A Igreja Universal em campanha para 2026 e a onda das canetas emagrecedoras
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🔸 A Igreja Universal já mobiliza sua base para as eleições de 2026. A maior igreja neopentecostal do país, que diz ter mais de 7 milhões de fiéis, vem usando as estruturas religiosa e financeira para apoiar candidatos ligados ao Republicanos. O Intercept Brasil obteve acesso a documentos que mostram desde a coleta de dados de títulos de eleitores, metas de engajamento em programas e entrevistas políticas até grupos de WhatsApp em esquema de pirâmide e visitas domiciliares disfarçadas de oração, nas quais são apresentados os nomes dos candidatos. O processo é coordenado pelo Arimateia, grupo de formação política da Universal liderado pelo bispo Alessandro Paschoal, que mistura discurso religioso e político em tom de “guerra espiritual”. Ele também trabalha como chefe de gabinete do deputado estadual por São Paulo Gilmaci Santos, do Republicanos, também pastor da Universal. No esquema da igreja, os pastores são cobrados a atingir metas de mobilização de pessoas para acompanhar programas de entrevista de líderes com discursos e mensagens políticas. Nos templos maiores, a meta é mobilizar 700 fiéis. Nos menores, 300.
🔸 O governo dos Estados Unidos vai anunciar uma resposta à condenação de Jair Bolsonaro (PL). A promessa foi feita por Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, em entrevista à Fox News. “Teremos alguns anúncios na próxima semana ou algo assim sobre as medidas adicionais que pretendemos tomar”, disse. Segundo a CartaCapital, Rubio também acusou Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de tentar aplicar “ações extraterritoriais contra cidadãos americanos” em referência a decisões do magistrado que afetaram big techs sediadas nos EUA.
🔸 O Pará, estado-sede da COP30, vive uma escalada de violência contra defensores ambientais. Eles foram alvo de 68 ameaças de morte, oito tentativas de assassinato e três assassinatos apenas em 2024, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O caso de Miriam Tembé, presidente da Associação Indígena Tembé do Vale do Acará, ilustra o problema: incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, ela denunciou ameaças de morte em junho, mas não obteve escolta. A Polícia Militar alega que só pode atuar de forma subsidiária à Polícia Federal, posição contestada por juristas. A InfoAmazonia detalha o cenário enfrentado por defensores do meio ambiente. Além dos conflitos por terra, a violência é alimentada por ódio e preconceito contra os povos originários. Entre 2020 e 2024, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) registrou 35 assassinatos de indígenas no Pará, além de 41 ataques envolvendo racismo étnico, ameaças de morte e abuso de poder. “Eles invadem, desmatam e exploram em nome de um desenvolvimento que não chega às comunidades. A gente vive acuado, com medo. Qualquer denúncia vira alvo de ameaça”, afirma um defensor que pediu anonimato à reportagem.
🔸 No Congresso, oito propostas que alteram regras ambientais e indígenas avançaram na última semana. Entre elas, estão iniciativas que permitem a mineração em territórios indígenas, mudam o rito de reconhecimento das terras e anistiam desmatamentos antigos. O Notícia Preta informa que, no Senado, a Comissão de Direitos Humanos aprovou um projeto relatado por Damares Alves (Republicanos-DF) que autoriza a concessão de lavras garimpeiras em terras indígenas, com exigência de consentimento das comunidades e repasse de 2% a 4% dos lucros. Já na Câmara, a Comissão de Agricultura aprovou mudanças que transferem ao Legislativo a decisão final sobre demarcações, incorporam o marco temporal, criam indenizações a proprietários e impedem a ampliação de terras já homologadas.
📮 Outras histórias
No último 7 de setembro, cerca de 50 famílias em Maceió ocuparam um antigo prédio do INSS. Batizaram-no de Ocupação Manoel Lisboa, numa ação organizada pelo Movimento Luta nos Bairros, Vilas e Favelas. “Em Maceió esse gesto ganha um simbolismo ainda maior, pois a cidade vive a maior crise habitacional de sua história recente em consequência direta do crime socioambiental provocado pela Braskem”, escreve Alexandre Fleming, professor do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Em artigo na Mídia Caeté, ele explica que, embora nem todos os ocupantes sejam vítimas diretas da Braskem, a ocupação simboliza o drama coletivo. “Desde 2018, mais de 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas em cinco bairros inteiros da capital alagoana. A instabilidade do solo causada pela exploração desenfreada de sal-gema destruiu vidas, histórias e vínculos comunitários. Para muitos, o trauma da remoção forçada ainda está longe de cicatrizar”, afirma.
