O impacto das chuvas no RS e a nova era da violência ambiental no Acre
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🔸 Treze meses depois das enchentes históricas, o Rio Grande do Sul registrava ontem 20 municípios em situação de emergência e um em calamidade pública (Jaguari) devido às fortes chuvas no estado. Ao todo, 126 municípios foram atingidos e três pessoas morreram, informa o Sul21. Das 7 mil que estão fora de casa, 1.332 foram acolhidas em abrigos, e quase 6 mil seguem desalojadas. Embora alguns rios estejam em declínio, como o Taquari, Caí e Quaraí, outros seguem em cota de inundação, como o Uruguai e o Jacuí.
🔸 A propósito: na capital Porto Alegre, o Guaíba atingiu 2,73 metros ontem, o que levou a Defesa Civil a intensificar os resgates no bairro Arquipélago, na zona norte da cidade. A cota de inundação do rio é de 3 metros. O Agora RS conta que barcos e jet skis foram usados nas operações e, apesar da oferta de abrigo, muitas famílias optaram por permanecer em casa. No sábado, mais de 20 pessoas foram retiradas e levadas para casas de parentes. O abrigo emergencial na Arena KTO continua funcionando e ontem acolhia 53 pessoas pela manhã – 24 adultos e 29 crianças e adolescentes, além de animais de estimação.
🔸 Enquanto isso, no campo… produtores rurais ainda enfrentam dívidas e dificuldades para retomar a produção. A catástrofe deixou 206 mil propriedades rurais afetadas, segundo a Emater. Com artigo de Sílvia Lisboa, o Nexo traz um panorama da situação dos agricultores gaúchos um ano após as enchentes. Muitos, como o suinocultor Gustavo Lorenzon, não conseguiram recuperar instalações destruídas e acumulam prejuízos. “Uma reforma ia custar caro e achamos prudente aguardar. Não é hora de fazer mais uma dívida”, diz ele. Depois da enchente, o ano de 2025 trouxe outro desafio: o solo quebradiço por falta de água – 60% dos municípios decretaram emergência por seca neste ano. Especialistas criticam a falta de ação do governo estadual e apontam que, apesar de bilhões anunciados, obras como os diques contra cheias ainda não chegaram às áreas mais vulneráveis.
🔸 Em carta endereçada ao presidente Lula, mais de 250 cientistas de 27 países pedem que a COP30, a Conferência do Clima que ocorre em Belém (PA), avance na agenda da eliminação dos combustíveis fósseis. Segundo O Eco, o documento reforça que os atuais projetos fósseis já inviabilizam a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C de acordo com o Painel de Mudança Climática da ONU (IPCC). “Seja o líder climático que o mundo precisa”, diz o texto. A carta lembra que a queima de combustíveis fósseis é responsável por cerca de 75% das emissões globais de gases estufa. O cientista climático Bill Hare, que entregou a carta ao embaixador André Corrêa do Lago, criticou o leilão de petróleo na Foz do Amazonas e cobrou coerência do Brasil: “Se não avançar nessa agenda, a história não será generosa com sua presidência da COP30”.
📮 Outras histórias
Na região metropolitana de Manaus (AM), ruínas históricas correm risco de desabamento. A Vila de Paricatuba, em Iranduba, apresenta rachaduras, infiltrações e colapso parcial após décadas sem manutenção. Segundo o Amazonas Atual, raízes de árvores invadem os alicerces, e o uso de tijolos deitados na construção do final do século 19 fragiliza ainda mais os pilares. Depois de uma vistoria, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recomendou o isolamento do prédio e um projeto emergencial de estabilização. Erguido no contexto de exploração da borracha, o espaço servia como hospedaria e local de quarentena para imigrantes que chegavam à região, aguardando destino após navegar pela via fluvial. Poucos anos depois, foi transformado em escola para crianças vulneráveis, em casa de detenção e, por fim, em leprosário, que funcionou até 1962.
