As indicações do Brasil ao Oscar e uma ‘calculadora’ de streamings
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🔸 “Ainda Estou Aqui” recebeu três indicações ao Oscar: de melhor filme, melhor filme em língua não inglesa e melhor atriz, para Fernanda Torres. O longa de Walter Salles – sobre a história de Eunice Paiva, cujo marido, Rubens Paiva, desapareceu durante a ditadura – já conquistou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza de 2024 e rendeu à atriz o Globo de Ouro. A revista O Grito! lista os indicados de todas as categorias. O filme com mais indicações (13, ao todo) é “Emilia Pérez”, drama musical francês. O Na Telinha lembra que o Brasil já foi indicado 13 vezes ao Oscar. Em 1960, “Orfeu Negro” venceu como melhor filme internacional.
🔸 “Apesar da euforia mais do que justificada, o longa não recebeu nenhum apoio das políticas públicas destinadas ao audiovisual local. Mesmo durante sua longa campanha até o Oscar, essa ausência de suporte persistiu. A indústria brasileira desconhece por completo o investimento em campanhas de premiações, permitindo que apenas a alta classe cinematográfica conquiste tais honrarias”, escreve Marina Rodrigues. Em artigo no Intercept Brasil, ela afirma que a conquista de Fernanda Torres reacendeu o debate sobre a regulamentação do streaming, pauta antiga do setor audiovisual brasileiro. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, já se manifestou a favor da tributação das plataformas para fortalecer o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que financia a produção nacional. Enquanto países como França e Espanha exigem 30% de conteúdo local nos catálogos, no Brasil essa fatia não chega a 10%.
🔸 O Brasil registrou 291 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2024, um aumento de 34 casos em relação ao ano anterior. Salvador e São Paulo foram as capitais mais perigosas, com 14 e 13 mortes, respectivamente. A revista Afirmativa detalha os dados do Observatório do Grupo Gay da Bahia (GGB). O Sudeste e o Nordeste lideram o ranking das regiões mais violentas, somando 198 casos. A maioria das vítimas tinha entre 26 e 35 anos. Locais públicos e as próprias residências foram os cenários mais comuns dos crimes. “É importante destacar que, lastimavelmente, apesar de nossas cobranças anuais, os governos continuam omissos: não existem estatísticas oficiais específicas sobre crimes de ódio contra a população LGBT+ no Brasil. Essas 291 mortes violentas são apenas a ponta de um iceberg”, destaca a organização.
🔸 A desinformação impacta o debate público sobre as cotas raciais no Brasil. Levantamento da Alma Preta no X mostra o aumento de postagens sobre o tema entre novembro de 2024 e janeiro de 2025. O pico de menções às cotas ocorreu em torno do Dia da Consciência Negra. Um exemplo é a postagem de Hélio Lopes (PL-RJ) que questiona os critérios para definir uma pessoa negra. Foram mais de 17 mil visualizações. “Cotas raciais não resolvem o problema. Essa segregação que promovem apenas nos afasta do que realmente importa”, escreveu o deputado. Em tempo: um estudo divulgado no ano passado revela o impacto das cotas raciais. Em 2010, apenas 10,7% dos estudantes universitários eram negros; em 2019, esse número saltou para 38,2%.
📮 Outras histórias
Dona Lourdes é figura conhecida no povoado de Barreiro, na zona rural de Caculé, município a mais de 200 km de Vitória da Conquista (BA). Sua habilidade para fazer renda é o que lhe rende tal notoriedade. Aos 91 anos, Maria de Lourdes Brito da Cruz mantém a tradição da renda de bilro. O Conquista Repórter explica como se faz a renda e narra a história de dona Lourdes. “Eu vi minha tia fazendo, aí eu fui e fiz também”, lembra ela, que caminha com a ajuda de uma bengala e tem a audição e a visão comprometidas. Ao longo da vida, a rendeira trabalhou na roça com o plantio de hortaliças, a criação de animais e a coleta de plantas para a fabricação de óleo. Aos 80, foi para a escola. Aprendeu a ler o livro de orações que hoje reveza com a prática da renda como forma de se manter lúcida.
📌 Investigação
Negros escravizados eram forçados a se reproduzirem no Brasil. As mulheres eram obrigadas a engravidar continuamente, enquanto homens (os mais fortes e saudáveis) eram colocados na posição de “reprodutores”. Os bebês ficavam pouco tempo com a mãe e logo eram negociados pelos senhores de escravos como mercadoria. A Agência Pública destrincha uma das menos conhecidas e mais cruéis faces da escravidão no país. “No final da primeira metade do século 19, quando se aproximou a abolição do tráfico, o preço dos escravizados explodiu. Então, reproduzir pessoas em cativeiro virou um bom negócio. Antes não era. Era mais negócio comprar da África”, explica o pesquisador e jornalista Laurentino Gomes.
🍂 Meio ambiente
“Em Manaus, quando a água sobe, sempre há mortes, desmoronamentos, deslizamentos, porque essas pessoas moram nessas áreas que chamamos de risco”, afirma a pedagoga Cristiane Sales, que há mais de uma década defende justiça social para quem vive em zonas de risco. “A cada evento, como uma alagação, a situação das famílias mais empobrecidas, principalmente das mulheres, piora ainda mais”, completa. Em entrevista à InfoAmazonia, Sales explica como a luta pelo território na Amazônia urbana está associada à justiça climática e fala sobre o trabalho de conscientização ambiental para as populações periféricas. “Nosso objetivo é realizar pelo menos dez conferências livres sobre o meio ambiente, para que a população possa discutir e expressar o que pensa e sente sobre as queimadas, a fumaça, o calor escaldante, as secas e as enxurradas.”
📙 Cultura
“O twerk é um resgate. É conhecer o seu corpo, se conectar, entender as suas possibilidades e limitações e se desafiar. A dança superou a estética vulgar que a sociedade tentava colocar nela e se tornou uma possibilidade de se encontrar”, afirma a multiartista Beatriz Aparecida Dos Santos Graboschi, fundadora do projeto Twerk na Quebrada, que começou na zona leste de São Paulo. A Agência Mural conta que a iniciativa promove aulas de dança do estilo, nas quais mulheres aprendem a movimentar os quadris, promovendo um espaço seguro para as alunas. De origem africana, o twerk se tornou famoso nas boates de striptease nos Estados Unidos e se popularizou por meio de artistas pop. O projeto de Beatriz busca combater estereótipos relacionados à dança e promove a autoestima das mulheres frente ao machismo e ao racismo.
🎧 Podcast
No sul da Bahia, um sistema agroflorestal, conhecido como cabruca, combina a produção de cacau com a conservação da Mata Atlântica por meio da commodity plantada junto aos pés das grandes árvores. O “Na Sombra do Jequitibá”, produção d’O Eco, mergulha as origens do termo cabruca e o contexto histórico da introdução do cacau na região. Combinando histórias e memórias locais, o episódio explica como a técnica foi implementada e mostra como as cabrucas se tornaram essenciais para a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade econômica.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Os serviços de streaming ganham cada vez mais as telas do brasileiro, com dezenas de possibilidades de assinaturas de séries e filmes a livros. A Calculadora de Streamings, ferramenta do Núcleo, compila mais 50 plataformas de “Vídeo”, “Áudio”, “Livros” e “Jogos” e seus diversos planos para estimar o valor da conta com esses serviços ao fim do mês, com a possibilidade de incluir combos entre essas categorias. A assinatura mais cara é a Apple One (Premier), com valor de R$ 89,90. Já a mais barata é a do YouTube Music para estudantes, com valor de R$ 10,90.