ao analisar algumas das afirmações de Lula na ONU, a Agência Lupa aponta que a pauta do clima é debatida globalmente pelo menos desde 1992, quando o Rio de Janeiro sediou a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a célebre Eco-92, que reuniu 179 países. Já o Aos Fatos fez a transcrição e a checagem de todo o discurso do presidente em sua oitava participação na Assembleia Geral.
🔸 Em áudio: a atual onda de calor no Brasil serve como um lembrete diário de que nada foi feito para conter a emergência climática, um alerta feito anos atrás por cientistas de todo o mundo. Se as pesquisas mostram que o brasileiro é um dos povos mais preocupados com o ambiente e o clima, por que o país ficou tão na contramão da crise climática? Esta pergunta está entre as feitas pelo “Tempo Quente”, podcast da Rádio Novelo.
🔸 Enquanto isso, no Congresso, a ofensiva conservadora tenta emplacar pautas de costume. Ontem, houve a tentativa de votar um projeto de lei contrário ao casamento homoafetivo. Em meio a uma sessão tumultuada, a votação acabou adiada e com a previsão de uma audiência pública na próxima semana, ante a mobilização da sociedade civil. Ao Metrópoles o deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirma que a audiência marca uma derrota para os conservadores: “Eles estão enfrentando resistência. Por mais que o cenário seja ruim, uma coisa é você perder de lavada, outra é perder com o alto posicionamento da sociedade civil contra”. A base governista avalia que, mesmo se o texto for aprovado, não chegará a ser lei – pode ser, em última instância, vetado pelo presidente.
🔸 Mais um caso de censura entre veículos de imprensa. Uma decisão liminar determinou a remoção de uma reportagem sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), da Agência Pública. O texto continha novas acusações da ex-esposa do deputado federal, Jullyene Lins, sobre violência, além de outros fatos graves que teriam ocorrido em 2006 e que não foram analisados pelo Supremo Tribunal Federal. Na decisão, o desembargador reconhece que a questão de violência doméstica no Brasil é grave, mas afirma que Lira foi absolvido pelo STF. Segundo a Pública, “acusações envolvendo violência de gênero, ainda mais por tratar-se de figura pública, são notícia em qualquer país democrático do mundo, e sua publicação deve ser protegida pela garantia constitucional da liberdade de imprensa e de informação”.
📮 Outras histórias
Atleta revelação da Rocinha e campeão estadual de boxe, João Gabriel Candido Rocha tem 24 anos e está invicto nas lutas que disputou, com três vitórias consecutivas. Conhecido como Monkey, ele ganhou uma carreata até o alto do morro, na zona sul do Rio de Janeiro, depois do título estadual. “Subimos a carreata fazendo muito barulho! Teve interação dos moradores, todos que viram a luta, que estavam apoiando, foi bem divertido. A semana toda foi festa para comemorar essa vitória”, conta o lutador. O Fala Roça conta que João Gabriel Monkey é cria da Rocinha e o terceiro filho de Dona Angélica Rocha.
📌 Investigação
Doze fazendas sob suspeita de grilagem foram aceitas pelo mercado financeiro como garantia em uma operação de captação de recursos coordenada pelo Itaú, maior banco privado do país, e que tem como avalista o Banco Rabobank, um dos maiores financiadores do agronegócio do mundo. As terras pertencem ao Grupo Horita, produtora de grãos e algodão em 150 mil hectares no oeste da Bahia, e réu em ações por grilagem e desmatamento. O Joio e O Trigo e o Intercept Brasil revelam que as próprias matrículas dos imóveis aceitos pelo Itaú contêm a informação de que as terras estão sob investigação. A área também aparece no Livro Branco da Grilagem de Terras no Brasil, produzido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em 1999, com a intenção de que a União recuperasse territórios públicos ocupados irregularmente.
🍂 Meio ambiente
Com manutenção do modo de vida tradicional, brigada própria e manejo do fogo, o Território Quilombola Kalunga é um refúgio de preservação do Cerrado em Goiás. Enquanto os pastos e as monoculturas avançam aceleradas pelo resto do estado, onde resta apenas cerca de 30% do bioma, em terra Kalunga a cobertura da vegetação nativa é de 83%, segundo O Eco. “Foi uma luta de braço pelo nosso direito e pela permanência no território”, afirma Seu Sirilo Rosa, de 69 anos, liderança na comunidade Engenho II, uma das 39 que existem dentro do território dos Kalungas. Ao todo, cerca de 8 mil pessoas vivem no quilombo, certificado em 2005 pela Fundação Palmares.
Falando em Cerrado: começou a temporada de tráfico de filhotes de aves do bioma. Até o último domingo, foram encontrados 78 papagaios e cinco araras recém-nascidos com traficantes de fauna em Mato Grosso do Sul e Goiás. O Fauna News explica que setembro marca o início do período de nascimentos desses pássaros, que são alvo de coleta e transporte clandestino até dezembro. São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná recebem a maioria das aves, que costumam ser vendidas como animais de estimação.
📙 Cultura
Desde 2004, Suzi Soares e seu companheiro Binho comandam um coletivo literário que é considerado um dos primeiros movimentos culturais do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Conhecido como “Sarau do Binho” ou “Sarau da Suzi”, a iniciativa acompanha a trajetória do casal pelos territórios e, desde 2012, acontece em Taboão da Serra. Ao longo do projeto, Suzi se desenvolveu como produtora cultural, como narra o Desenrola e Não Me Enrola. “Eu via que as pessoas que frequentavam o sarau não conseguiam vender os seus trabalhos. Não conseguiam chegar nos espaços culturais e ser remunerados. Não conseguiam acessar os editais. A gente não tinha muito acesso a essas informações”, explica Suzi.
Cria da Nova Holanda, uma das 16 favelas que formam o Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, o fotógrafo e artista visual Arthur Viana está acostumado a fotografar as crianças pelas ruas da comunidade. Começou a presenteá-las com quadros. Por serem crianças, o artista sentiu falta de que pudessem usar o presente e passou a fazer pipas com os retratos. O Maré de Notícias conta que as fotografias em pipas se transformaram na exposição “Voa, Cria!”, aberta para visitação na Galeria L, na Arena Carioca Dicró, até o final de outubro.
🎧 Podcast
Primeira mulher trans do jornalismo em TV aberta no país, a jornalista Alana Rocha ao longo da adolescência percorria o município de Riachão do Jacuípe (BA) de bicicleta para se inteirar dos acontecimentos. Quando voltava para casa, as vizinhas se juntavam para ouvir as informações que ela havia apurado. No “Vida de Jornalista”, produção da Rádio Guarda-Chuva, Alana narra sua trajetória e detalha suas experiências na cobertura policial popular na televisão e na internet, além da luta pelos direitos humanos e contra a transfobia.
🧑🏽🏫 Educação
As propostas de mudanças no Ensino Médio e no Enem devem ser enviadas como projeto de lei ao Congresso ainda neste mês. É o que afirmou o ministro da Educação, Camilo Santana, durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, promovido pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). O Porvir elenca os principais tópicos abordados por Santana no evento. Um deles é que o prazo para as alterações é 2025 e existirá um foco no ensino técnico profissionalizante, além da criação de uma bolsa-estudo para garantir a permanência de jovens na escola.