Os indígenas e quilombolas ilhados no RS e um guia para doação segura
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 Com bairros inteiros submersos, Porto Alegre enfrenta também um colapso no abastecimento de água. Das seis estações de tratamento da capital gaúcha, apenas duas estavam funcionando na noite de ontem. A situação deve começar a voltar ao normal quando o nível do Guaíba baixar – o que deve demorar, segundo o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Sul21 informa que, embora possa diminuir nos próximos dias, há a possibilidade de um repique com as chuvas previstas para o final de semana. Assim, o nível voltaria aos 5 metros. Mesmo que a previsão não se confirme, os pesquisadores afirmam que o Guaíba deve ficar acima de 4 metros por mais de uma semana. Na enchente de 1941, por exemplo, a água levou 32 dias para voltar ao nível de 3 metros. “Estamos sem abastecimento de água, sem esgotamento sanitário, sem drenagem urbana e sem coleta de resíduos sólidos. Tudo isso configura uma crise de saúde pública”, afirma o engenheiro químico Marcelo Faccin, do Centro de Supervisão Operacional do Departamento Municipal de Águas e Esgotos.
🔸 Diante da falta de água, a população foi em busca de fontes públicas da cidade. No bairro Auxiliadora, moradores formavam fila para conseguir abastecer galões e garrafas na bica disponível. O problema é que apenas uma das nove fontes públicas de Porto Alegre não tem coliformes na água, segundo relatório da Equipe de Vigilância em Saúde Ambiental e Águas (EVSAA). A Matinal News, newsletter da Matinal, reúne reportagens sobre o desastre climático e seus impactos não só na capital, mas também na região metropolitana e em outros municípios.
🔸 Povos indígenas, de terreiros e quilombos urbanos sofrem com as inundações. Segundo a Funai, 148 famílias estão ilhadas na Terra Indígena Rio da Várzea, no município de Liberato Salzano. O Ministério dos Povos Indígenas informa que vem trabalhando para resgatar as famílias. O Nonada mostra no mapa onde estão as comunidades indígenas afetadas e lembra que, em Porto Alegre, existem 11 quilombos urbanos, entre eles o Areal da Baronesa, certificado pela Fundação Palmares em 2002. Os quilombolas que lá vivem tiveram de sair às pressas e foram resgatados a tempo, mas o nível da água não parou de subir na região.
🔸 A propósito: o Ministério da Igualdade Racial (MIR) solicitou à pasta do Desenvolvimento Social que as famílias ciganas, quilombolas e de terreiros tenham prioridade no recebimento de alimentos nas ações emergenciais. O MIR quer garantir que as populações mais vulneráveis tenham seus direitos garantidos, como forma de promover a justiça ambiental. A Alma Preta lembra que o Rio Grande do Sul tem mais de 7 mil famílias quilombolas, 344 famílias ciganas e cerca de 1.300 famílias de comunidades tradicionais de matriz africana e terreiros.
🔸 A decisão sobre o momento de sair de casa não pode ser delegada aos cidadãos. É o que afirma a climatologista Flávia Moraes, da Georgia State University. Segundo ela, os boletins meteorológicos de março já alertavam para as chuvas de abril e maio. O que faltou foi estratégia de comunicação pública. “Seria necessário um tom mais firme e direcionado para a ação. O cidadão comum não possui recursos e nem conhecimento climático necessário para avaliar o grau de emergência. A evacuação precisa ser decidida e coordenada de forma mais incisiva”, afirma. A Agência Pública destaca ainda que, segundo a Defesa Civil do RS, apenas 11,2% da população do estado está cadastrada no sistema de alertas.
🔸 Em tempo: com mais de 1,4 milhão de pessoas afetadas, o desastre no Rio Grande do Sul desperta uma onda de solidariedade pelo país. O Meio lista instituições, associações e projetos voltados para ajudar as vítimas da enchente, incluindo organizações como a Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) gaúcho e iniciativas de resgate de animais. O Nexo também indica formas de contribuir e lembra que a Defesa Civil do estado pede que as pessoas priorizem a doação de colchões, roupas de cama e banho, cobertores, água potável, ração para animais e cestas básicas fechadas. O Aos Fatos criou um guia para quem quer ajudar, mas tem dúvidas sobre como doar com segurança.
