As falas de Lula sobre Israel e o agrotóxico fatal para abelhas
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🔸 “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus.” A afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ontem desagradou Israel e abriu uma crise diplomática entre os países. Lula fez a declaração logo após ser questionado sobre a decisão do governo brasileiro de ser o novo doador para a Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados palestinos, mostra a CartaCapital. Ele criticou os países que suspenderam as doações: “E qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio?”. O Metrópoles informa que o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, classificou as palavras de Lula como “vergonhosas e graves” e convocou o embaixador brasileiro no país, Frederico Meyer, para uma conversa hoje.
🔸 Os fugitivos do presídio federal em Mossoró (RN) fizeram uma família refém na última sexta-feira, numa casa a três quilômetros da penitenciária. Segundo o Nexo, a operação de busca por Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento mobiliza 500 agentes de diferentes forças policiais. Os dois detentos escaparam do presídio na última quarta-feira usando uma barra de ferro da própria cela para aumentar o buraco da luminária o suficiente para passar.
🔸 Nesta semana, o Brasil deve decidir se restringe o uso de um agrotóxico fatal para abelhas. Por ser considerado uma ameaça à biodiversidade ao afetar os insetos polinizadores, o tiametoxam foi proibido na Europa e tem uso restrito no Canadá. Por aqui, a substância está em reavaliação há dez anos, explica a Repórter Brasil. Nesse período, as fabricantes do pesticida no país – a suíça Syngenta e a brasileira Ourofino – investiram em lobby, com apoio da bancada ruralista no Congresso, e submeteram estudos ao Ibama na tentativa de atestar a segurança do produto. Em 2018, com a proibição do tiametoxam na Europa, o Brasil se tornou um dos principais mercados para a Syngenta. No ano passado, o Ibama se manifestou a favor da restrição. O prazo para a decisão final, em conjunto com o Ministério da Agricultura e a Anvisa, é quinta-feira.
🔸 No Congresso, o debate sobre o combate ao trabalho escravo caminha a passos lentos. Se as estatísticas mais recentes confirmam a urgência de enfrentar o problema – em 2023, o número de resgatados foi o maior dos últimos 14 anos –, tanto na Câmara quanto no Senado, projetos de lei que pretendem ampliar as punições ou resguardar os direitos das vítimas estão engavetados. O Congresso em Foco detalha algumas das propostas e lembra que, desde 2003, os parlamentares não aprovam uma lei que endureça o combate. Entre as propostas nas gavetas, está o PL segundo o qual reduzir alguém à condição de trabalho análogo à escravidão é crime hediondo. Desde 2022, o texto aguarda a designação de um relator.
📮 Outras histórias
Coordenadas por moradores, três escolinhas de surfe na Rocinha ajudam a fazer da favela, na zona sul do Rio de Janeiro, um celeiro de surfistas e bodyboarders. Os projetos recebem 160 crianças e adolescentes para aulas gratuitas na praia de São Conrado. O Fala Roça reúne histórias dos professores fundadores e de alunos, que viajam pelo mundo para competições internacionais. É o caso de Moisés Estevan: começou a surfar com 13 anos e hoje, aos 17, já competiu na Indonésia e no México. Seu sonho agora é surfar nas ondas do Havaí. As viagens são bancadas por doações da comunidade. “Muitas pessoas que não têm condições doando 50, 80 centavos, um real, de coração. Isso me deixou muito emocionado e me motivou demais ver que a galera acredita em mim”, diz o jovem surfista.
📌 Investigação
Garimpeiros operam no rio Maú, na fronteira entre Brasil e Guiana. Se, do lado brasileiro, os indígenas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, estão vulneráveis ao garimpo ilegal, no país vizinho, a prática é liberada. O Conselho Indígena de Roraima (CIR) denuncia que os garimpeiros estariam atravessando o rio à noite para explorar na TI. A InfoAmazonia acompanhou uma ação de combate do Grupo de Proteção e Vigilância Territorial Indígena na primeira semana de janeiro. Uma balsa de garimpo foi incendiada. O grupo informou que ainda existem outras duas ancoradas. Além da invasão, as lideranças dizem que os garimpeiros estão levando bebidas alcoólicas para dentro da comunidade – situação observada também pela reportagem.
🍂 Meio ambiente
Desde 2012, Porto Velho (RO) aparece nas primeiras posições de três rankings: altos índices de conflitos com ameaças e mortes, altos índices de desmatamento e de queimadas. Sobrevivente de uma emboscada em 2012, Roberto (nome fictício) liderava cerca de 30 famílias de um assentamento entre Porto Velho e Lábrea (AM). A Agência Pública informa que o caso de Roberto é dentre outros 113 casos de ameaças de morte, tortura, intimidação ou assassinatos em conflitos rurais registrados pela Comissão Pastoral da Terra na região nos últimos 12 anos. “As famílias não tinham como enfrentar o pessoal armado, da madeira, que não abria mão da terra. Era complicado, tinha gente envolvida com madeira ilegal se infiltrando no meio também, além das ameaças”, relata Roberto.
📙 Cultura
Em áudio: sem selo ou gravadora, artistas independentes precisam contar com os próprios recursos e lutar para viver do sonho. Apesar dos desafios, eles resistem nas periferias para transformar a arte em fonte de apoio e inspiração em suas comunidades. O “Manda Notícias”, podcast do Pauta Periférica, ouve as vivências de Ingrid Sarauja e Joh Contenção, dois artistas independentes da zona sul de São Paulo. “Minha maior dificuldade é oportunidade. Enquanto editais, palcos, equipamentos públicos, contratações em casas de cultura forem igual caviar para a gente – nunca vi, nem comi, só ouço falar –, vai ser bem difícil ainda”, afirma Ingrid.
🎧 Podcast
Em cerca de 20 quilômetros, é possível entender os diferentes Rios de Janeiro. A linha de ônibus 474 (Jacaré-Copacabana) liga a zona norte, do samba e do funk, e a zona sul, da bossa nova. Ao longo das décadas de sua existência, ela tem sido um para-raios de conflitos que revelam as cisões da cidade. No “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, o pesquisador e morador de Jacaré Gabriel Weber destrincha a dinâmica socioeconômica e geográfica da 474, considerada o “cavalo de Troia da zona sul” pela burguesia carioca.
✊🏽 Direitos humanos
Moradores dos bairros Jardim Portela e São Carlos, em Itapevi, na Grande São Paulo, vivem entre os ciclos de alagamento de suas casas e o risco de desapropriação por uma obra da prefeitura que propõe a canalização de um córrego, conta a Agência Mural. “Eles falaram que iam derrubar essas residências para canalizar o rio, mas quem garante que eles vão dar uma casa para gente”, afirma Thaís Lene Aparecida de Souza, que teve a casa alagada com as chuvas da última semana. “Perdi tudo. Todo ano é a mesma coisa. Tive que dormir na casa dos vizinhos, a enchente veio e destruiu meu colchão e a casa, todo ano é a mesma coisa, e cada vez mais a enchente vem pior.”