O impacto do atentado contra Trump e o brincar nas favelas brasileiras
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🔸 “O chocante atentado contra Donald Trump deve ser determinante em uma disputa que antes seguia indeterminada”, escreve Natalia Viana, na newsletter “Xeque na Democracia”, da Agência Pública. A jornalista afirma que, para os brasileiros, o caso desperta um “angustiante sentimento de déjà-vu”, lembrando o episódio da facada de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, e detalha os últimos passos da campanha de Trump, que está “mais virulento” que antes. Apesar das comparações com as eleições brasileiras, o caso não indica que veremos “um repeteco idêntico ao que vimos com horror em 2018”. “Mas há que se reconhecer que tampouco Joe Biden tem a garra que Fernando Haddad demonstrou naquela eleição, fazendo uma campanha decente, apesar de ter sido escolhido na última hora para substituir o candidato que, àquela altura, estava na prisão”, pondera.
🔸 “O atentado consolida ainda mais a noção de que Trump é uma ‘vítima’, um ‘mártir’.” É o que afirma Rafael Ioris, professor de História e Política da Universidade de Denver, no Colorado. Em entrevista à CartaCapital, ele explica que “a narrativa corrente é de que o deep state, supostamente liderado pelos democratas, o considera uma ameaça tão grande que tentou até matá-lo – ainda que o autor dos tiros tivesse mais afinidade com os republicanos do que com os democratas”. Para a campanha democrata, com uma eventual desistência de Biden, o “caminho menos traumático” seria ter Kamala Harris como substituta. “E há uma coisa em que ela poderia dar um gás para doadores e para bater em Trump: uma mulher miscigenada batendo em um homem branco misógino. Mas bater em um cara que agora é visto como vítima é arriscado”, avalia.
🔸 Em Brasília, o caso da Abin paralela ganhou outro capítulo – em áudio. Ontem, o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo sobre a gravação feita pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) em uma reunião no Palácio do Planalto com Bolsonaro em agosto de 2020. O Congresso em Foco traz a íntegra do áudio e sua transcrição. A gravação revela que o ex-presidente se prontificou a dialogar com a chefia da Receita Federal na conversa sobre anular as investigações de “rachadinha” contra Flávio Bolsonaro.
🔸 Todo ano, os rios da Amazônia recebem 182 mil toneladas de plástico, o que torna a bacia hidrográfica a segunda mais poluída do mundo. Os resíduos não vêm apenas das cidades amazônicas, mas também de países como Colômbia e Peru. O Eco antecipa as informações de uma pesquisa da Universidade Federal do Pará (UFPA), cujo foco são os ninhos do japu, pássaro que habita boa parte das matas da América do Sul – mais de 66% dos ninhos contêm fibras emaranhadas e cordas plásticas.
🔸 Já os rios do Cerrado estão secando. A perda de superfície de água já atingiu 76% dos municípios do bioma. O Projeto Colabora conta que trechos de rios, como o Uruçuí Preto, no Piauí, e o Peixe, em Goiás, não são mais vistos por satélite. “A diminuição da vazão dos rios no Cerrado nos últimos anos, devido às altas taxas de desmatamento no bioma, pode impactar o abastecimento hídrico de cidades, a produção de energia elétrica e a agropecuária”, afirma a pesquisadora Rafaella Almeida Silvestrini, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
📮 Outras histórias
No Maranhão, a falta de água no rio Insono afeta comunidades vizinhas, como a Barriguda do Insono, em Pedreiras. A cachoeira se esvaiu, e as 150 famílias que vivem da pesca e das plantações precisam buscar recursos em outras áreas. O Pedreirense conversa com moradores como Jacinto Herculano da Silva, de 48 anos, cuja casa fica a poucos metros do rio. “Aqui atrás da minha casa, na hora que eu queria comer um peixe, pegava a tarrafa, ia bem aqui e era ligeiro demais, em questão de segundos estava em casa com um quilo, dois quilos de peixe. E agora, se você for lá, a gente passa a pé de um lado para o outro sem um pingo d’água”, conta Jacinto.
