O lixo na cidade sede da Cúpula da Amazônia e o racismo nas escolas de SP
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🔸 Às vésperas da Cúpula da Amazônia, o governo anunciou nos últimos dias uma série de medidas para o bioma. Os anúncios foram feitos nos Diálogos Amazônicos, encontro que reuniu autoridades e representantes da sociedade civil, povos indígenas, quilombolas e pequenos agricultores. O Eco detalha, por exemplo, a criação de um IPCC da Amazônia, nos moldes do que é hoje o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. A iniciativa deve consolidar evidências científicas sobre clima e biodiversidade na floresta tropical. No pacote de medidas, também está a retomada do Bolsa Verde, um programa de auxílio financeiro a famílias extrativistas e tradicionais para manutenção da floresta em pé.
🔸 Com sede em Belém (PA), a Cúpula da Amazônia reunirá a partir de amanhã nove países inseridos no bioma: Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e França (Guiana Francesa). Será a primeira grande conferência internacional sediada no Brasil durante o novo governo Lula. Representa uma “oportunidade significativa de construção de consensos para adoção de uma posição unificada sobre as prioridades da região no escopo de marcos globais”, escrevem Viviana Porto, Flávia do Amaral Vieira e Maiara Folly, pesquisadores da Plataforma Cipó, em ensaio no Nexo. Para eles, a Cúpula “poderá reposicionar o Brasil e seus vizinhos amazônicos no mundo como atores comprometidos com a proteção do planeta e de seus povos”.
🔸 Palco da cúpula e sede da COP30 (a Conferência do Clima da ONU) em 2025, a capital paraense não sabe o destino de seu próprio lixo, hoje despejado no aterro de Marituba, na região metropolitana. O local está condenado ao fechamento pela Justiça pela emissão de gases tóxicos, revela o Projeto Colabora. Medições no município indicaram concentrações de gás sulfídrico acima dos níveis relatados pela empresa que administra o aterro, acompanhado também de metano. “É problema respiratório, é falta de ar, é dor de cabeça, é coceira pelo corpo. O cheiro de chorume é muito forte”, conta Edilson Alves, morador de Marituba. Segundo pesquisadores, a emissão dos gases tóxicos, além de contribuir para o efeito estufa e o aquecimento global, representa uma ameaça direta à saúde da população.
🔸 Nas redes sociais, o julgamento da descriminalização do porte de drogas no Supremo Tribunal Federal (STF) gerou uma onda de desinformação. Posts fazem crer que os magistrados estariam votando para legalizar o tráfico de drogas. O Aos Fatos explica que o tráfico não está em julgamento no STF e continua proibido. Trechos do voto do ministro Alexandre de Moraes também circularam nas redes. Algumas postagens usam um vídeo do magistrado cortando pés de maconha no Paraguai em 2016, quando era ministro da Justiça do governo de Michel Temer (MDB), para sugerir a falta de coerência em seu voto. Em 2017, porém, Moraes já havia afirmado que considerava necessário diferenciar usuários de drogas de traficantes.
🔸 Em áudio: o julgamento foi adiado na semana passada, mas deve ser retomado em poucas semanas, segundo o ministro Gilmar Mendes, que pediu prazo para revisar seu voto. A pauta é importante para a presidente da Corte, Rosa Weber, que tem aposentadoria prevista para o fim de setembro. O “Sem Precedentes”, podcast do Jota, analisa os temas prioritários da Corte no segundo semestre. Weber também deve pautar até outubro o processo em que é discutido o fim do crime de aborto.
📮 Outras histórias
A Câmara Municipal de Porto Alegre sediou um encontro antivacina, que teve ainda transmissão pela TV Câmara. Organizado pela vereadora bolsonarista Fernanda Barth (PL), o evento reuniu sete profissionais de saúde estrangeiros que deram depoimentos sobre como medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19, como a ivermectina. Os convidados atribuíram à vacina abortos, mortes e sequelas que não têm evidências científicas. Ao Matinal, porém, Barth negou que o evento tenha sido antivacina e defendeu o seminário como uma “defesa da autonomia médica”. Já a Câmara afirmou que os vereadores têm cotas para o uso do espaço legislativo e que a responsabilidade do encontro foi inteiramente da parlamentar.
