A investigação de Carlos Bolsonaro e a violência contra pessoas trans
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🔸 Alvo de operação da Polícia Federal (PF) ontem, Carlos Bolsonaro (Republicanos) é apontado como membro do “núcleo político” de espionagem ilegal feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A CartaCapital explica o que motivou a ação da PF: numa mensagem ao atual deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), diretor da Abin entre 2019 e 2022, uma assessora de Carlos Bolsonaro pede informações sobre investigações contra Jair Bolsonaro e seus familiares. Na decisão em que autorizou a operação, o ministro Alexandre de Moraes afirma que “a organização criminosa instalada na Abin também se valeu de métodos ilegais para a realização de ações clandestinas direcionadas contra pessoas ideologicamente qualificadas como opositoras”. Segundo o Congresso em Foco, a “Abin paralela” teve seu auge no período das eleições municipais de 2020: das mais de 60 mil consultas feitas ao sistema de monitoramento First Mile, 30 mil aconteceram no período eleitoral.
🔸 A PF apreendeu o celular de Carlos Bolsonaro e três computadores que estavam na casa de praia de seu pai, na região de Angra dos Reis (RJ). Pouco antes de a operação ser deflagrada, o ex-presidente e seus filhos, que estavam na casa de veraneio, deixaram a residência pelo mar, como apurou o Metrópoles. O clã, por sua vez, alega ter saído para pescar por volta de 5h – mas fontes da PF informaram que pai e filhos souberam da operação e, às 6h30, quando as viaturas já estavam próximas, partiram em um barco e um jet ski.
🔸 No Brasil, uma pessoa trans é assassinada a cada três dias. Segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2023, ao menos 145 pessoas trans foram vítimas de homicídio no país. O número representa um aumento de cerca de 10% em relação a 2022. A Agência Pública detalha os dados e mostra que a maioria das vítimas são mulheres trans, com menos de 35 anos. Os crimes frequentemente envolvem violência excessiva e crueldade. E, se São Paulo é o estado que mais registrou assassinatos de pessoas trans em 2023, no Rio de Janeiro e no Paraná, os casos dobraram de um ano para o outro.
🔸 Em gráficos: mais de 70% das pessoas trans assassinadas em 2023 eram negras e 94% eram travestis e mulheres trans. A Gênero e Número mostra o perfil das vítimas e destaca que, “para debater políticas públicas capazes de reverter o cenário, é preciso tornar esses dados visíveis também”. O levantamento anual da Antra é crucial diante da subnotificação em registros governamentais e evidencia a insuficiência de políticas públicas de proteção à população trans.
🔸 A violência policial também cresceu em 2023. Referência em dados sobre o assunto, o Instituto Fogo Cruzado lançou ontem o relatório anual referente às regiões metropolitanas de Rio de Janeiro, Recife e Salvador. Na Bahia, foram 48 chacinas, quase uma por semana em 2023. Em Pernambuco, 113 pessoas foram mortas em chacinas. No Rio, foram em média duas por mês. No Instagram, Cecília Olliveira, fundadora do instituto, mostra os destaques do relatório e afirma: “A política de segurança no Brasil continua sendo o confronto, ainda que isso há décadas não dê resultado. Continuamos enxugando gelo e colocando toda a população em risco”.
📮 Outras histórias
“Sem cordas e cordões, sem exigências de abadás e camisetas, cada um veste sua fantasia do jeito que quiser e brinca do jeito que desejar.” Assim é a Banda do Siri, nas palavras de Fábio Lima, um dos fundadores do tradicional bloco de carnaval de Natal. Fundada há 36 anos, a banda começou pequena (tinha entre 10 e 15 músicos), mas logo na estreia, em 1988, reuniu uma multidão nos quatro dias de festa. A Saiba Mais resgata a história do bloco, um dos primeiros a ter bonecos gigantes na folia em Natal. Neste ano, um novo boneco sairá às ruas, representando Hélio Rocha, um dos fundadores da banda, que morreu em 2020.
📌 Investigação
Premiação concedida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o Selo Mais Integridade busca coroar boas práticas no setor do agronegócio. As ganhadoras do selo, porém, apresentam um histórico de violações de direitos socioambientais, revela a Repórter Brasil. É o caso da Agrícola Xingu, com denúncias de desmatamento ilegal de vegetação nativa e expansão irregular pelo oeste da Bahia. A Marfrig, a Bunge e a Amaggi também são denunciadas por más práticas trabalhistas e ambientais. A última tem entre seus sócios o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, que assinou o decreto criador do prêmio.
🍂 Meio ambiente
Uma das maiores unidades de conservação de uso sustentável do mundo, a Floresta Estadual (Flota) do Paru, no oeste do Pará, teve um salto de 628 garimpeiros, em 2009, para mais de 2 mil, em 2023, em mais de cem frentes de atividade ilegal. A InfoAmazonia detalha que os garimpeiros criaram uma associação de extrativistas de fachada para influenciar o governo. Na base da Agência Nacional de Mineração, há 753 pedidos para exploração de diversos tipos de minérios. A área abriga árvores gigantes da Amazônia, incluindo um exemplar de angelim-vermelho com idade entre 400 e 600 anos, que é a maior árvore da América Latina.
📙 Cultura
“O contato com a escrita e leitura pode provocar uma interpretação alternativa do mundo, distante da repetibilidade do regime de encarceramento.” A pesquisadora Luciana Vinhas estuda assuntos relacionados às mulheres em privação de liberdade desde 2011 e, em 2019, implementou um projeto de remição de pena pela leitura, no Presídio Regional de Pelotas (RS). No especial “Cárcere e Literatura”, o Nós, Mulheres da Periferia reúne os perfis de três autoras que passaram pelo cárcere e transformaram essa experiência em uma expressão poética e cultural.
🎧 Podcast
“O tempo nos ensinou que não havia identidade, e sim identidades, porque a nossa identidade é um caleidoscópio, é uma pluralidade, e isso é que é bonito”, afirma o músico Eliakin Rufino, que, ao lado de Neuber Uchôa e Zeca Preto, forma o Trio Roraimeira. No primeiro episódio da série “Pensando a Amazônia pela Música”, do “LatitudeCast”, produção da Amazônia Latitude, Rufino e Uchôa compartilham a formação do Movimento Roraimeira, que busca construir uma cena única – e ao mesmo tempo diversa – na cultura de Roraima.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Em vídeo: entre feminismos socialistas, negros, interseccionais e transfeminismos, todas as vertentes do movimento feminista têm em comum a luta pelo fim das opressões de gênero. O primeiro vídeo do projeto “A internet como campo de disputas pela igualdade de gênero”, produção do Portal Catarinas em parceria com o Laboratório de Estudos de Gênero e História, da Universidade Federal de Santa Catarina (LEGH-UFSC), traz a trajetória histórica das “ondas feministas”, as datas mais significativas e algumas das principais reivindicações desses movimentos.