Os imigrantes à espera de refúgio no Brasil e o caso Samuel Klein
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🔸 Há mais de dois meses, um imigrante de Gana vive no Aeroporto de Guarulhos. Ele fugiu do país, na África Ocidental, para salvar a vida de sua companheira, vítima da perseguição a pessoas LGBTQIA+. Desde agosto, aguarda numa área restrita resposta ao pedido de visto. Dorme numa manta no chão, toma banho a cada três dias e come refeições fornecidas por companhias aéreas. A revista piauí mostra que este não é um caso isolado: o total de imigrantes retidos no aeroporto chegou a 550 e caiu para 127 no final de outubro. A área restrita onde ficam é delimitada por pedestais com fitas, como os que separam as filas de embarque. Esses suportes também fazem as vezes de varal, onde os imigrantes à espera de refúgio secam suas roupas. A situação reflete o endurecimento das normas no Brasil: em agosto passado, o governo implementou uma regra que dificulta o acesso ao pedido de refúgio para pessoas que entram no país em conexão de voo, ou seja, sem que o Brasil seja seu destino final.
🔸 A propósito: a temática migratória quase não apareceu nas eleições municipais. Das 26 capitais, apenas Campo Grande, Salvador e São Paulo incluíram propostas para a população migrante em seus planos de governo, informa o MigraMundo. O Projeto de Promoção dos Direitos de Migrantes (ProMigra), ligado à Faculdade de Direito da USP, analisou planos de 189 candidatos e identificou que só 23% deles mencionaram a questão migratória. Em capitais como Rio de Janeiro e Recife, a pauta foi ignorada. Segundo o IBGE, há migrantes em 69% dos municípios brasileiros – e apenas 5,5% desses oferecem serviços de apoio a essa população.
🔸 Segue o seco em Manaus. Embora tenha chuvas esporádicas, a capital do Amazonas ainda enfrenta os efeitos da seca. São visíveis bancos de areia em trechos do rio Amazonas. Entre as comunidades Terra Nova e Marimba, formou-se uma duna, com cinco quilômetros de extensão. Pescadores e ribeirinhos ouvidos pelo Amazonas Atual afirmam que é a primeira vez que o banco de areia aparece em extensão tão grande. O risco de naufrágio na área é grande, e canoas e pequenos barcos precisam contornar o local com cuidado para não encalhar.
🔸 Falando em Manaus… O prefeito David Almeida (Avante) renovou contrato milionário com o próprio padrinho de casamento. A empresa de limpeza pública Murb Manutenção e Serviços Ltda. pertence a José Curcino Monteiro Neto, e o valor do contrato renovado ultrapassa R$ 114 milhões. A revista Cenarium revela que, somados a aditivos contratuais, os repasses do município ao empresário somam mais de R$ 334 milhões em um período de quatro anos, entre 2022 e 2025. A empresa, aliás, já esteve no centro de escândalos como a compra de votos para o irmão do prefeito, o deputado Daniel Almeida, e o envolvimento dos proprietários no superfaturamento de merenda escolar.
📮 Outras histórias
“Quando você chega na Rocinha, tem uma imensidão de barracas e comércios, mas nunca têm algo saudável. A pessoa que está em processo de emagrecimento tem que manter uma rotina de alimentação, mas muitas vezes não dá porque chega do trabalho, está cansada e não encontra algo saudável para comer”, conta Marcelle Trajano, 23 anos, estudante de Serviço Social. A moradora da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, diz ainda que é difícil encontrar roupas de seu tamanho na favela. “Tem muita lojinha de roupa de academia e camelô, mas tudo tamanho único. Roupa de academia para mim, na comunidade, eu nunca encontrei.” O Fala Roça debate o tema da obesidade na favela e lembra que um estudo publicado na revista “Cadernos de Saúde Pública” tratou do padrão alimentar na Rocinha. Os dados apontaram para um consumo marcado por alimentos acessíveis, mas ricos em calorias, gorduras saturadas e açúcares.
