A inflação climática nos alimentos e um acervo inundado em Recife
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🔸 A cesta básica ficou mais cara em 13 capitais, chegando a 60% do salário mínimo em São Paulo. É o que aponta levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Diante do preço alto de frutas e alimentos frescos, cresce o consumo de ultraprocessados e imitações, como o “café fake”, que substitui o grão por misturas com aromatizantes. No especial “Inflação Climática”, o Colabora explora o impacto do problema na qualidade do que se come. Segundo especialistas, as mudanças climáticas reduzem os teores de ferro, zinco, cálcio e magnésio em alimentos essenciais, como mandioca e grãos, afetando ainda mais populações vulneráveis. Além disso, o consumo de ultraprocessados, que já está ligado a 57 mil mortes prematuras em 2019, continua em alta. Os fabricantes desses produtos, aliás, receberam isenções fiscais de R$ 15 bilhões na última década, enquanto políticas públicas para garantir uma alimentação saudável seguem limitadas.
🔸 A propósito: o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) voltou à pauta do governo em meio às medidas para tentar responder à alta dos preços dos alimentos. Com 22 milhões de beneficiários, o PAT é um dos maiores programas de alimentação do Brasil. O Joio e O Trigo explica que Ministério da Fazenda, supermercados e até o iFood querem mudar as regras do programa, mas a qualidade da alimentação não é o centro da preocupação. O debate central tem sido a portabilidade do vale-alimentação (VA) e vale-refeição (VR), algo que permitiria aos trabalhadores a escolha de sua operadora, o que hoje é definido pelos empregadores. Supermercados defendem a medida para reduzir taxas cobradas pelas operadoras dos vales, enquanto as empresas do setor, representadas pela Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador, rejeitam a mudança.
🔸 Em tempo: a inflação de fevereiro foi a maior para o mês desde 2003, de acordo com o IBGE. O principal fator para a alta, como mostra o Nexo, foi o aumento de 16,8% na conta de luz, depois do fim do subsídio temporário concedido em janeiro – medida que se valeu do saldo positivo da hidrelétrica de Itaipu para subsidiar a energia em cerca de 97% dos domicílios brasileiros. A volta às aulas pressionou o índice, por causa do aumento das mensalidades escolares. Embora a alta dos alimentos tenha sido menor em fevereiro do que em janeiro, alimentos como o ovo e o café continuaram subindo, com aumentos de 15,4% e 10,8%, respectivamente. O Banco Central prevê que a alta de preços seguirá acima da meta até junho.
🔸 “Sou feminista e me orgulho de ser mulher.” Foram as primeiras palavras de Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha como presidente do Superior Tribunal Militar (STM). Nos mais de 200 anos da Corte, ela é a primeira mulher a ocupar o posto. A CartaCapital traça um perfil da ministra, doutora em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais. Eleita numa votação apertada no final de 2024, ela está no STM desde 2007. O Metrópoles destaca que a magistrada se posicionou sobre o futuro de Jair Bolsonaro (PL) e afirmou que, se condenado, ele pode perder a patente de capitão. Para isso, é preciso que o Ministério Público Militar se manifeste por eventuais crimes do ex-chefe do Executivo. “Ele pode ser julgado também por crimes militares, como dissitação, por exemplo, dissitação à tropa. Então, tudo vai depender de como é que vai ser feita a curação penal do Supremo Tribunal Federal”, explicou.
🔸 Em São Paulo, a chuva intensa causou uma morte na tarde de ontem, segundo o Corpo de Bombeiros. Já a Defesa Civil apontou que foram duas as mortes registradas em decorrência dos estragos da tempestade. O Terra informa que, segundo a concessionária de energia Enel, mais de 170 mil clientes tiveram o serviço afetado, o que equivale a 2,1% das unidades atendidas na Grande São Paulo. O Corpo de Bombeiros recebeu 158 chamados para quedas de árvores, além de quatro chamados para enchente e três para desabamentos.
📮 Outras histórias
Cátia Santos nasceu e cresceu na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, a segunda maior do Brasil, no Acre. Aos 29 anos, ela comemora seu mais recente feito: foi aprovada no Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais, da Universidade de Brasília (UnB). A revista Cenarium conta a trajetória da estudante, que também é coordenadora de comunicação digital do Conselho Nacional das Populações Extrativistas. Primeira de sua família a cursar graduação e mestrado, ela fala sobre as dificuldades de acesso à educação para jovens de territórios extrativistas. “Sei que, ao alcançar mais essa etapa, também estarei inspirando outras pessoas, especialmente aquelas que, como eu, nasceram em territórios extrativistas, onde muitas vezes sentimos que certos caminhos parecem distantes da nossa realidade.”
