Os lobistas do petróleo na COP28 e os robôs que fazem nudes falsos
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Já dura quatro anos a investigação sigilosa sobre a Braskem e sua responsabilidade criminal em relação à abertura de minas de exploração da sal-gema em Maceió, que resultou no desastre ambiental na capital alagoana. A Polícia Federal nem sequer informa se há previsão de conclusão, conta a Mídia Caeté. Já o Ministério Público Federal (MPF) informa que a investigação segue sob sigilo para garantir efetividade na persecução penal. O tempo de investigação e a ausência de informações aumentam o medo de impunidade para as vítimas. “Os advogados foram procurar a Polícia Federal para buscar algum acesso e também foi negado. Nós, vítimas, estamos revoltados com a morosidade e a inoperância em relação a esse caso”, afirma a coordenadora do Movimento Unificado de Vítimas da Braskem, MUVB, Neirevane Nunes.
🔸 A falta de transparência ronda todo o caso. Por omitir informações, a empresa foi autuada em mais de R$ 72 milhões pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas. A multa também se refere aos danos ambientais e ao risco de colapso e desabamento da mina 18, na região do Mutange, informa a CartaCapital. A velocidade do afundamento do solo na área continua a oscilar. Após duas altas seguidas, o ritmo voltou a cair, passando para 0,22 centímetro por hora.
🔸 O PL do Veneno virou a moeda de troca entre governo e ruralistas. Apesar de ser tido como uma vitória da bancada ruralista, o projeto de lei resulta de uma costura política liderada por membros do governo Lula. “A votação simbólica do PL realizada pelo plenário do Senado – o que só acontece quando há consenso sobre a pauta em votação – ilustra a tranquilidade com que foi decidido um tema que há cinco anos é alvo de pesadas críticas de médicos, ambientalistas e órgãos de controle do país", escreve o jornalista André Borges, na Repórter Brasil. O texto recebeu mais de 20 manifestações contrárias da comunidade científica, incluindo o Instituto Nacional do Câncer e a Fiocruz. O PL não tem mais o artigo que proíbe o registro de produtos “que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas”. Trocando em miúdos: a nova lei não veta produtos com comprovado potencial para causar câncer.
🔸 O número de lobistas do petróleo que participam da COP28 é recorde. São 2.456 pessoas, segundo levantamento da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO), formada por cerca de 450 organizações de todo o mundo. No ano passado, durante a COP27, os lobistas do petróleo eram 636, e, no ano anterior, 503. O Eco lista os principais pontos do relatório, como o fato de os lobistas do petróleo receberem mais passes para a COP28 do que todos os delegados, somados, dos dez países mais vulneráveis. O número de lobistas do petróleo é sete vezes maior do que o número oficial de representantes indígenas.
🔸 Outro recorde ruim: as emissões globais de carbono devem aumentar 1,1% em 2023, atingindo um recorde de 36,8 bilhões de toneladas de CO2. As projeções foram apresentadas na COP28 pelo Global Carbon Project. O Congresso em Foco lembra que as emissões têm como principal origem os combustíveis fósseis e conta que os países com altas mais significativas foram a Índia (8,2%) e a China (4%). Segundo o Global Carbon Project, apesar de as emissões terem caído em 26 países, o índice mundial continua a crescer.
📮 Outras histórias
Cria da Vila do Pinheiro, na Maré, Reinaldo Rodrigues não conheceu uma pista de atletismo na favela onde nasceu e cresceu, na zona norte do Rio de Janeiro. Foi a partir do projeto social “Forças no Esporte”, do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, na Penha, que migrou do futebol para o atletismo. Com o tempo e a combinação de bons resultados acadêmicos e esportivos, ele conseguiu bolsa para estudar na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, onde vive. O Maré de Notícias perfila o atleta, que estudou inglês sozinho e contou com a ajuda de amigos e vizinhos para custear a passagem. “O povo da Maré, o povo favelado, de comunidade, tem muita força e a gente tem muito talento para fazer muitas coisas, né?”, diz o jovem.
📌 Investigação
No Telegram, robôs que produzem nudes falsos, os “deep nudes”, são identificáveis com facilidade. A omissão da plataforma tem facilitado o uso da inteligência artificial para criar pornografia falsa, muitas vezes retratando crianças e adolescentes reais. O Aos Fatos identificou pelo menos 14 robôs que usam a tecnologia com essa finalidade. Algumas das ferramentas admitem até que o usuário indique a idade da pessoa da qual ela quer gerar a imagem, mesmo que ela tenha menos de 18 anos. Ao testar os dois robôs que pedem uma descrição física dos nudes que o usuário busca gerar, a reportagem informou idades entre 7 e 14 anos. Não houve qualquer impedimento para criar imagens pornográficas falsas.
🍂 Meio ambiente
Em áudio: a “transição energética”, ao contrário do que governos e empresas afirmam, não é a “bala de prata” para combater as mudanças climáticas. Embora seja necessário parar com o uso de combustíveis fósseis, as soluções apresentadas pelas grandes empresas levam a uma explosão de demanda por outros minérios, como lítio e cobalto, e causam outros impactos socioambientais. A série especial “Transição Energética: Solução Verde ou Negócio?”, do “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, explica como o debate protagonizado por corporações não contempla a realidade e a qualidade de vida das populações.
📙 Cultura
Cantora, compositora, atriz, escritora e artista visual Karina Buhr mistura diversas manifestações artísticas ao mesmo tempo e mescla diferentes influências do Nordeste, já que se divide entre sua cidade natal, Salvador (BA), e Recife (PE). Em entrevista à Marco Zero, Buhr compartilha sua trajetória, reflete sobre as vivências da arte no país e reivindica também a presença dos estilos musicais populares no acesso à financiamento. “Sempre gosto de falar, ressaltar os maracatus, os afoxés, os caboclinhos, as orquestras. Por exemplo, no caso do Carnaval, eles são as primeiras estrelas do Carnaval e, na hora que a gente vai ver, as fatias do bolo não é bem assim que funciona.”
🎧 Podcast
Mais de um milhão de brasileiros vivem em comunidades quilombolas, segundo o Censo do IBGE realizado em 2022 – que pela primeira vez reuniu dados sobre essa população. O município de Vitória da Conquista está entre os dez com maiores números absolutos do país. A série “Conquista de Quilombos”, do “Fatos & Vozes”, produção do Conquista Repórter, detalha o processo de certificação quilombola na cidade e os acontecimentos que levaram essas comunidades do país a conquistarem o direito ao autorreconhecimento e à regularização fundiária.
🧑🏽🏫 Educação
Saiu ontem o resultado da principal avaliação internacional de aprendizagem de estudantes, o Pisa. Os dados do Brasil mostram quedas nas pontuações médias de cinco pontos em Matemática e três pontos em Leitura. Já nos países desenvolvidos, a média caiu 15 pontos em Matemática, 10 pontos em Leitura e 2 pontos em Ciências. “Isso significa que o Brasil é exemplo de contenção do impacto da pandemia na educação? A resposta é complexa”, escreve Ernesto Martins Faria, em artigo no Nexo. Diretor-fundador do instituto de pesquisas Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), ele explica que, numa análise mais detalhada, vê–se que, especialmente em Matemática, os brasileiros estão cerca de três anos atrás dos países desenvolvidos. “Uma reflexão importante para nós, enquanto sociedade, é se o trabalho pedagógico das escolas públicas brasileiras não é nivelado ‘por baixo’, dadas as enormes defasagens acumuladas pelos estudantes ao longo de suas trajetórias escolares”, afirma.