O inquérito contra institutos de pesquisa e o que move os votos no Nordeste
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🔸 Queda de braço na investigação dos institutos de pesquisa. Ontem, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinou a abertura de um inquérito contra Ipec, Datafolha e Ipespe, principais institutos de pesquisas eleitorais do país, para averiguar a “suposta conduta coordenada ou colusiva e também de efeitos unilaterais por parte dos institutos”. À noite, porém, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, suspendeu o inquérito. Segundo o Metrópoles, o magistrado disse que o Cade não tem competência legal para a investigação e acrescentou que a medida “parece demonstrar a intenção de satisfazer a vontade eleitoral manifestada pelo chefe do Executivo e candidato à reeleição”. O Nexo lembra que o presidente do Cade, Alexandre Cordeiro, foi indicado ao comando do órgão pelo presidente Jair Bolsonaro, e explica ainda por que o cerco aos institutos de pesquisa mina a democracia.
🔸 “Pânico moral.” Na avaliação da Irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante, foi apenas o que Damares Alves criou com as falas sobre a exploração sexual de crianças no Marajó, no Pará. Referência no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes marajoaras, Cavalcante mostra, em entrevista à Agência Pública em parceira com o Universa, indignação com as afirmações da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, recém-eleita senadora. Damares Alves afirmou que sabia (e tinha provas) de estupros de recém-nascidos e até de crianças do Marajó que tiveram os dentes arrancados para serem vendidas para exploração sexual. “É uma fala totalmente desconectada com a da defesa dos direitos humanos. Ela mais uma vez se equivoca de maneira irresponsável”, afirma Cavalcante.
🔸 Na sequência, o recuo… Cobrada pelo Ministério Público Federal a prestar esclarecimentos sobre os supostos crimes no Marajó, já que nunca formalizou uma denúncia, Damares Alves voltou atrás. Segundo o Antagonista, agora a ex-ministra diz que os relatos de violência sexual foram “ouvidos nas ruas, na fronteira”.
🔸 “A verdade é que a esquerda sudestina e sulista trata a eleição no Nordeste do mesmo jeito que a direita. Ficam nessa de ‘Nordeste sabe votar’, mas cadê ouvir os/as cientistas políticos daqui pra começar a entender pq o bolsonarismo não se cria?” O tuíte da psicóloga sergipana Tatianne Santos Dantas foi combustível para o Marco Zero ouvir cientistas sociais e políticos e historiadores de universidades do Nordeste sobre o que moveu os votos do nordestino nas eleições. A reportagem lista ainda seis razões que levaram o eleitorado a escolher Lula, que saiu vitorioso no primeiro turno em nove estados da região.
🔸 “A socióloga Rosângela Silva, uma paranaense de 56 anos, duas décadas mais jovem que Lula, é uma estrela ascendente no PT e comporta-se assim mesmo: é espontânea, falante, sobe no palco, debocha, canta, faz as vezes de chefe da produção, da segurança, do palco, e se envolve com tudo que gira em torno de Lula – tudo mesmo.” Depois de quatro meses no encalço de Janja, a companheira do petista, a repórter Thais Bilenky descreve na revista piauí a personalidade que roubou a cena nos comícios do candidato.
📮 Outras histórias
Desempregado aos 24 anos, Bubbacarr Dukureh, imigrante do Gâmbia, passou a correr à noite para “aliviar a cabeça”. Em setembro passado, Buba, como era conhecido pelos amigos no Brasil, corria no bairro dos Jardins, região rica da Zona Sul de São Paulo, quando foi abordado e morto por policiais militares. Segundo os agentes, ele teria reagido à abordagem com uma faca. Sua companheira, Fernanda Almeida, afirma que, de fato, ele carregava uma faca na mochila, comprada a pedido dela. “Eu não sei qual era o estado psicológico dele no momento que a polícia parou ele, mas não justifica atirar nele”, diz a viúva. Além da faca, Buba carregava também duas cópias de seu currículo. Segundo a Ponte, depois de um mês da morte, Fernanda ainda não teve acesso aos documentos da investigação.
“É a água que não chega ou que chega em má qualidade e em pouca quantidade. É a casa alagando e desabando. É o esgoto a céu aberto. A falta de energia. É o lixo nos becos e nas vielas, é o ar, alimento e solo contaminado. É o despejo de famílias e destruição dos barracos sob a acusação de ilegalidade.” Estas são algumas das definições dadas pela pesquisadora Ana Sanches Baptista para o termo “racismo ambiental”. O Desenrola e Não Me Enrola ouve a especialista e explica como os problemas ambientais são mais sentidos por quem vive nas periferias, por negros, indígenas e populações tradicionais.
📌 Investigação
Com João Dornellas na presidência do Conselho de Segurança Alimentar de São Paulo (Consea-SP), as políticas de combate à fome estagnaram no estado. O problema, como aponta O Joio e O Trigo, está em um conflito de interesses: Dornellas também preside a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) e chegou a defender os alimentos ultraprocessados. A reportagem detalha a composição do conselho e explica como a indicação feita pelo governador do estado atrapalha a participação popular efetiva.
