A intoxicação com metanol em SP e o 'fenômeno arquibancada' entre meninas
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🔸 Subiu para cinco o número de mortes por intoxicação com metanol em São Paulo. A substância estava em bebidas alcoólicas adulteradas. O Metrópoles informa que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou a criação de um gabinete de crise, com ações como interdição de estabelecimentos suspeitos, canais de denúncia e reforço da rede de saúde. Até agora, foram registrados 22 casos: cinco confirmados e 17 investigados. O secretário da Saúde, Eleuses Paiva, destacou que os hospitais já dispõem do antídoto contra metanol e recomendou buscar atendimento imediato em casos de sintomas como dor abdominal, náusea e vômito. O Ministério da Justiça alertou para risco de surto epidêmico, já que o consumo ocorreu em ambientes sociais, diferentemente de episódios anteriores. Na tarde de ontem, um bar foi fechado pela Polícia Civil. Localizado na região dos Jardins, bairro nobre da capital, o estabelecimento apresentou indícios de venda de bebidas alcoólicas contaminadas com metanol.
🔸 A propósito: os casos de contaminação por álcool adulterado não são novidade. Em 1999, foram registradas 35 mortes por cachaça adulterada na Bahia. Há ainda o caso da cerveja Belorizontina, em Minas Gerais, em 2020, que deixou dez mortos e quase 20 pessoas com sequelas graves. A CartaCapital explica como funciona a adulteração. “Há alguma garantia quando falamos de empresas grandes. Já as adegas podem comprar de fornecedores variados. As bebidas destiladas muitas vezes não têm distribuidores específicos; elas são distribuídas por intermediários, e aí todo mundo acaba vendendo de tudo. E é esse o risco”, afirma o consultor de marketing Adalberto Viviani, com mais de 20 anos de experiência no mercado de bebidas. A cadeia clandestina envolve fábricas que misturam produtos em tonéis muitas vezes contaminados por metanol e operadores que compram garrafas em lixões para dar legitimidade à bebida.
🔸 “Semana de combate à síndrome pós-aborto” é o mote de projetos de lei de partidos como PL, União Brasil e MDB em diferentes cidades do Brasil. Os textos preveem as mesmas ações de conscientização sobre o adoecimento psicológico que seria causado pela interrupção da gravidez, revela a Agência Pública, que localizou propostas quase idênticas em Maceió (AL), Recife (PE), São Paulo (SP), Lages (SC) e Manacapuru (AM). As propostas não têm respaldo científico: a síndrome não é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nem pela Associação Brasileira de Psiquiatria. O Ministério da Saúde também informou não existir CID para essa condição. Os textos repetem o mesmo conteúdo: distribuição de materiais sobre riscos do aborto, palestras e a criação do “Dia nacional pelo direito à vida” em 8 de outubro. Em Maceió, a semana de conscientização da síndrome pós-aborto virou lei em março de 2024, com autoria do vereador católico conservador Leonardo Dias (PL). “A direita conservadora tem tentado passar projetos de lei para constranger ou coibir mulheres de utilizarem o direito ao aborto legal, que é previsto desde 1940, no caso de estupro, se a gravidez oferecer risco ou quando o feto tem anencefalia”, afirma a vereadora de Recife, Cida Pedrosa (PCdoB).
🔸 No Sul do país, mulheres enfrentam tantas barreiras ao aborto legal que algumas buscam acolhimento na Argentina. Vítima de stealthing (remoção proposital do preservativo sem consentimento), Leila (nome fictício) tem 31 anos e mora em Santa Maria (RS). Decidida a interromper a gravidez, ela procurou ajuda na cidade. Em março de 2025, decisão liminar do TJ-SP obrigou serviço estadual a realizar aborto legal em vítimas de stealthing. Mas Leila não conseguiu atendimento e cogitou cruzar a fronteira em busca de cuidados na Argentina. Como parte do projeto “Aborto e Democracia”, da Artigo 19 e AzMina, o Portal Catarinas mostra que a história de Leila ilustra a importância de articulações em rede para que o acesso ao aborto legal seja, de fato, garantido no Brasil. Ela só conseguiu o procedimento após apoio do Projeto Vivas.
📮 Outras histórias
Huellita tem pelo menos 19 anos e é considerada a jaguatirica mais velha do mundo em ambiente natural. O H2Foz conta que ela foi vista na Reserva de Vida Silvestre Urugua-í, parte do ecossistema do Parque Nacional Iguaçu. Huellita passeava no lado argentino da fronteira quando foi registrada por pesquisadores e biólogos da Fundação Vida Silvestre Argentina e do projeto Yaguareté. A identificação foi possível graças ao padrão de sua pelagem – felinos como a jaguatirica possuem padrões únicos, que diferenciam cada indivíduo. Segundo a bióloga Paula Cruz, os pesquisadores acompanharam 213 jaguatiricas a partir de 1.381 registros fotográficos. O trabalho revelou que, nas áreas de baixo impacto humano, a população permaneceu estável nos últimos 14 anos. Apesar disso, a espécie é considerada vulnerável na Argentina, devido à fragmentação dos habitats e à pressão humana.