📮 Outras histórias
O caos no Rio Grande do Sul acendeu o alerta em Alagoas. Isso porque, no mês passado, Maceió sofreu com alagamentos e a interdição de ruas em poucas horas de chuva. No mais recente boletim, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou o estado em alerta laranja (perigo) e amarelo (perigo potencial). A Mídia Caeté conta que a Superintendência de Prevenção em Desastres Naturais emitiu um aviso sobre a possibilidade de chuvas intensas e acúmulos significativos de água, sobretudo na Zona da Mata, no Baixo São Francisco e no Agreste. A falta de manutenção e de limpeza na bacia de drenagem e as condições das galerias preocupam especialistas.
📌 Investigação
Insegurança alimentar no país afeta sobretudo lares chefiados por mulheres negras, mas os recortes de raça e gênero são incipientes nas reuniões do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), principal órgão de assessoramento da Presidência da República na formulação de políticas públicas sobre o tema, com apurou a Gênero e Número, com base no monitoramento da Fiquem Sabendo. Entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, o Consea realizou 236 agendas com autoridades do Executivo federal, mas apenas uma delas foi dedicada a representantes do Ministério das Mulheres, três ao Ministério da Igualdade Racial e nenhuma ao Ministério dos Povos Indígenas. Também não há comissão específica sobre gênero dentro do órgão.
🍂 Meio ambiente
Embora a concentração de gases de efeito estufa possa ser tratada em nível global, os efeitos das mudanças climáticas são regionais, o que requer estudos científicos com projeções em menor escala geográfica. O Conversation Brasil explica como funcionam os modelos climáticos, em que cientistas observam a variabilidade natural do clima, a atividade humana e a combinação dos dois para prever as possíveis alterações nos ecossistemas, como secas prolongadas ou maiores quantidades de chuva. O artigo destaca a necessidade desses modelos para locais como a Amazônia, onde há consequências para além da região, e como a sociedade toda deve ser envolvida para a adaptação nos cenários previstos.
📙 Cultura
Em áudio: com temas como racismo, machismo, desigualdade social e empoderamento, mulheres negras e periféricas, como Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo, marcaram a literatura brasileira e abriram espaço para outras autoras que constroem a história do país e descrevem suas experiências por meio de prosas e poesias. O Manda Notícias conversa com as escritoras Elizandra Souza e Jesuana Sampaio, ambas da zona sul de São Paulo, para revisitarem suas trajetórias, desde suas vivências nas periferias até começarem a escrever.
🎧 Podcast
Após a morte de um funcionário dentro do Hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), maior hospital de emergência de Fortaleza (CE), no último mês, teve início um embate entre o prefeito José Sarto (PDT) e o governador Elmano de Freitas (PT), culpando um ao outro. As Cunhãs recebe o jornalista e sociólogo Ricardo Moura, membro do Laboratório de Estudos em Violência da Universidade Federal do Ceará, para explicar como a segurança pública é instrumentalizada dentro do discurso político, sobretudo em anos eleitorais.
✊🏽 Direitos humanos
Apesar de existir o Núcleo de Gênero e Diversidade na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, professores relatam falta de apoio para abordar temáticas LGBTQIA+ nas escolas. Eles próprios desenvolvem trabalhos artísticos e podcasts para preencher a lacuna. “Sempre explico que a BNCC, que é a Base Nacional Comum Curricular, fala sobre acolher as diferenças, então a gente pode se pautar nisso, porque está aí, é um documento oficial”, afirma o professor Thiago Nascimento sobre o medo dos colegas ao abordar o tema. Segundo a Agência Diadorim, um mapeamento realizado pela ONG Todos Pela Educação mostrou que, em 2023, apenas 25,5% das escolas de todo o Brasil tinham projetos de combate à LGBTfobia e ao machismo.