Os jovens no mapa da violência do Rio e o tráfico no rio Amazonas
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🔸 A cada quatro dias, uma criança ou adolescente é baleado no Grande Rio. Desde julho de 2016, foram vítimas de tiros ao todo 601 pessoas de até 17 anos, das quais 267 morreram, de acordo com o mapa “Futuro Exterminado”, do Instituto Fogo Cruzado. Com dados sobre faixa etária, gênero e circunstância em que foram baleadas as vítimas, o levantamento mostra que o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, foi a localidade com mais casos mapeados. Operações policiais são os principais vetores de morte da juventude fluminense nos últimos sete anos, resultando em 112 mortes. “Uma política de segurança focada no confronto não protege nossos jovens”, aponta a plataforma.
🔸 “Falar de letalidade policial é sempre atual. Nunca estamos falando do passado.” A advogada criminalista Carmen Felippe acaba de lançar o livro “Letalidade Policial e Seletividade Penal: Reflexões Produzidas por Corpos Matáveis”, baseado em dez histórias de violência contra corpos negros no Rio de Janeiro. À Ponte ela descreve como a lógica do estado fluminense está sendo transferida para São Paulo a partir de decisões do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Existe a aceitação para que isso aconteça. Primeiro você atira, você vilipendia certo corpo, toma decisão e depois você vê se é racional ou não. Se não for racional está tudo bem, porque o policial, na maioria dos casos, não vai ser punido por aquilo”, afirma.
🔸 Já as polícias militares estão em busca de mais liberdade para agir. As chacinas na Baixada Santista (SP), em diversos municípios na Bahia e no Complexo da Penha (RJ), entre o final de julho e o início de agosto, expõem o quebra-cabeça da política de segurança pública no país. Em artigo na revista piauí, Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que “certos segmentos das polícias militares estão explicitando que ou as PM são apoiadas nos seus projetos de insulamento e autonomização ou elas podem inviabilizar governos”.
🔸 Vinte um ataques transfóbicos por minuto. Cada vez que as deputadas federais Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG) se manifestam na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, elas são alvo de violência. Levantamento da Agência Lupa mostra que foram identificados 1.170 comentários transfóbicos feitos por 596 perfis durante as transmissões de cinco sessões da comissão nos chats no YouTube da Câmara dos Deputados e do Senado.
🔸 Depois de o cerco se fechar contra aliados de Jair Bolsonaro (PL), ele próprio optou por ficar em silêncio. Nas redes sociais, o ex-presidente falou sobre o Dia dos Pais, mas não comentou a operação da Polícia Federal (PF) deflagrada na sexta-feira para apurar um suposto esquema de desvio das joias recebidas da Arábia Saudita. A investigação indica que as peças foram colocadas à venda em um site de leilões online nos Estados Unidos, conta o Metrópoles. Mensagens obtidas pela PF mostram que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também contatou lojas em Miami e em Nova York para tentar vender as joias. A operação agora deve apurar se o dinheiro foi repassado ao ex-presidente.
📮 Outras histórias
A Parada de Luta LGBTQIA+ do Oeste Catarinense, que acontece em Chapecó (SC), chegou à sexta edição neste ano e já alcança parte do estado do Rio Grande do Sul e do Paraná. Em entrevista ao Portal Catarinas, o presidente da União Nacional LGBT no município, Gerson Junior Naibo, narra como a organização tem se articulado para conquistar posições de poder para a defesa de políticas públicas da comunidade LGBTQIA+. “É através de pessoas como nós ocupando os espaços de poder que a gente vai construir realmente uma democracia plural e representativa”, diz.
