A letalidade policial em SP e o racismo algorítmico com crianças
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Alagados há quase um mês, moradores da zona norte de Porto Alegre organizaram protestos ontem e bloquearam trechos da rodovia BR-116 e ruas da capital gaúcha. Em muitos pontos da região, o nível da água segue acima de 1 metro e só é possível transitar com embarcações. A prefeitura, porém, não tem previsão para retomar o funcionamento das casas de bombas daquela área. Um pedido de impeachment do prefeito Sebastião Melo (MDB) deve ser votado hoje. A Matinal News, produção do Matinal, reúne informações atualizadas sobre o desastre climático que o Rio Grande do Sul enfrenta há quase um mês.
🔸 Dezesseis das 27 capitais do Brasil não têm plano de adaptação às mudanças climáticas – uma ferramenta que indica o que fazer diante da perspectiva de tempestades, ondas de calor e secas severas, para evitar danos materiais e prevenir mortes. A Agência Pública conversa com especialistas sobre a importância dos planos, mostra a dificuldade das prefeituras em implementá-los (quando existem) e lembra que, no país todo, mais de 172 mil pessoas estão em áreas de alto risco de inundação, alagamento, erosão e deslizamento. Sede da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, Belém é uma das capitais que ainda não tem planejamento. Em cidades como Maceió, embora não exista um plano, a prefeitura afirma ter medidas para enfrentar períodos chuvosos.
🔸 A propósito: em Manaus, o plano contra a seca, prevê a instalação de 14 estações meteorológicas e a perfuração de poços artesianos em 15 comunidades ribeirinhas mais isoladas na zona rural da capital. O Amazonas Atual detalha o que consta no documento, batizado de Plancon (Plano de Contingência), que tem 89 páginas. Os poços feitos anteriormente, por exemplo, secaram e, agora, terão profundidade maior – vão passar de 40 metros para 120 metros. O plano também inclui abrigos provisórios, coleta e distribuição de suprimentos, de alimentos a kits de higiene para os afetados pela seca.
🔸 Sergipe, por sua vez, previu baixo investimento para responder às mudanças climáticas na Lei Orçamentária de 2024. De um total de R$ 3,9 bilhões previstos para este ano, apenas R$ 250 mil foram direcionados para o enfrentamento das mudanças climáticas e R$ 100 mil para o monitoramento do clima, informa a Mangue Jornalismo. A professora do departamento de biologia da UFS Myrna Landim destaca que o crescimento desordenado de Aracaju reforça o problema dos alagamentos. “As áreas de preservação permanentes têm sido desrespeitadas, apesar de serem fundamentais para a sociedade. É necessário que o poder público seja efetivamente responsável pela gestão da ocupação do meio ambiente”, afirma.
🔸 A polícia de São Paulo matou uma a cada cinco pessoas assassinadas nos primeiros quatro meses deste ano. O número de mortes provocadas por policiais em serviço aumentou 101% neste quadrimestre com relação ao mesmo período do ano passado. Os dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) contabilizam ao todo 880 vítimas de janeiro a abril, das quais 263 foram vitimadas por agentes públicos. A Ponte destaca que a Operação Verão, na Baixada Santista, alavancou os números, com 56 mortes. Com o fim da operação anunciado no início de abril, os índices caíram significativamente.
📮 Outras histórias
O “Ronaldinho” das quebradas. Danilo Rodrigues ganhou apelido de craque e tem feito história em times de bairros periféricos da zona Norte de São Paulo – sim, em vários times. De 8h às 16h num gramado sintético (e quente) da Favela do Pipa, ele joga pelo Criciúma F.C., do Jardim Brasil; Rua 1 F.F., do Jardim Julieta; e Hemp F.O.F., do Parque Edu Chaves. A Periferia em Movimento lembra que o atleta de 24 anos, hoje goleiro, começou como lateral esquerdo na escolinha de futebol do Bahia de Feira, em Serra Talhada (PE), sua cidade natal. Chegou a fazer testes para o times, e, aos 12 anos, mudou-se com a mãe para São Paulo. Na capital, precisou desistir do futebol profissional e arranjou emprego com transporte de cargas, função que cumpre de segunda a sexta. O futebol de várzea entra em qualquer brecha na puxada rotina de “Ronaldinho”.
