O impacto da tarifa de Trump no agro e o cuidado de idosos LGBTQIA+
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, gente, bom dia.
Na próxima semana, de 14 a 18 de julho, a Brasis faz uma pausa, acompanhando o período de recesso da Ajor. Voltamos a circular no dia 21.
Boa leitura e até já!
🔸 O Brasil terá um comitê com empresários para repensar a política comercial com os Estados Unidos. Foi o que anunciou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ontem, em resposta à taxa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros importados pelos EUA. O Terra destaca que, segundo Lula, é falsa a afirmação do republicano de que o país estaria em déficit na relação comercial com o Brasil. De acordo com o presidente brasileiro, nos últimos 15 anos, os brasileiros sofreram um déficit de US$ 410 bilhões, entre importações e serviços. Lula declarou ainda que o Itamaraty poderá judicializar o caso junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) e que o Brasil tentará ‘negociar’. “Mas se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele”, afirmou Lula.
🔸 Mas… o governo não deve anunciar medidas de reciprocidade aos EUA. Ao menos, não de imediato. O Jota apurou que a estratégia do governo é aguardar a entrada em vigor da taxa de 50%, a partir de 1º de agosto, para não “entregar antecipadamente as cartas”. O país também avalia que tarifas puramente simbólicas poderiam prejudicar a própria economia. Como alternativa, estuda-se o uso de medidas não tarifárias, previstas na Lei de Reciprocidade, que podem incluir restrições em serviços e propriedade intelectual. Na carta em que comunicou a medida, Trump voltou a acusar o Brasil de perseguir Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
🔸 Enquanto isso, líderes do Centrão pressionam os políticos bolsonaristas a usarem seus canais com o governo Trump para tentar barrar a tarifa. Nos bastidores, integrantes do bloco reclamaram que a oposição também precisa agir para evitar o tarifaço. O Metrópoles ressalta que o anúncio da taxação isolou o bolsonarismo no Congresso, já que as bancadas ligadas à indústria, ao agronegócio e ao empreendedorismo não concordaram com a retaliação de Trump. Parte da oposição avalia que a taxação pode ter sido um tiro no pé de Eduardo Bolsonaro, que desde fevereiro articula sanções contra o Brasil nos EUA ao afirmar que seu pai é alvo de perseguição política. O governo Lula, por sua vez, vê oportunidade de se reaproximar dos setores produtivos e avalia que nem mesmo o agronegócio aceitará calado a taxação.
🔸 Falando em agro… a tarifa de Trump deve impactar fortemente o agronegócio de estados governados por aliados de Bolsonaro, como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO). Os setores mais afetados serão os de café, carne bovina, açúcar, etanol e suco de laranja. O Intercept Brasil mostra que Minas Gerais, maior produtor de café, será diretamente atingido, já que os EUA compram cerca de 17% da produção brasileira. Goiás, segundo maior produtor de carne bovina, também sofrerá perdas – os EUA representam 10,5% do faturamento externo desse mercado. Em São Paulo, a taxação prejudica principalmente o etanol e o suco de laranja, produtos em que o estado lidera a exportação. A Bancada Ruralista, tradicional aliada do ex-presidente, pediu socorro a Lula e defendeu uma resposta diplomática para evitar danos ao setor.
🔸 Nas redes, depois do anúncio de Trump, voltou a circular entre brasileiros nos EUA em memes e grupos de Whatsapp a sigla TACO – “Trump Always Chickens Out”, ou ou “Trump sempre se acovarda”, numa tradução livre do inglês. A Lupa explica que a expressão foi cunhada pelo colunista Robert Armstrong, do “Financial Times”, em maio deste ano, para se referir a um padrão de comportamento do presidente republicano: anunciar tarifas agressivas contra países como China, México, e Canadá para recuar dias depois, diante da reação negativa do mercado. A sigla se disseminou rapidamente pelos EUA em forma de memes com galinhas e tacos, tradicional prato mexicano.
📮 Outras histórias
Depois de meses de cheia, o nível do Rio Negro começou a baixar em Manaus. Na quarta-feira, foram registrados 29,03 metros, dois centímetros abaixo do pico de 29,05 metros alcançado nesta cheia de 2025 – número que é considerado situação de inundação severa na capital amazonense. Agora, o nível entra na primeira queda depois de três dias estável, informa o Amazonas Atual. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, a previsão para 2025 era de 28,68 m, com alta chance de inundação. A cheia já afeta mais de 133 mil famílias e cerca de 534 mil pessoas em todo o estado. Dos 62 municípios, 40 estão em situação de emergência, 18 em alerta e apenas quatro em situação normal.