📌 Investigação
O título de “chefe do tráfico local” parece ostensivo, mas é ilusório. Na tríplice fronteira de Peru, Brasil e Colômbia, os “patrones” e as suas mãos assalariadas são, na verdade, o elo mais pobre da cadeia do narcotráfico e ganham uma fração muito pequena em comparação ao valor final das substâncias vendidas. Na província peruana de Mariscal Ramón Castilla, a produção de coca e, em seguida, de cocaína continua aumentando. O local atualmente é controlado pelo grupo Os Crias, formado por dissidentes das organizações criminosas Comando Vermelho (CV), da Família do Norte (FdN) e do Primeiro Comando da Capital (PCC). A InfoAmazonia destrincha o cenário do transporte de drogas ilícitas ao longo do rio Amazonas e a situação dos produtores da coca – os narcotraficantes mais pobres.
🍂 Meio ambiente
No novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo na semana passada, boa parte dos recursos está concentrada na área de Transição e Segurança Energética, atrás apenas dos investimentos em Cidades Sustentáveis e Resilientes. Dentro do setor de energia, 62% da verba será direcionada a projetos de petróleo e gás. O Reset detalha quais os planos de exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas pela gestão Lula e explica ainda qual investimento será designado a outras frentes de energia.
A propósito: como aposta no setor de energia renovável, a Universidade de São Paulo (USP) ganhará o primeiro posto do mundo para abastecimento com hidrogênio derivado de etanol. A iniciativa é uma parceria entre Shell, Hytron, Raízen, SENAI CETIQT e a USP, que fará do Brasil a sede da primeira estação experimental a adotar a produção do biocombustível. Segundo a epbr, o posto produzirá 4,5 kg de hidrogênio por hora, e a previsão para o início da operação é no segundo semestre de 2024.
📙 Cultura
“Não há floresta que se mantenha em pé, quando toda a sociedade que existe nela não é ouvida, não é ‘convidada’ a participar de maneira ativa do debate”, afirma Lívia Condurú, produtora cultural e diretora executiva da Bienal das Amazônias. O Nonada lista oito dos 121 artistas e coletivos presentes na mostra, aberta até novembro em Belém (PA). As produções abrangem todos os países amazônicos e os nove estados da Amazônia Legal brasileira, trazendo a pluralidade de perspectivas e possibilidades do território.
As vivências de 16 mulheres negras e indígenas de diferentes cooperativas de reciclagem se entrelaçam no livro “Das Mãos que Pariram, Reciclam e Transformam”, organizado por Marli de Fátima Aguiar, Taynara Carvalho e Thuane Marques. Na Periferia em Movimento, o artista Rafael Cristiano resenha a obra e a descreve a partir do termo “escrevivência”, cunhado pela escritora Conceição Evaristo: “O livro se aproxima desse conceito com muita assertividade. A fala de mulheres cooperativadas revela a individualidade de cada uma, mas lendo as 16 histórias é perceptível o êxito em desenhar uma coletividade apagada pela sociedade e marginalizada”, escreve.
🎧 Podcast
A indústria de ultraprocessados tenta controlar todos os passos do consumidor, manipula dos ingredientes dos produtos até o discurso nas propagandas para seduzir quem compra. Tudo em nome do lucro. No episódio “Ultraprocessados, uma Relação Tóxica”, o “Prato Cheio”, produção do Joio e o Trigo, debate como as discussões sobre padrões alimentares ainda são recentes. João Peres, roteirista e narrador do programa, explica como a preocupação sobre calorias ingeridas tem sido, aos poucos, substituída pela análise de qualidade dos alimentos, definindo as categorias de produtos processados e ultraprocessados dentro das tabelas nutricionais.
🧑🏽🏫 Educação
A criação de um Clube de Leitura Preta foi a solução encontrada numa escola pública de Jequié, na Bahia, para debater o racismo em sala de aula. “O letramento racial deveria ser ensinado nas escolas ainda no ensino infantil, pois é só através desse conhecimento que teremos consciência para lidar com os problemas estruturais que atravessam nossa sociedade”, conta a professora Jessika de Oliveira à Revista Afirmativa. O principal objetivo da iniciativa é combater o racismo e a evasão escolar. Para isso, o grupo estuda obras de escritores negros brasileiros e estrangeiros.