📌 Investigação
Desde outubro de 2022, está em vigor a norma da Anvisa para a rotulagem nutricional de alimentos, em que o alto teor de açúcar adicionado, sódio e gorduras saturadas precisa estar informado na parte da frente da embalagem. As regras, no entanto, não valem para bebidas alcoólicas, cuja tabela nutricional é voluntária. O Joio e O Trigo destrincha como o setor ainda passa quase ileso a diversas normas em nível mundial. “Quando a gente tem uma advertência, a gente tem coisas como o ‘beba com moderação’, que ainda é no imperativo, incentivando a pessoa a beber. E não como no cigarro, em que o maço expressa o ‘Ministério da Saúde adverte’, ou como a lupa dos ultraprocessados”, explica Laura Cury, coordenadora do projeto Álcool da ACT Promoção e Saúde.
🍂 Meio ambiente
O desmatamento e o aumento de áreas agrícolas, especialmente para o cultivo de soja, na região da bacia do Gurupi, entre o Pará e o Maranhão, podem ter custado R$ 10 bilhões em serviços ecossistêmicos em 36 anos, segundo artigo publicado na revista científica “Ambiente & Sociedade” por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará (UFPA). Segundo a Agência Bori, os cientistas cruzaram os dados da mudança de uso da terra e a valoração dos serviços ecossistêmicos com uma base mundial de dados que mapeia a economia dos ecossistemas e da biodiversidade. Um dos efeitos do avanço da soja na região também é o risco à segurança alimentar local, já que plantios para a alimentação humana dependem da polinização.
📙 Cultura
Fundado em 1974, em meio à ditadura, o Grupo Vivencial completou 50 anos, na última semana, marcados por uma produção teatral rebelde e transgressora. Quando foi criado o grupo reunia jovens da Associação dos Rapazes Mocas do Amparo, ligada à Arquidiocese de Olinda e Recife, e usava o teatro como meio de reflexão, dando sobrevida à cultura em Pernambuco diante da opressão política. Na revista O Grito!, o jornalista e pesquisador Alexandre Figueirôa destaca a faceta provocadora do Vivencial com “intersecções entre tropicalismo, chanchada e cultura de massa” e lembra da importância de comemorar sua existência. “Os traços da revolução cultural que o grupo provocou estão presentes até hoje não apenas nos registros em filmes, livros, trabalhos acadêmicos, mas na nova mentalidade que brotou em quem testemunhou a efervescência e inquietação da trajetória do grupo e a replicou”, escreve.
🎧 Podcast
A desinformação sobre a tragédia no Rio Grande do Sul está sobretudo ligada ao negacionismo climático e a notícias falsas contra o governo Lula, acentuando a polarização política e o discurso de ódio. As Cunhãs recebem a jornalista e professora Fabiana Moraes e o supervisor do Laboratório de Inovação, Inteligência e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), Tiago Dias, para abordar a máquina de desinformação que persiste no país.
👩🏽💻 Tecnologia
As crianças também são afetadas pelo racismo algorítmico. Com o apoio de inteligência artificial, uma ação da Disney Pixar possibilitou que as pessoas se tornassem personagens de desenhos animados. Mas, quando influenciadores negros utilizaram a ferramenta, a imagem gerada era sempre de uma pessoa branca. O Lunetas ouviu especialistas que defendem a necessidade da educação antirracista para o público infantil lidar com tecnologias emergentes. Para uma criança que está começando a explorar as plataformas digitais, muitas dessas “escolhas” podem ter impacto na autoestima, ao ver seus traços embranquecidos nos filtros de fotos ou o fato de sua cor nunca estar contemplada nas tendências da internet.