📋 Checagem
Lula usou um boné com a sigla CPX durante ato no Complexo do Alemão, favela na Zona Norte do Rio de Janeiro. Logo, passou a circular nas redes um post afirmando que o boné era um sinal de apoio a organizações criminosas do Rio. A informação é falsa, como confirmou checagem da Lupa. A sigla CPX é usada para se referir aos complexos de favelas existentes na capital carioca. As letras, inclusive, são usadas por órgãos públicos, como a Polícia Militar.
“Nenhum padre ou bispo deve dizer onde posso ou não fazer campanha.” A frase, apresentada como um tuíte, foi falsamente atribuída a Bolsonaro, que visitou nesta semana o Santuário Nacional, em Aparecida (SP), onde foi alvo de vaias e aplausos. O Aos Fatos mostra que a imagem do tuíte é uma montagem e afirma que a própria equipe do candidato do PL desmentiu a informação.
🍂 Meio ambiente
Às vésperas da COP27, no Egito, as negociações sobre redução nas emissões de carbono e sua agilidade podem ser travadas por países da União Europeia, voltando atrás em alguns cortes devido à Guerra na Ucrânia. Especialista em política climática do Observatório do Clima, Stela Herschmann afirma ao Reset que o tema trará conflitos entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, mas precisa ser resolvido ainda neste ano.
Por falar em emergência climática… A Antártica, juntamente com o Ártico, influencia os oceanos e o clima do planeta. O Projeto Colabora traz uma informação alarmante: foram encontrados microplásticos no continente antártico, que, além de gerar danos à saúde humana, afeta todo o ecossistema aquático, por exemplo. Pesquisadores explicam que a presença dessas partículas no ar tem o potencial de influenciar o clima, acelerando o derretimento da neve e do gelo.
📙 Cultura
A Bolshoi é uma das maiores escolas de dança do mundo e aprovou sete crianças de diferentes comunidades do Rio de Janeiro, duas delas do projeto ViDançar, que atua na região do Complexo do Alemão. O Voz das Comunidades explica que a oportunidade é para que elas estudem em Joinville, em Santa Catarina, com bolsa integral do curso, que oferece, além das aulas, assistência médica e alimentação.
“Mestres e mestras guardam diversos saberes que não estão escritos em nenhum lugar, formas de lidar com o mundo, jeitos de ver e de organizar o próprio conhecimento, isso se vai com as pessoas.” A cultura popular, como cirandas e folias, perdem parte de sua história com a morte de mestres pela Covid-19 nos últimos dois anos. O Nonada retrata esse cenário de perdas e de falta de políticas de incentivo para que as tradições continuem.
🎧 Podcast
Uma das principais honrarias do jornalismo brasileiro, o Prêmio Vladimir Herzog anunciou ontem seus vencedores. Na categoria produção jornalística em áudio, saiu vitorioso o episódio “O que os Olhos Não Veem”, do podcast “Até que se Prove o Contrário”, produção da Agência Pública e que faz parte da Rádio Guarda-Chuva. A partir das histórias de inocentes que foram encarcerados, o episódio expõe os problemas estruturais da injustiça no Brasil, em grande parte, atrelada ao racismo, e revela como o reconhecimento no processo de prisão é falho, ligado a falsas memórias e estereótipos.
Na mesma categoria do prêmio Herzog, a menção honrosa foi entregue ao podcast “Não Sou Mais o Pedro”, da Rádio Escafandro com produção da Rádio Guarda-Chuva. No primeiro episódio, sobre eletroconvulsoterapia, o roteiro parte da história de Pedro que, aos 25 anos, fez um tratamento para depressão com a técnica popularmente conhecida como eletrochoque, e vive ainda hoje os efeitos colaterais, como danos à memória. O episódio então mergulha na história da eletroconvulsoterapia e debate saúde mental à luz dos avanços e retrocessos da reforma psiquiátrica no Brasil.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“Nunca me senti tão sozinha em toda a minha vida.” No Brasil, cerca de 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama são abandonadas por seus companheiros, revelam dados da Sociedade Brasileira de Mastologia. Para mulheres negras, a realidade é ainda pior: a possibilidade de morrerem é quatro vezes maior do que entre brancas. O Alma Preta explica que isso se deve à dificuldade do acesso à saúde, o que também pode agravar a doença a ponto de ser necessário retirar as mamas – algo com frequência descrito como estopim de agressões pelos parceiros.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
O mercado da arte e o mercado dos produtos fabricados industrialmente têm sua maior diferença na “unicidade”. O fato de ser única faz o valor de uma obra escalar e, por isso, a autenticidade é a peça fundamental das especulações – o que ganhou novos ares com a existência dos NFTs. O Le Monde Diplomatique Brasil detalha esses conceitos e mergulha na mistura do mercado artístico com o mundo cripto.