📌 Investigação
Distribuído na rede pública de saúde na Argentina para garantir o aborto seguro, o Cytotec – nome comercial do misoprostol – tem um destino diferente no Brasil. O medicamento é altamente regulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e só pode ser encontrado legalmente em estabelecimentos hospitalares cadastrados. O uso abortivo do misoprostol foi descoberto pelas próprias brasileiras no fim dos anos 1980 e atualmente são elas que precisam ir ao mercado clandestino para consegui-lo. Na Argentina, embora sua venda não fosse livre quando o aborto era criminalizado, era possível encontrar misoprostol nas farmácias. A Gênero e Número mergulha no papel do remédio para o aborto seguro e como ele assumiu caminhos distintos nos dois países sul americanos.
🍂 Meio ambiente
A inteligência artificial pode ser usada para detectar incêndios na Amazônia e complementar os sistemas já utilizados no monitoramento de queimadas para oferecer respostas mais rápidas e detalhadas às autoridades ambientais. É o que mostra um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que aplicaram redes neurais convolucionais (CNN), uma técnica de inteligência artificial, para fazer a detecção do fogo em 2023 e 2024. A pesquisa foi publicada na revista científica “International Journal of Remote Sensing”. Segundo a Revista Cenarium, a metodologia pode ser expandida para outros biomas brasileiros. Os dados gerados podem apoiar órgãos públicos e instituições ambientais na tomada de decisões mais rápidas para conter queimadas e reduzir danos à biodiversidade. “Embora o artigo mostre resultados sobre a Amazônia, pode ser usado não só para outros biomas brasileiros, como para qualquer lugar do planeta. As características de incêndios florestais aprendidas pelo modelo a partir das imagens, sempre serão as mesmas, independentemente de onde seja a imagem”, explica a pesquisadora Cintia Eleuterio Mendes, uma das autoras do estudo.
📙 Cultura
Considerada pela revista americana “Rolling Stone” como uma das dez músicas brasileiras mais marcantes do século 21, “Só Os Loucos Sabem”, da banda Charlie Brown Jr., foi escrita a partir de duas experiências de Alexandre Abrão, o Chorão. A primeira aconteceu em Araraquara (SP), quando uma fã entregou ao cantor um folheto em homenagem ao irmão, que havia morrido aos 20 anos. O episódio fez com que ele refletisse sobre o medo de falhar. A segunda foi após a conversão de seu amigo Glauco Veloso ao evangelho. O artista viu uma transformação de temperamento e uma serenidade inédita no comportamento de Glauco, o que fez com que fosse a um culto. A experiência religiosa levou Chorão à conclusão da letra da música. O Juicy Santos destrincha as histórias por trás de uma das canções mais conhecidas e reverenciadas da banda santista.
🎧 Podcast
“Que tipo de poesia sobreviverá ao assédio da tecnologia?”, questiona o poeta, tradutor, compositor e dramaturgo Geraldo Carneiro, imortal da Academia Brasileira de Letras. No “Diálogos com a Inteligência”, produção do Canal Meio, ele fala sobre o papel da poesia como forma de estar no mundo e os desafios dessa arte diante das mudanças tecnológicas, sobretudo o impacto da inteligência artificial na criação artística. “Tem poetas interessantes nos dias de hoje que se alimentam fundamentalmente de uma espécie de desconexão lógica no trato com as palavras, e a inteligência artificial talvez saiba reproduzir isso bem. Não sei por quais caminhos a poesia há de se enveredar para se livrar desse jogo tecnológico.”
🏃🏾♀️ Esporte
Com as transformações da adolescência, meninas passam pelo “fenômeno arquibancada”, em que deixam de participar das aulas de educação física por desconforto relacionados a pressões sobre o corpo e a competitividade e se isolam nas arquibancadas. Em sua pesquisa de mestrado, a professora Carolina Mezzetti acompanhou duas turmas de ensino médio e constatou que o afastamento das alunas na educação física acontece por fatores como pedagogia centrada em esportes competitivos, falta de materiais e espaços adequados e medo de bullying. “A questão comportamental foi o diferencial porque passa pela vergonha do corpo, o receio de suar, o medo de errar e a insegurança diante dos colegas”, afirma. O Lunetas traz novas formas de trabalhar a disciplina para evitar o isolamento feminino, por meio da diversificação das atividades, como dança, brincadeiras, alongamentos e ginástica.