📌 Investigação
“Já sofri uma série de retaliações, desde sequestro de páginas até divulgarem meu telefone na internet.” Wesley Silvestre é ativista ambiental e líder comunitário na região do Jardim Apurá, na zona sul de São Paulo, e atua há 14 anos para proteger o meio ambiente. Sua história é uma das várias que comunicadores e ativistas periféricos sofrem no meio digital. A Agência Mural revela como esse grupo tem seus trabalhos e vidas afetadas por cibercriminosos. Um levantamento realizado em parceria com a ONG Artigo 19 ouviu 82 jornalistas, comunicadores e influenciadores. Mais da metade afirmou ter recebido ameaças ou intimidações na internet, e 46% dos entrevistados relataram que já sofreram tentativas de invasão em perfis nas redes sociais.
🍂 Meio ambiente
São três anos desde o “Dia do Fogo”, quando fazendeiros e empresários se articularam para queimar áreas da Amazônia, entre os dias 10 e 11 de agosto de 2019. A InfoAmazonia analisa que, em três dos dez municípios que mais queimaram – São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso, todos no Pará –, 61% da área queimada foi transformada em pastagens para criação de gado. Em todos os estados da Amazônia Legal, foram mais de 11,5 mil km² de floresta incendiados pela ação criminosa. Desses, cerca de 6 mil km² (52,3%) viraram pasto; outros 46,6% deram lugar apenas a uma floresta degradada. Os valores chamam a atenção de pesquisadores. “Até agora, as imagens nos mostram que boa parte das áreas de floresta foram queimadas ‘por queimar’, sem necessariamente ter uso na sequência, mesmo que de maneira ilegal”, explica Felipe Martenexen, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Base da vida dos indígenas em Oiapoque (AP), ponto mais ao Norte do Brasil, o cultivo de mandioca está ameaçado por uma infestação de fungos e, possivelmente, por uma bactéria desde o início do ano. Isso ocorre em parte das 66 aldeias ocupadas pelos cerca de 10 mil indígenas dos quatro povos nas terras indígenas Uaçá, Juminã e Galibi. A Agência Pública explica que a proliferação de pragas pode estar relacionada à mudança do clima e à alteração no sistema de chuvas. A mandioca é a planta mais importante para os indígenas da região, que a utilizam para produzir a farinha, principal fonte de alimentação e renda para as famílias, além de estar ligada também a rituais tradicionais.
📙 Cultura
“Mantivemos a decisão de fazer o filme sobre a vida do Môa, e não sobre a morte”, afirma o documentarista paulista Gustavo McNair, que dirige o longa “Môa: Raiz Afro Mãe”, que narra a história de Romualdo Rosário da Costa, o Mestre Môa do Katendê (1954-2018). O Headline destaca que a produção inclui entrevistas de Gilberto Gil, da cantora Fabiana Cozza e do artista e carnavalesco Alberto Pitta, além de personalidades do candomblé e da capoeira, e celebra o legado de Môa para a cultura afro-brasileira. O filme já está em cartaz em cinemas de Aracaju, Fortaleza, Palmas, Florianópolis, Porto Alegre, Rio Branco, Rio de Janeiro e Salvador.
Moradora da Nova Holanda, uma das 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, dona Leda Camillo, de 65 anos, ganhou um filme sobre sua vida. Depois de ser homenageada pela filha Kamila Camillo na exposição fotográfica “Faveladas”, sua trajetória como mãe, avó e bisavó mareense está registrada no documentário “Leda”. O Maré de Notícias conta que o longa foi gravado em maio de 2017, a partir do aniversário da matriarca. Ao longo da gravação, que durou uma semana, alguns acontecimentos marcaram a obra: dois dias foram sem água, ocorreram duas operações policiais e a histórica Marcha Contra a Violência na Maré.
🎧 Podcast
Com a abertura de estradas em estados do Nordeste, quilombolas e indígenas reivindicam o direito de consulta prévia aos órgãos responsáveis, como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), diante dos impactos socioambientais causados pelos empreendimentos para seus modos de vida e seus territórios. A primeira reportagem da série “Rodovias do Pará, Maranhão e Piauí: impactos socioambientais para comunidades quilombolas e indígena”, do podcast “E-coar”, produção da Coar, conversa com os povos afetados no Maranhão.
🧑🏽🏫 Educação
Casos de racismo em escolas municipais de São Paulo no primeiro semestre de 2023 já superam o ano todo de 2022. No ano passado, foram 19 registros, enquanto até 27 de junho deste ano já foram 36 relatos, de acordo com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Segundo a Periferia em Movimento, não há uma ação coordenada para lidar com o problema, já que não existe um protocolo padrão. Atualmente, cada uma das 3.792 unidades educacionais têm autonomia para lidar com as denúncias. Em março, o Coletivo Antonieta de Barros divulgou uma carta direcionada ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) com uma série de reivindicações de combate ao racismo na educação, como a criação de comitês antirracistas nas escolas.