Os lobistas da carne na COP28 e o aumento da tuberculose no país
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🔸 No início da tarde de ontem, a Defesa Civil anunciou o rompimento da mina 18, da Braskem, em Maceió (AL), na região da lagoa, no bairro do Mutange. “A mina está rompendo aos poucos, não chegou a ser um rompimento brusco. Agora a água está entrando nela; a gente não sabe o impacto que terá nas outras minas”, explica à Mídia Caeté o professor adjunto da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e arquiteto Dilson Ferreira. O possível colapso na região do Mutange começou a ser divulgado pela Defesa Civil no final de novembro.
🔸 Um dia depois da COP28, o governo abriu licitação para 603 blocos de exploração de petróleo e gás em diferentes partes do Brasil. A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) quer contratar concessionárias para explorar combustíveis fósseis na terra e no mar em nove bacias sedimentares, como as bacias de Pelotas, a Potiguar, a do Amazonas e a de Santos, onde está o pré-sal. O Nexo conta que a licitação ganhou o apelido de “leilão do fim do mundo”, dado o potencial de poluição dos blocos anunciados pela ANP. Caso seja bem-sucedido o processo, a produção dos blocos pode emitir mais de 1 bilhão de toneladas de carbono equivalente na atmosfera.
🔸 Falando em COP28: o Brasil foi o país que mais levou lobistas do agro para o evento. Marfrig, JBS e Minerva viajaram como delegação oficial, como revela levantamento d’O Eco a partir de dados da organização britânica DesMog. A representação brasileira de lobistas na Conferência do Clima das Nações Unidas equivale a 10,6% dos membros de grandes indústrias mundiais do agro presentes na COP 28. Dos 36 lobistas brasileiros, 34 são ligados à indústria da carne. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a produção de carne é responsável por algo entre 12% e 14,5% das emissões globais de gases estufa. No Brasil, a porcentagem é muito maior: a pecuária representa 57% do total de emissões do país.
🔸 Promessa do governo Lula para o combate à fome, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no semiárido do Piauí dá os primeiros passos só agora. Os primeiros pagamentos a agricultores familiares começaram em agosto, e três associações quilombolas, dependentes do PAA, viram uma safra de frutas apodrecer no pé devido à demora na retomada do programa. O Joio e o Trigo lembra ainda que o orçamento inicial de 2023 é insuficiente: foram R$ 2,7 milhões, ou seja, apenas 0,23% da demanda total de R$ 1,1 bilhão de propostas de agricultores familiares em todo o Brasil.
📮 Outras histórias
Flagrado pedindo propina de R$ 200 mil, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano (PSD), não é o único caso de corrupção na Casa. Ao todo, 13 deputados já responderam no passado ou ainda respondem a graves irregularidades na Justiça, como prática de rachadinha e improbidade administrativa. O Plural detalha os casos, como o de Alexandre Curi (PSD), que ocupa o segundo cargo mais importante na assembleia, como primeiro secretário. Em 2010, ele fez parte de um esquema de contratação de funcionários fantasmas na assembleia, o que levou o Ministério Público a abrir uma investigação.
📌 Investigação
“Latifundiários dos ventos”, 27 empresas brasileiras do setor eólico e 19 estrangeiras controlam pelo menos 262 mil hectares de terra no Rio Grande do Norte, o que representa 5% da área do estado. Levantamento da Repórter Brasil revela que as companhias arrendaram pelo menos 1.915 imóveis rurais em 51 municípios. A reportagem mostra ainda que boa parte das famílias das terras arrendadas são agricultores que enfrentam dificuldades para continuar suas atividades e que não veem no arrendamento da terra a renda extra que sonhavam. Organizações sociais e advogados que acompanham as famílias alegam que muitas comunidades desconheciam os detalhes dos acordos quando assinaram os contratos.
🍂 Meio ambiente
O aumento da temperatura global causa a mortalidade de recifes de coral em regiões mais quentes, o colapso de geleiras e a degradação da Amazônia. É o que aponta relatório internacional realizado por mais de 200 pesquisadores e apresentado na COP28. Segundo a Agência Bori, os cientistas avaliaram 26 pontos de não retorno no mundo, incluindo a Amazônia. Pontos de não retorno são limites que, se ultrapassados, desencadeiam uma transformação muitas vezes rápida e irreversível nos ecossistemas. Na floresta amazônica, um dos efeitos pode ser a perda de sua capacidade de autorregenerar.
📙 Cultura
Por meio de lambe-lambes aplicados nos muros, Gleyson Borges leva a arte afrocentrada para a luta contra o racismo nas ruas de Maceió (AL). “A natureza da minha arte está conectada à cidade, um organismo vivo. Meus lambe-lambes vão mudar, desaparecer, ser substituídos. Faço o melhor para que durem, mas essa é a essência dessa arte”, afirma à Revista Alagoana. O artista que assina as obras como “A Coisa Ficou Preta” também compartilha a influência do rap para a ressignificação desse ditado racista para um papel de empoderamento.
Inspirado no livro “The Young and the Banging” (2008), do DJ e designer de moda nova-iorquino Heron Preston, o também designer de moda Vitor Gonçalves iniciou o projeto “Iluminada por Deus seja a minha Zona Leste” para reunir cem artistas da região, incluindo o extremo leste e as cidades do Alto Tietê. A Agência Mural conta que Vitor pretende aproximar e evidenciar os talentos locais a partir da iniciativa. O título é uma menção a um trecho da coletânea de músicas “Todas as Quebradas”, do MC Daleste.
🎧 Podcast
“Laura, eu não vou estar vivo para te ver casar.” Esta foi a frase que Laura de Leers ouviu do seu pai que já estava com quase 80 anos. Com a saúde debilitada e diversas comorbidades para a Covid-19, doença que contraiu, ele já estava perto da morte. Ver a filha casar era um sonho, mesmo que ela não se importasse muito com casamento. O “Rádio Novelo Apresenta”, produção da Rádio Novelo, narra como Laura organizou seu próprio casamento falso para que seu pai pudesse vê-la casar antes de morrer.
👨🏾⚕️ Saúde
Em 2021, cinco mil brasileiros morreram de tuberculose, uma taxa de 2,38 mortes por 100 mil habitantes. Tanto a taxa quanto o número absoluto são os maiores da década, segundo o Ministério da Saúde. Trata-se de um cenário comum pós-pandemia em diversos países. Estima-se que 7,5 milhões de novos casos tenham sido registrados em todo o mundo no ano passado, o maior número da série histórica da Organização Mundial da Saúde (OMS), iniciada em 1995. A revista piauí destaca que, no Brasil, o principal grupo de risco da tuberculose são homens negros, com idades entre 20 e 34 anos, pobres e moradores de periferias, como aponta relatório dos ministérios da Saúde e da Igualdade Racial publicado há cerca de um mês.