📌 Investigação
Em maio de 2023, 60 pastores e suas esposas foram mantidos em cárcere privado por oito horas e tiveram seus sigilos bancários quebrados pela Igreja Universal. A informação está numa denúncia que consta de um processo trabalhista ao qual o Intercept Brasil teve acesso. Feita por um ex-pastor da Universal, a denúncia aponta que a igreja suspeitava que os religiosos estariam desviando dinheiro de boletos de doações de fiéis para colegas de outros templos que não conseguiam atingir metas de arrecadação. Estas, por sua vez, variam em cada templo, de acordo com o tamanho e a localização. Os pastores que se destacam recebem recompensas. Um dos religiosos teria “fraudado” as metas da igreja com o objetivo de conseguir uma autorização para se casar.
🍂 Meio ambiente
“O modelo clássico econômico reproduz no Brasil profundo as relações econômicas de exploração que temos nos grandes centros urbanos mascarado por aquilo que hoje se classifica como bioeconomia, que olha para essas comunidades apenas como fonte de insumos e de mão de obra barata”, diz Anderson Sevilha, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e coordenador nacional do Programa Bem Diverso. Em entrevista à Eco Nordeste, Sevilha fala sobre a necessidade de valorização do trabalho de agroextrativistas de comunidades tradicionais para gerar renda e qualidade de vida no Cerrado, na Amazônia e na Caatinga, além de garantir a preservação ambiental e cultural dos saberes tradicionais.
📙 Cultura
“As questões ligadas à paternidade sempre foram objeto de meu interesse na literatura – os ruídos nessas relações, quero dizer – e pensar o meu papel de pai foi também pensar o meu papel de filho, e de neto”, afirma o escritor Carlos Eduardo Pereira, autor dos romances “Enquanto os Dentes” (2017) e “Agora Agora” (2022). “Desconfiava de que um sujeito mais ou menos como eu (mais ou menos com a minha cor e mais ou menos com a minha idade) não conseguiria reconstituir minimamente as memórias familiares para além de duas ou três gerações no passado. A gente sempre esbarra na tragédia da escravidão no Brasil”, completa. Ao Le Monde Diplmatique Brasil o escritor fala sobre suas obras, sua preocupação com a construção dos narradores e o atual cenário da produção literária brasileira, que, segundo ele, vive um grande momento.
🎧 Podcast
Apenas 1,7% das DJs em atividade são mulheres, segundo dados da Brazil Music Conference (BRMC). Apesar dessas artistas estarem conquistando cada vez mais espaço, ainda há uma predominância masculina no setor. O Manda Notícias conversa com as DJs Brazook e K4rinhoza para revisitar suas trajetórias na música a partir de suas relações com o território onde cresceram, na zona sul de São Paulo, e a ocupação de mulheres nas discotecagens em festas e bares, inclusive os estereótipos misóginos sobre a presença feminina nesses ambientes.
✊🏾 Direitos humanos
Embora o brincar e a recreação sejam direitos fundamentais para o desenvolvimento infantil, reconhecidos por convenções internacionais e pela legislação brasileira, crianças periféricas, sobretudo negras, sofrem com a escassez de espaços recreativos seguros, como detalha a Alma Preta. A pesquisa “O Brincar nas Favelas Brasileiras”, do Instituto Data Favela, de 2021, entrevistou 816 mães de crianças de 0 a 6 anos, das classes C e D, de diferentes capitais brasileiras. Entre as entrevistadas, 83% são negras e apenas 29% contam com um parquinho em sua comunidade. A falta de acesso a estruturas de lazer tem impacto direto na vida dessa população. “A gente compreende que crianças negras, historicamente também, lhes foi furtado o direito a esse brincar”, afirma o pedagogo Luciano Amorim, coordenador de Educação e Direitos Humanos da Secretaria Municipal de Educação de Maceió.