O impacto da prisão de Bolsonaro nas eleições 2026 e um balanço da COP30
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🔸 O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso na manhã de sábado após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que apontou risco de fuga e violação das medidas cautelares impostas ao réu. Bolsonaro admitiu à Polícia Federal (PF) que violou a tornozeleira eletrônica usando um ferro de solda. Soma-se a isso o fato do filho do ex-presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ter convocado uma vigília para a noite de sábado em frente à casa onde seu pai cumpria prisão domiciliar. Para Moraes, o evento trazia “altíssimo risco” ao cumprimento da prisão e poderia facilitar uma eventual fuga. A revista piauí lembra que a prisão preventiva rondava Bolsonaro havia quase dois anos, desde fevereiro de 2024, quando ele passou duas noites na Embaixada da Hungria. Ao longo das investigações sobre o golpe e outros inquéritos, Bolsonaro acumulou gestos de desafio à Corte, como descartar a hipótese de ser preso e acenar com a busca de asilo em embaixadas estrangeiras.
🔸 No fim de semana, aliados de Bolsonaro buscavam explicar por que o ex-presidente violou a tornozeleira. A primeira versão foi de que ele havia tido um surto provocado por privação de sono. O Metrópoles conta que, em seguida, apoiadores mudaram a narrativa. Segundo os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Bia Kicis (PL-DF), Bolsonaro teria tentado violar o equipamento após escutar um barulho e suspeitar que a tornozeleira estivesse com alguma “escuta” dentro dela. Em vídeo gravado pela Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, o próprio Bolsonaro admite que começou a mexer na tornozeleira ainda na tarde de sexta-feira e atribui o ato à “curiosidade”.
🔸 Esta foi a segunda vez que um post de Flávio Bolsonaro nas redes sociais resultou em novas restrições judiciais ao pai. A convocação da vigília feita pelo senador foi citada por Moraes na decisão, somada à violação da tornozeleira eletrônica e à fuga do deputado Alexandre Ramagem para os Estados Unidos. O Congresso em Foco relembra que a primeira vez em que Flávio prejudicou o pai foi em agosto, quando ele publicou um vídeo com mensagem de Bolsonaro a manifestantes. O post levou à decretação da prisão domiciliar.
🔸 A propósito: a prisão preventiva de Bolsonaro atinge em cheio a pré-candidatura de Flávio ao Planalto em 2026, justamente na semana em que a família consolidava consenso em torno de seu nome e ele também era cotado como possível vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos). “Se, de um lado, a decisão deverá gerar comoção de apoiadores em torno de Flávio Bolsonaro, de outro, ela pode provocar avarias na imagem de ‘moderação’ do senador e até arrastá-lo para o epicentro de uma investigação criminal”, escreve Beto Bombig, em análise no Jota. Um dia antes da prisão do pai, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chancelou a candidatura do irmão mais velho: “O Flávio, que tem o perfil mais moderado, mais político, mais articulador, da família, tem a possibilidade de aderir outros partidos de centro-direita e de centro nessa campanha dele”. A decisão de Moraes coloca essa narrativa em xeque.
🔸 Bolsonaro está numa “sala de Estado” na Superintendência da PF em Brasília, com estrutura especial e acesso contínuo a atendimento médico, sem necessidade de autorização prévia para sua equipe. O Aos Fatos detalha o que se sabe sobre a prisão do ex-presidente até agora. Ele aguarda audiência de custódia e o referendo da Primeira Turma do STF, enquanto sua defesa prepara recurso e pode pleitear retorno à prisão domiciliar por motivos de saúde. A Lupa mostra que a prisão preventiva gerou reação imediata em grupos públicos de WhatsApp e Telegram monitorados pela Palver, com alcance estimado de 13 milhões de perfis nas primeiras horas de sábado. Há mensagens de comoção quase fúnebre, centradas em especulações sobre a saúde do ex-presidente, além de ataques internos a aliados tachados de “traidores” e teorias conspiratórias que falam em possível assassinato na prisão.
🔸 A COP30, em Belém, terminou sem consenso sobre um mapa do caminho para reduzir o uso de combustíveis fósseis e sem decisão formal sobre um roteiro global contra o desmatamento. Principal fiadora da proposta brasileira de criar um mapa do caminho, a ministra Marina Silva afirmou: “Enfim, progredimos, ainda que modestamente”. Diante do impasse e da resistência de produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Índia, o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, anunciou que, por iniciativa própria, vai elaborar dois “mapas do caminho” paralelos: um para a transição longe dos fósseis e outro para frear o desmatamento. A Agência Pública faz um balanço dos avanços na conferência e destaca que a COP aprovou um pacote inédito de decisões sobre adaptação e um mecanismo de “transição justa”, que reconhece trabalhadores, povos indígenas, comunidades locais, afrodescendentes, mulheres e outros grupos vulneráveis como sujeitos centrais da mudança.
