Os impactos da soja para indígenas do sul e as mulheres na tecnologia
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🔸 “Quatro fiscais do Ibama se lançam de um helicóptero nas águas turvas do Uraricoera e nadam até uma balsa de garimpo ancorada na margem esquerda do rio. (...) De armas em punho, os fiscais do Ibama invadem a balsa à procura dos garimpeiros, mas ninguém é encontrado.” O repórter Rubens Valente acompanha um dia na linha de frente de combate ao garimpo e narra uma operação na terra Yanomami, em Roraima. Em reportagem na Agência Pública, ele conta que o Ibama trabalha com oito helicópteros, essenciais na operação de desintrusão, já que as viagens de barco levariam dias e poderiam gerar encontros inesperados com garimpeiros armados.
🔸 Ouro na região norte, soja na região sul. Os arrendamentos para a produção do grão deixam famílias do povo Kaingang, no Rio Grande do Sul, sem terra para cultivar nem mesmo hortas ao redor de suas casas, como descreve o Le Monde Diplomatique Brasil. Há casos de desnutrição e até mortes de crianças na terra indígena Guarita, tradicionalmente ocupada pelos Kaingang. Se os Yanomami sofrem os efeitos nocivos do mercúrio usado na extração do ouro, os indígenas do sul vêem suas águas contaminadas pelo glifosato e outros agrotóxicos, lançados sobre a soja semanalmente.
🔸 França e Espanha deram sinais de que têm interesse em doar para o Fundo Amazônia. O mecanismo foi oficialmente retomado ontem, depois de quatro anos de paralisação no governo Bolsonaro. O Eco destaca que a sinalização dos países europeus ocorre na sequência de os Estados Unidos anunciarem uma doação, algo que tem um “efeito catalisador”, segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. “Quando ele [EUA] entra em uma determinada arquitetura, consegue ter uma força gravitacional para trazer novos parceiros […] Quiçá a gente consiga chegar ao nosso crédito de R$ 15 bilhões”, disse, referindo-se ao montante que o Fundo Amazônia está autorizado a captar. Ontem, ficou decidido que o fundo, por ora, seguirá as normas de 2018, com foco em projetos de monitoramento e controle do desmatamento. Parte dos recursos também será destinada a ações emergenciais para os povos indígenas da Amazônia, sobretudo os Yanomami.
🔸 Apenas dois meses antes de vir à tona o caso das Americanas, a varejista tentou negociar sua dívida. A informação, revelada pelo Reset, é um indicativo de que não só os executivos que dirigiam a companhia por décadas tinham plena consciência dos problemas, como tentaram fazer controle de danos. Entre outubro e novembro do ano passado, a equipe financeira da varejista contratou o BTG Pactual para renegociar os termos de dois títulos de dívidas, que totalizavam R$ 1 bilhão. A reportagem detalha os últimos passos dados pela gestão das Americanas antes de o escândalo contábil se tornar público.
📮 Outras histórias
Na Rocinha e no Complexo do Alemão, a luta de mães para obter canabidiol e tratar seus filhos. “O autismo não tem cara! É algo que percebi sendo mãe como algo atrelado ao comportamental. A Geovanna chorava o dia todo. Isso quando não havia crise de risos e choros constantes, algo que ficava descontrolado. Ela comia até o reboco da parede, não interagia [com ninguém] e ficava pulando o dia todo”, relata Bianca Felix, 25 anos, mãe de Geovanna, 5 anos. Moradora da Rocinha, favela na zona sul do Rio de Janeiro, ela conseguiu acesso ao tratamento com canabidiol no Núcleo de Estimulação Estrelas de Maria, criado em 2021 no Complexo do Alemão, a partir da experiência de uma mãe atípica. O Fala Roça conta que a ONG hoje atua como rede de apoio em mais de 30 favelas do Rio de Janeiro. A reportagem conversa com mães que inventam estratégias, como vaquinhas virtuais, para bancar o acesso à saúde para suas crias.
📌 Investigação
Depois de um longo cabo de guerra, o banimento das gorduras trans entrou em vigor no Brasil em janeiro. As alternativas de substituição mais atraentes para a indústria, porém, levantam preocupações. O Joio e O Trigo explica que há três possibilidades entre mais adotadas pelo setor: as gorduras saturadas, que também não são saudáveis; o óleo de palma, que pode causar conflitos socioambientais; e as gorduras interesterificadas, para as quais faltam dados científicos de segurança. Mas elas não são as únicas: segundo a especialista em tecnologia de alimentos Juliana Ract, é possível utilizar a técnica de oleogel, a mesma utilizada no álcool em gel. Esta seria uma saída mais saudável, mas há contras para a indústria, como o tempo de vida do produto na prateleira, que pode ser menor, e a insuficiência em proporcionar experiências sensoriais que tornam esses alimentos tão viciantes.