📌 Investigação
Sem concurso público para professores desde 2012, Sergipe vive um êxodo de profissionais para estados vizinhos, como Alagoas e Pernambuco. Levantamento da Mangue Jornalismo, em parceria com a Liga Acadêmica de Dados da Universidade Federal de Sergipe (Ladata-UFS), revela que 30% dos professores da rede estadual sergipana têm contrato temporário. Ao todo, são 2.399 profissionais trabalhando nessa modalidade. “Não tem concurso, [então] não tem professor efetivo para atender à demanda mínima do estado. E os professores contratados ficam presos, ficam com medo de falar, porque não têm estabilidade no emprego”, diz o professor de Filosofia Rominique Rezende dos Santos que se mudou para Maceió (AL). O estado reflete uma tendência nacional de precarização, com redução dos quadros de funcionários permanentes na educação pública por meio do aumento de temporários.
🍂 Meio ambiente
Em vídeo: “É um luto silencioso, terrível, porque produz um trauma coletivo”, afirma o escritor, filósofo e liderança indígena Ailton Krenak, sobre os nove anos do rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), completados ontem. Em entrevista ao Projeto Preserva, ele fala sobre os impactos emocionais do desastre que despejou 60 bilhões de litros de rejeitos de minério de ferro no leito do rio Doce – ou Watu, como é chamado pelo povo Krenak, que o considera um avô. “Para aqueles que têm menos de 20 anos, metade da vida foi dentro de um trauma criado por uma corporação mineradora que se nega a admitir que fez um erro.”
📙 Cultura
Autor de imagens icônicas da repressão na ditadura brasileira, Evandro Teixeira também registrou o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende no Chile, em 1973, e deu início à ditadura do general Augusto Pinochet. Natural de Irajuba (BA), aprendeu fotografia ainda jovem em seu estado natal, com Teotônio Rocha, primo de Glauber Rocha. O Portal dos Jornalistas lembra que as fotos de Teixeira integram acervos de museus na Suíça e na Colômbia, além do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), em São Paulo, do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e do Museu de Arte do Rio (MAR). Seu currículo também está na Enciclopédia Suíça de Fotografia, que reúne os maiores fotógrafos do mundo. Internado na capital fluminense por uma pneumonia, o fotojornalista morreu nesta segunda-feira, aos 88 anos.
🎧 Podcast
Enquanto construía seu império nos anos 1990, o fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, também mantinha um esquema de aliciamento e exploração sexual de crianças e adolescentes, com dezenas de vítimas. “O Samu, pai, ele gostava de menininha. Menininha que eu falo, assim, pra baixo de 15”, conta uma vítima. O primeiro episódio de “Caso K – A História Oculta do Fundador da Casas Bahia”, produção da Agência Pública, resgata o passado e a trajetória do empresário e reúne relatos de vítimas e testemunhas que foram ouvidos no processo de investigação sobre a rede de abusos que se desenrolava na própria sede da loja de varejos em São Caetano do Sul (SP) e no apartamento de Klein em Santos.
🧑🏽⚕️ Saúde
Nas capitais do Centro-Oeste, sete entre dez bebês registraram a vacinação completa no primeiro ano de vida. Aos dois anos, o número cai para cinco. Nenhuma das capitais da região atingiu a meta indicada pelo Programa Nacional de Imunizações. Os dados integram artigo publicado na “Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde” por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e das universidades federais de Mato Grosso (UFMT), Goiás (UFG) e Mato Grosso do Sul (UFMS). A Agência Bori destaca que a menor cobertura vacinal foi entre famílias de alta renda, o que revela a importância de políticas públicas e campanhas voltadas para diferentes classes sociais. Para a professora da Faculdade de Enfermagem da UFMT, Jaqueline Costa Lima, os mais ricos deixam de vacinar seus filhos por hesitação ou por recomendação equivocadas de profissionais de saúde.