🔸 O presidente Lula formalizou a escolha de Jorge Messias para o STF. O advogado-geral da União deve ocupar a vaga de Luís Roberto Barroso na Corte. A indicação frustrou entidades e parte do eleitorado do petista, que pressionavam pela indicação de uma mulher para ocupar o lugar de Barroso. Entre os 11 ministros do Supremo, há apenas uma mulher, Cármen Lúcia. Messias, recifense, 45 anos, doutor pela UnB e evangélico, é visto por Lula como alguém que reúne técnica, lealdade e acesso direto ao governo. O Nexo analisa a escolha de Lula com especialistas.
📮 Outras histórias
Fotogaleria: “A gente botou a nossa cara, a nossa força, a nossa resistência com as mulheres, os caciques, os guerreiros e as guerreiras. A negociação não podia acontecer sem a nossa presença”, disse Alessandra Korap, liderança Munduruku, sobre a COP30. A Amazônia Latitude reúne em imagens a participação de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e movimentos sociais na COP30, em especial na Marcha Mundial pelo Clima, que transformou Belém em um grande cortejo político-cultural, com cerca de 70 mil pessoas em um trajeto de 4,5 km entre o Mercado de São Brás e a Aldeia Amazônica.
📌 Investigação
Para estimular os “combustíveis sustentáveis”, o BNDES aprovou o financiamento de R$ 3,31 bilhões para empresas do agronegócio com histórico de infrações ambientais e trabalhistas. Levantamento do Intercept Brasil revela que a maior parte desse montante (R$ 2,5 bilhões) vieram do Fundo Clima, integrante da Política Nacional sobre Mudança do Clima, que deve ser destinado a projetos de mitigação e adaptação ao colapso climático. Pelo menos R$ 644 milhões já foram pagos pelo BNDES até 31 de agosto deste ano. Entre as infrações cometidas pelas empresas beneficiadas pelo Fundo Clima estão irregularidades nas condições de trabalho, sobreposição a terras indígenas, desmatamento e inserção de dados falsos nos sistemas públicos.
🍂 Meio ambiente
Sem alternativas para o tratamento do lixo, como infraestrutura de coleta e saneamento básico, moradores das comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas, recorrem à queima e enterro dos resíduos domésticos. Esses métodos podem simbolizar soluções que funcionam localmente, mas não reduzem os riscos para a saúde ou ao meio ambiente já que liberam gases tóxicos e causam contaminação do solo e das águas. A Agência Bori mostra um estudo sobre o descarte da comunidade e a infraestrutura de coleta, logística reversa, incentivos econômicos e apoio técnico, aliadas à educação ambiental e valorização das práticas culturais locais. “Se o plástico tivesse melhor valor agregado, certamente haveria menor poluição e descarte inadequado no Brasil. O mesmo para o vidro”, afirma o engenheiro ambiental Leonardo Capeleto de Andrade.
📙 Cultura
“Garantir a preservação do benzimento e seu reconhecimento como parte essencial da identidade cultural brasileira exige a implementação de políticas públicas de valorização. Projetos voltados ao registro formal do benzimento como patrimônio imaterial, programas educativos e ações de sensibilização podem manter esse conhecimento vivo”, afirma a pesquisadora Nayara Gomes Bastos. Diante dos preconceitos das novas gerações, as benzedeiras da Bahia resistem e necessitam de apoio institucional para preservar a prática ancestral, ligada especialmente a crenças afroindígenas. A Revista Afirmativa mergulha no papel do benzimento nos processos de cura e de acolhimento comunitário como expressão de identidade cultural.
🎧 Podcast
Da esfera pública à privada, a ditadura militar marcou um sufocamento e silenciamento, que autores contemporâneos tentam traduzir em seus livros. “O clima, a tensão, não só pela descrição de um cenário que se monta objetivamente, mas de um cenário que traz um monte de sentimentos e de simbologias”, afirma Ana Cristina Braga Martes, autora de “Sobre O Que Não Falamos”, romance que liga o contexto de uma vila de trabalhadores e pequenos comerciantes ao contexto nacional. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, conversa com Braga Martes, Ana Kiffer e Cadão Volpato sobre o processo de produzir obras que retratam o regime militar no Brasil.
👩🏽🏫 Educação
A escola tem o papel de promover a tolerância religiosa sobretudo de religiões de matrizes africanas por meio do ensino da História do Brasil de forma empática. É o que defende o professor e pesquisador Rafael Silva. “Educadores podem propor, por exemplo, um mapa das rotas do tráfico e das influências religiosas africanas, relacionando regiões de origem e o estudo de seus elementos culturais (línguas, comidas, músicas, ritos) na África e na diáspora”, afirma em artigo no Porvir. “Ao investigar como grupos de diferentes etnias trouxeram e adaptaram suas tradições religiosas ao contexto colonial, os estudantes aprendem que as populações africanas não foram apenas vítimas, mas também agentes ativos na construção cultural do Brasil.” Para Silva, “mais do que ensinar fatos históricos, esse trabalho ajuda a desenvolver empatia, pensamento crítico, valorização da pluralidade e tolerância ao diferente”.