🍂 Meio ambiente
Por onde passava o rio Gravataí em Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, é possível ver mais de 30 metros de lixo. Embora a imagem catastrófica tenha ganhado o Brasil na semana passada, a Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravataí alerta que o problema do acúmulo de resíduos no rio acontece o ano todo e que cobra há tempos por políticas públicas. A situação só veio à tona devido à falta de chuvas no Rio Grande do Sul, provocada pela longa estiagem. Ao Sul21, a Secretária de Sustentabilidade, Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Cachoeirinha, Sueme Pompeo de Mattos, lamenta o gasto aplicado na retirada do lixo: “São custos que a gente vai ter que investir que poderíamos estar investindo em educação ambiental, na própria fiscalização e em mais ecopontos. Não tendo outra opção, vamos ter que investir para fazer essa retirada”.
Envolto em formações rochosas e na Caatinga do sertão paraibano, o Distrito do Marinho abarca uma grande quantidade de sítios arqueológicos com pinturas rupestres e sítios funerários. O Eco Nordeste conta que os moradores têm atuado na região para preservar o patrimônio – alguns estão sob rochas – por meio do turismo de base comunitária. “Desde sempre demonstraram sensibilidade com esse patrimônio arqueológico, e o sentimento de pertencimento, que é algo pouco visto”, relata o pesquisador Flávio Moraes.
📙 Cultura
Passados dois anos sem Carnaval, artistas e associações envolvidas na festa vivem a expectativa e a ansiedade de voltar a desfilar. A revista O Grito! descreve as dificuldades de músicos, aderecistas e agremiações de Pernambuco durante a pandemia, período crítico para a indústria criativa no país. Para o trombonista Everton Júnior, trata-se de um momento de recomeço depois de ver muitos colegas abandonarem a carreira: “Muita gente pensou logo em vender seu instrumento para pagar as dívidas. Eu mesmo, quantas vezes não pensei nisso nesses dois anos? Mas me lembrava que tenho um propósito de vida, que é com a música.”
Durante a quarentena imposta pela Covid-19, nasceu o amor dos gêmeos Wesley e Pablo Barreto, de 14 anos, pelos livros. Sem computadores em casa, sem poder sair, ir à escola ou ver os amigos, os dois adolescentes, moradores do Jardim Lapena, na zona leste de São Paulo, apegaram-se à leitura, como narra a Agência Mural. No bairro, há apenas um equipamento de cultura disponível para a população, o Galpão de Cultura e Cidadania, conhecido como Galpão ZL. Atualmente, os irmãos vão até lá todas as manhãs e dedicam duas horas à atividade.
🎧 Podcast
Homens barbudos com roupas camufladas e armas de fogo. A “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha no universo dos clubes de tiro e dos caçadores, atiradores desportivos e colecionadores (CACs). São espaços que se fortaleceram e se disseminaram com o discurso abertamente armamentista do ex-presidente Jair Bolsonaro. A partir de decretos e portarias, foram registradas, em média, 691 novas armas de fogo por dia nos últimos quatro anos, o equivalente a quase um milhão de revólveres, pistolas, espingardas e até fuzis em circulação. As decisões também afrouxaram as regras e o controle.
👩🏽💻 Tecnologia
Em vídeo: desigualdade de gênero, sobrecarga e duplas jornadas ajudaram a afastar as mulheres do mercado de trabalho tech. Elas, porém, resistem. O quinto episódio da série “Por Elas, Por Nós”, da revista AzMina, reúne iniciativas e experiências de mulheres no setor. Micheli Junco e Dani Junco, por exemplo, fundaram a B2Mamy para capacitar e conectar mães ao ecossistema de inovação e tecnologia. Já a jornalista Iana Chan fundou o PrograMaria, que busca apoiar mulheres no mundo da programação. E a produtora de games e animadora 3D, Nayara Brito, é responsável pela realização brasileira do “Women Game Jam”, uma maratona de desenvolvimento de jogos.
Sobre essa questão do canabidiol, aqui em Mato Grosso, após promulgação de uma lei na Assembleia, o Executivo lançou a primeira licitação para compra de medicamentos.