📌 Investigação
Geração que conquistou direitos para a população LGBTQIA+ se vê empurrada de volta ao “armário” na velhice em casas de acolhimento e no convívio familiar com cuidadores LGBTfóbicos. Segundo a Gênero e Número, apesar de existirem diversas iniciativas de acolhimento para idosos, poucas contemplam políticas específicas para a população LGBTQIA+, e a falta de dados reforça o apagamento. O gerontologista Diego Félix Miguel tentou mapear a presença de pessoas LGBTQIA+ em instituições de longa permanência (ILPIs) de diferentes regiões do Brasil. As informações preliminares mostram que, das 77 unidades consultadas, apenas 13 afirmaram acolher pessoas LGBTQIA+, somando 16 residentes – seis homens gays, cinco pessoas bissexuais, quatro lésbicas e uma pessoa trans. O pesquisador foi impedido de tentar conversar com elas. Para ele, isso revela o quanto o “armário” ainda é uma imposição institucional.
🍂 Meio ambiente
“Será que a transição energética em construção no Brasil está realmente focada nas demandas internas ou, na prática, servirá a interesses externos, como os da União Europeia, que busca garantir acesso privilegiado a mercados estratégicos de energia renovável em um contexto de acordos climáticos, fechamento das usinas nucleares e redução da oferta de gás da Rússia em decorrência da guerra com a Ucrânia?”, questionam os pesquisadores Gabriel Gomes Strautman e Elisangela Paim. Em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil, eles refletem sobre a cooperação alemã na promoção do hidrogênio verde – forma de substituir os combustíveis fósseis por meio eletrólise da água usando eletricidade gerada por fontes renováveis – e a manutenção da lógica imperialista. “A pressão para expandir a infraestrutura necessária exibe sinais de agravamento das desigualdades sociais e do racismo ambiental, além de gerar tensões entre os interesses locais e os projetos voltados para a exportação de hidrogênio.”
📙 Cultura
Enquanto os olhos se voltam para Belém (PA) como sede da COP30, longe dos holofotes, os festivais culturais do interior buscam visibilidade e reconhecimento. Reunindo carimbó, rap, rock, saberes tradicionais e juventude periférica, o 1º Cultura em Movimento - Circuito de Festivais do Nordeste Paraense vai abranger quatro municípios da região. A Amazônia Latitude conta que o circuito é composto pelo 11° EcoRock, de 10 a 12 de julho, em Primavera; o Laranja Mecânica, de 4 a 6 de setembro, em Capitão Poço; o 7º Festival Ouricuri, de 4 a 6 de dezembro, em Capanema; e o 14º FestiRimbó, de 18 a 20 de dezembro, em Santarém Novo. Além dos shows, os festivais têm rodas de conversa sobre produção cultural no interior da Amazônia, gerenciamento de carreira musical e de plataformas digitais.
🎧 Podcast
“Tarifas têm sido a ladainha de Trump na forma de impor as posições dos Estados Unidos internacionalmente”, afirma Tomaz Paoliello, coordenador do Mestrado Profissional em Governança Global e Formulação de Políticas Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). No “Bom Dia, Fim do Mundo”, produção da Agência Pública, o professor explica o cenário geopolítico e comercial em nível mundial, sobretudo a atuação do Brasil na presidência do Brics. Paoliello também discorre sobre a oportunidade de expandir relações com aliados históricos dos EUA, como México, Canadá e países da Europa, diante do mal estar com Trump.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Os quase 200 anos de existência do Quilombo Cafundó não são medidos pelo calendário, mas pelos ciclos de resistência a cada nova geração que aprende a língua cupópia. Trata-se da língua-árvore que guarda nas raízes a memória do quilombo. De base bantu, ela permaneceu viva mesmo diante de preconceitos linguísticos e apagamentos históricos e está nas manifestações culturais da comunidade. Localizado a 12 quilômetros do centro de Salto de Pirapora (SP) e a 133 quilômetros de São Paulo, o quilombo reúne 45 famílias descendentes de Joaquim Congo e Ricarda, escravizados alforriados no fim do século 19. A Periferia em Movimento resgata a história de Cafundó, que, a partir de lideranças femininas, luta para preservar a identidade e garantir autonomia. Em 2009, iniciou o processo de reconhecimento como comunidade quilombola, concluído apenas em 2024.
Ótimo recesso!! Voltem renovados🤗