📌 Investigação
Secretário-adjunto de Desenvolvimento Ambiental do Estado de Rondônia, Gilmar Oliveira de Souza atuou como representante na venda de um imóvel de 47 mil hectares dentro da Reserva Extrativista (Resex) Rio Cautário para sua esposa, Jacqueline Moreno, em 2018. Pouco antes de assumir o cargo no governo estadual, em 2022, ele também solicitou autorização para exploração de madeira em outro imóvel, de 45 mil hectares, na mesma unidade de conservação (UC). A InfoAmazonia revela que essa pode ser uma das maiores grilagens já identificadas dentro de uma área protegida na Amazônia: as terras ligadas ao secretário-adjunto somam mais de 92 mil hectares, sobrepondo 60% da Resex. O Incra e a Procuradoria-Geral do Estado encontraram indícios de fraudes nos documentos dos imóveis em 2016 com a inserção de coordenadas geográficas nas escrituras para que as propriedades fossem artificialmente deslocadas para dentro da UC e forjando como se tivessem sido ocupadas antes de sua delimitação.
🍂 Meio ambiente
Com táticas de guerrilha, como destruição de pontes com o uso de fogo e tentativa de incendiar as instalações de base, servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e agentes de segurança que atuam na Operação Suçuarana, dentro da Resex Chico Mendes, no Acre, têm sido atacados por criminosos devido à fiscalização ambiental. Segundo O Varadouro, trata-se de um caso inédito em atividades de campo do órgão no estado. Os servidores ouvidos apontam que as táticas são as mesmas utilizadas em estados onde há histórico intenso de conflitos de terra, como Rondônia, Pará e Mato Grosso. “Nem mesmo a presença de policiais fortemente armados, da Força Nacional, do Exército intimidou a ação deles. Isso é inédito na história do Acre. Isso eu só vi em garimpo, é uma tática de garimpeiro”, relata um agente.
📙 Cultura
O cinema brasileiro feito por mulheres e protagonizado por elas se desenvolve como um ato de resistência ao trazer perspectivas únicas para as telas. É o caso do longa “A Alegria do Amor” (2024), de Marcia Paraíso, que narra a história de Dulce, jovem quilombola do Ceará que testemunhou o assassinato de seu companheiro por jagunços e se muda para São Paulo para denunciar o crime. Ou ainda de “Diálogos com Ruth de Souza” (2022), de Juliana Vicente, que mergulha na história da atriz Ruth de Souza, uma das primeiras atrizes negras da dramaturgia e televisão no Brasil. O Catarinas lista oito filmes de cineastas brasileiras que destacam as vivências, dores e felicidades das mulheres.
🎧 Podcast
“A experiência com substâncias psicoativas é muito singular e pessoal. O discurso biomédico e jurídico engessaram muito o tema, atribuindo sensações, consumo e várias formas de uso a algo fixo”, afirma Tiago Coutinho, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que estuda o mundo das substâncias psicoativas a partir da perspectiva antropológica e sociológica. No “Diálogos com a Inteligência”, produção do Canal Meio, Coutinho aborda os efeitos e as questões filosóficas e culturais que envolvem o consumo de diferentes psicoativos no Brasil e no mundo, desde o MDMA e o THC até a ritalina e a quetamina. Para o pesquisador, substâncias que transitam pelo uso legalizado e controlado ao uso proibido, como a maconha, evidenciam a fluidez das percepções sociais sobre o tema.
✊🏾 Direitos humanos
A partir de programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em empresas, surgiram os grupos de afinidade que reúnem trabalhadores de grupos sub-representados para debater experiências, defender mudanças e criar laços de pertencimento. A Emerge Mag explica como funcionam essas iniciativas e seu papel em pleitear políticas e práticas institucionais de DEI, fortalecer o vínculo entre os trabalhadores, e entre eles e a empresa, e implementar treinamentos, eventos e campanhas de conscientização. “Os grupos de afinidade ajudam as pessoas a se sentirem seguras para se expressar de maneira genuína. A empresa se torna um espaço de maior criatividade e colaboração”, afirma Ana Cecília Simões, diretora de gestão de talentos e transformação cultural da Vivo.