Uma lista da elite contra domésticas e o TDAH nas redes sociais
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🔸 O governo pode reverter as derrotas sofridas no Congresso na semana passada? Seja por decreto ou levando os questionamentos ao Supremo Tribunal Federal, é possível reformar as decisões tomadas pelos parlamentares, como explicam especialistas à Agência Pública. Mas não sem um custo político. Depois de ter a MP da Esplanada dos Ministérios reformulada na Câmara, pastas como o Meio Ambiente e os Povos Indígenas foram esvaziadas. “Houve um desvio de objeto, seu propósito foi diametralmente adulterado. É um tipo de boicote”, avalia o ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto. Ele lembra que a Constituição reserva ao presidente o poder de definir, por decreto, como vai organizar a administração federal. Lula também poderia vetar a MP reformulada, mas, de novo, seria um desgaste político. E o prazo não está favorável: se o texto não for aprovado até esta quinta-feira (1º), o governo será obrigado a retomar a estrutura de ministério da gestão anterior, de Jair Bolsonaro (PL).
🔸 A CPI do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra entra em sua segunda semana. Sob comando de parlamentares de oposição, a comissão tem o plano de trabalho traçado pelo relator, o deputado Ricardo Salles (PP-SP), que inclui identificar organizadores e financiadores do MST. O potencial é de mais desgaste para o governo, com a tentativa de criminalização do movimento. Ao Nexo cientistas políticos discorrem sobre o foco das investigações e o objetivo da oposição. “A CPI do MST vem numa estratégia bolsonarista de sucesso, que é criar um escândalo maior como fachada [para o 8 de janeiro]. (...) Muita gente não entende a atuação do MST. Vai trazer essa confusão de análise do cidadão. Não é uma disputa tão fácil. O MST é o calcanhar de Aquiles do governo federal”, afirma Maiane Bittencourt, doutoranda em ciência política na Universidade Federal do Paraná.
🔸 Falando em CPI… A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os atos golpistas solicitou 48 pedidos de quebras de sigilo em menos de 48 horas. A CartaCapital informa que a lista inclui desde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, até George Washington de Oliveira Sousa, um dos envolvidos na tentativa de explodir um caminhão de combustível em Brasília. Os pedidos partiram principalmente de partidos que compõem a base do governo.
🔸 “Problemas com ronco”, “comilona”, “gordinha”, “dupla personalidade” e “mentirosa”. Assim mulheres de elite descrevem suas ex-funcionárias numa “lista suja” de empregadas domésticas que circula em condomínios de luxo em São Paulo. As patroas fazem acusações de roubo e passagens pela polícia, sem, no entanto, apresentar provas. A Repórter Brasil teve acesso ao conteúdo das mensagens e áudios que também difamam babás e cuidadoras de idosos em grupos de WhatsApp. Para as trabalhadoras, o impacto é terrível. Joana (nome fictício) conta que ficou meses desempregada: “Todas as entrevistas que eu fazia, três, quatro por semana, eram bem produtivas, as patroas davam confiança, se comprometiam [com a contratação] e diziam que gostavam do meu trabalho”. Mas, em seguida, vinha o silêncio. O Sindicato das Empregadas Domésticas do Município de São Paulo está coletando provas para acionar empregadores na Justiça.
🔸 De janeiro a abril, os policiais de São Paulo mataram uma pessoa por dia. Ao todo, nos primeiros quatro meses da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), foram 151 vítimas do Estado. O aumento é de 8,6% em comparação ao mesmo período do ano passado. A Ponte conversa com Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz. Para ele, os números confirmam que o governo estadual não vê como prioridade a redução da letalidade policial: “O que nos parece é que o debate das câmeras e da letalidade acabou perdendo espaço para os crimes patrimoniais no centro da cidade de São Paulo”.
🔸 Belém (PA) será sede da Conferência do Clima em 2025, a COP-30. Será a primeira vez que o Brasil sedia o evento da Organização das Nações Unidas (ONU), informa O Eco. “Aumenta a nossa responsabilidade de mostrar que o Brasil está preparado, e acima de tudo a responsabilidade da agenda ambiental, conciliando os amazônidas de nossa região, e claro, o respeito ao meio ambiente”, afirma o governador do Pará, Helder Barbalho.
📮 Outras histórias
Ainda em recuperação das fortes chuvas que atingiram Recife e na Região Metropolitana no ano passado, coletivos e organizações não-governamentais já se preparam para o período chuvoso no estado (entre maio e julho). Em 2022, mais de 120 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas, mas, de lá para cá, pouca coisa mudou. Lideranças de coletivos relatam ao Marco Zero a falta engajamento do poder público e das gestões municipais e estaduais nos projetos de mitigação dos impactos das chuvas. “Chegamos a solicitar a limpeza de canaletas e das margens do rio, e não foi feito. Nós, moradores, é que estamos fazendo um mutirão de limpeza dos rios”, disse Joice Paixão, do GRIS Solidário.