📌 Investigação
Bancos públicos e recursos financeiros governamentais emprestaram R$ 9 bilhões para 24 mil cadastros ambientais rurais na Amacro – região da Amazônia que abrange Amazonas, Acre e Rondônia – entre janeiro de 2018 e agosto de 2024. A Sumaúma revela que, entre eles, estão proprietários com históricos de infrações ambientais e envolvimento em atividades ilegais. É o caso de Jorge José de Moura, conhecido como o “Rei da Soja”, que está no topo dos que mais receberam recursos do crédito rural para a Amacro. Sozinho, ele embolsou mais de R$ 137 milhões de créditos subsidiados no período. Moura também deve R$ 325 mil em multas por delitos ambientais. Ele acessou recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte, da poupança rural e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
🍂 Meio ambiente
Nas regiões do Cariri e Agreste paraibano, os lajedos – áreas de afloramentos rochosos – possuem uma alta biodiversidade de flora que conseguem manter as folhas ao longo de todo o ano em meio à seca ao redor. Apenas no lajedo da Salambaia, em Cabaceiras, foram identificadas 134 espécies de plantas – algumas com alto requerimento de água para sobreviver. “Urge uma atenção especial a essas ‘ilhas de umidade’ também do ponto de vista jurídico, com a inclusão, de alguma forma, como zonas ambientalmente protegidas, dada a sua importância para a biodiversidade, recursos hídricos e história da evolução das paisagens da Caatinga”, afirma Bartolomeu Israel de Souza, professor e pesquisador da Universidade Federal da Paraíba. A Eco Nordeste destaca que, além da riqueza natural, essas áreas apresentam diversas inscrições rupestres de povos indígenas que habitaram a Caatinga e também de registros fósseis.
📙 Cultura
“Em alguns eventos mistos de graffiti, até hoje, sinto invisibilidade por ser mulher. O espaço que nos dão para pintar costuma ser menor, e o tratamento, inferior. Alguns eventos estão começando a mudar essa dinâmica recentemente”, afirma a artista visual e ilustradora Nathalia Ursa. Nascida no Mato Grosso, ela vive em Alagoas há mais de 20 anos, onde começou como artista, e luta por espaço no cenário nacional da arte urbana, ainda majoritariamente masculino. A Eufêmea conta que, em janeiro, Nathalia participou de um dos maiores projetos de sua carreira: a pintura de um mural em homenagem à psiquiatra alagoana Nise da Silveira, que revolucionou os tratamentos de saúde mental. A obra está localizada no Centro de São Paulo e foi intitulada de “O Navegar de Nise”, contendo uma frase marcante da médica: “Gente curada demais é chata. Todo mundo tem um pouco de loucura”.
🎧 Podcast
Embora os portos sejam essenciais para a economia brasileira, as mulheres ainda não participam desse crescimento econômico de forma justa no setor. O “Lendárias & Portuárias”, produção do Juicy Santos, conversa com Rose Fassina, primeira presidente mulher do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista, e com Luciana Guerise, gerente sênior da DP World – que opera o Porto de Santos – sobre liderança feminina no setor portuário e a importância da equidade de gênero nesse mercado. “Uma das coisas que eu presto muita atenção é que tem muitas mulheres, mas elas estão sempre de coadjuvante. Existe uma lacuna mesmo de autoridade, como se nós ainda não fôssemos capazes ou inteligentes suficientes para poder assumir o protagonismo”, afirma Fassina.
👩🏽🏫 Educação
Com cortes no orçamento para as universidades federais cada vez maiores nos últimos anos, salas com ar-condicionados quebrados, falta de água potável nos bebedouros e banheiros sem papel higiênico fazem parte da rotina dos estudantes. No Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco, essa realidade se soma às estruturas danificadas e infiltrações. Segundo a Marco Zero, como consequência da precariedade, no dia 20 de fevereiro, devido ao rompimento de um cano, o Laboratório de História e Memória – responsável por armazenar e restaurar processos trabalhistas das décadas de 1940 a 1990 – foi inundado e teve parte do acervo danificado. “O processo de restauração está sendo bastante cansativo, porque a gente não tem muita ajuda, os alunos mesmo estão se mobilizando para poder fazer acontecer e recuperar o que foi danificado”, conta Maria Vitória Lapa, estudante de História.