📌 Investigação
Com megaoperação na região norte do Amazonas, garimpeiros escondem equipamentos. Vídeos que circulam entre grupos de WhatsApp mostram dragas em chamas. Nos últimos dias, foram pelo menos 29 delas próximas à fronteira com a Colômbia. A ação, denominada Operação Ágata - Comando Conjunto Uiara, envolve as Forças Armadas, Ibama e Funai, além de outros órgãos, e se concentra nos rios Juami e Puruê. Estima-se que haja 150 dragas ao longo do Puruê e outras 150 no Juami. Em parceria com os veículos “La Liga Contra el Silencio” (Colômbia) e “Armando.Info” (Venezuela), a InfoAmazonia esteve no local em fevereiro deste ano e chegou a encontrar mais de 80 dragas ao percorrer 226 dos 394 quilômetros do Puruê, entre o rio Japurá e a comunidade de Purezinho. A reportagem mostra que a interrupção da exploração altera imediatamente a cor do rio.
🍂 Meio ambiente
A agroecologia garante benefícios econômicos aos agricultores familiares, segundo dados de pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Feito a partir das experiências de 70 famílias de agricultores familiares do Ceará, o estudo analisou aspectos quantitativos e qualitativos nos territórios do Sertão de Crateús e Sertão de Sobral. A Eco Nordeste detalha que houve um aumento da renda das propriedades que vêm adotando práticas agroecológicas há mais tempo quando comparadas com aquelas que estão no início do processo ou ainda praticam agricultura de forma tradicional. A transição agroecológica acontece gradualmente por meio da mudança dos manejos no sistema de produção, adotando princípios e tecnologias de base ecológica, como não utilizar insumos químicos.
Entendendo a conexão entre o ambiente e a espiritualidade, o babalorixá Luciano de Oxum é uma das lideranças religiosas em busca de criar espaços de preservação ambiental nas periferias. Morador do Jardim Cabuçu, em Guarulhos, na Grande São Paulo, ele comanda um terreiro que tem 1.400 metros quadrados de vegetação, e a área verde é cultuada pelos próprios moradores e membros do candomblé. Mais de oito famílias são beneficiadas pelos frutos, ervas e outras vegetações cultivadas, que são utilizados tanto na alimentação como em oferendas para os orixás. “Apesar de nunca ter recebido apoio da Prefeitura de Guarulhos ou do Ibama, o local continua preservado graças ao nosso axé e ajuda da comunidade”, afirma à Agência Mural.
📙 Cultura
“Para gente que veio da classe baixa é muito difícil ter a oportunidade de desenvolver dons.” A afirmação é de Giselle Gomes Souza, conhecida como Nega Gizza. Rapper, locutora, apresentadora, produtora cultural e uma das fundadoras da Central Única das Favelas (Cufa), Nega Gizza não pretende voltar aos palcos, mas sua voz ainda é seu meio de sustento e de militância. Em entrevista ao Nós, Mulheres da Periferia, a artista e ativista conta que foi a partir do ritmo musical que se interessou em ler sobre a origem do povo negro brasileiro, a escravização e as favelas. “O rap trouxe um encaixe para o momento que eu estava passando na vida social, que era uma vida desgastante e sem acolhimento da sociedade”, diz.
Cinquenta anos se passaram desde que Paulinho da Viola lançou a canção “Roendo As Unhas”, mas o efeito perturbador da obra que marcou o auge da ditadura ainda persiste. Em festival realizado no Parque do Ibirapuera neste mês, Kiko Dinucci e Juçara Marçal receberam Arnaldo Antunes, Giovani Cidreira, Jadsa, Linn da Quebrada e Tulipa Ruiz para reler músicas lançadas no ano de 1973, e a de Paulinho foi uma delas. Dinucci sintetiza como esse é um samba que perpassa o tempo: “Se eu andar à noite hoje, 2023, pelo Centro de São Paulo, que está horroroso, ‘Roendo As Unhas’ será a trilha sonora perfeita. É uma música urbana, neurótica, noiada, ansiosa, dos seres que vagam pela noite”. A revista piauí narra a história da canção capaz de desassossegar e conta como nasceu nos dedilhados de Paulinho.
🎧 Podcast
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) nas redes sociais. Startups vêm arrecadando milhões de investimentos para facilitar a vida de pessoas com o diagnóstico, e coaches oferecem dicas e mentorias para quem tem um laudo. O TikTok, porém, está recheado de vídeos enganosos sobre o tema. O “Ciência Suja”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha no crescimento de diagnósticos (e autodiagnósticos) de transtornos psiquiátricos e o aumento na prescrição de remédios ligados a eles. O episódio reúne casos reais e trata de patologização de comportamentos, conflitos de interesse, desvios do método científico e erros na prática clínica.
🧑🏽🏫 Educação
Deficiência auditiva e visual e autismo são algumas das necessidades incluídas na Educação Especial, que tem suas matrículas divididas entre inclusivas e exclusivas. No Nordeste, 97,3% desses estudantes da rede pública estão incluídos em salas de aulas sem distinção, para o desenvolvimento em conjunto e auxílio profissional específico. A Agência Tatu compila os dados por estado e mostra que Rio Grande do Norte, Alagoas e Bahia contam com todas as suas matrículas especiais em salas inclusivas – são mais de 34 mil estudantes nos três estados. Especialistas da área explicam que é necessário cada vez mais capacitação de profissionais para lidar com as demandas de cada criança.