📌 Investigação
O terreiro Língua de Vaca, da tradição Ijexá, em Salvador (BA), foi desapropriado em 1947 para receber o Departamento de Polícia Técnica, onde está o Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues. A Alma Preta mostra que o médico que dá nome à unidade seguia uma linha científica racista e defendia a tese de que pessoas negras eram mais propensas ao crime do que as brancas. Seu estudo apresentado no livro “As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal” constrói uma hierarquia dos grupos raciais, colocando os brancos como superiores e os negros como inferiores. Para Nina Rodrigues, os brancos seriam a “raça pura”, com as qualidades da inteligência, da moralidade e da civilidade. Os negros, por outro lado, seriam como crianças, instáveis, violentos e com “intensas perversões sexuais”, e assim, teriam uma personalidade voltada para o crime.
🍂 Meio ambiente
Dez trabalhadores sem-terra foram presos em duas operações de reintegração de posse em Acrelândia (AC). Os policiais, que levavam fuzis e vestiam fardas camufladas, tinham como alvo um suposto grupo ligado à Liga dos Camponeses Pobre, organização de trabalhadores sem-terra. Segundo O Varadouro, as forças de segurança encontraram apenas 70 famílias que ocuparam uma área pública para pressionar o Incra a promover um assentamento no município. “Nós não queríamos nada além de um lote para plantar para comer, para sobrevivência”, afirma uma mulher que participou da ocupação da área, localizada dentro do Projeto Agroextrativista Porto Dias. Apesar de se tratar de famílias agricultoras, dez dos ocupantes foram levados e foram liberados mediante acordo judicial, que prevê o pagamento de multa no valor de três salários mínimos. “Estão trabalhando apenas para pagar a multa”, relata uma ocupante. “Nós só queremos um pedaço de terra para cultivar, não temos intenção em montar fazenda, é só para ter onde morar e o que comer.”
📙 Cultura
O filme “O Agente Secreto” foi escolhido para representar o Brasil no Oscar 2026, na categoria de Melhor Filme Internacional, vencida por “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, no início deste ano. A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais anunciou ontem a decisão. A lista final dos selecionados pela Academia de Hollywood para concorrer à estatueta será divulgada em 22 de janeiro de 2026. Dirigido por Kleber Mendonça Filho – diretor de “Bacurau” e “Aquarius” – e estrelado por Wagner Moura, o longa retrata a história de um jovem recrutado pela ditadura no Brasil para ser informante e espião. O Tangerina conta que a produção já venceu prêmios internacionais importantes, como o 78º Festival de Cannes e o Prêmio da Crítica. A previsão é de que o longa chegue aos cinemas do país em novembro.
🎧 Podcast
Com a popularidade das canetas emagrecedoras, como Ozempic, Wegovy, Mounjaro, abre-se um risco de saúde pública e de ética nas propagandas. Embora sejam eficazes para casos de obesidade e diabetes, os medicamentos não podem ser usados como solução para perda de peso com objetivo estético. O “Ciência Suja”, produção da NAV Reportagens, conversa com a endocrinologista Maria Edna de Melo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, e o advogado Matheus Falcão, do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP, sobre os efeitos colaterais das substâncias, a influência da indústria farmacêutica e os riscos da desinformação somada ao contrabando dos medicamentos.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“O genocídio não está só na morte pela bala da polícia, do Estado, mas na negação à saúde, à alimentação. E há um fenômeno mais recente, um fato que tem se agravado: o suicídio, em especial, de homens negros jovens, muitos já chegando na fase da universidade. O suicídio é mais um produto do projeto de genocídio”, afirma Regina Lúcia, geógrafa especialista em educação para as relação étnico-raciais e militante do Movimento Negro Unificado (MNU) há décadas. O Desenrola e Não Me Enrola revisita a trajetória da organização, fundada em 1978 como resposta às violências raciais intensificadas pela ditadura militar no Brasil, e sua atuação no presente. De uma geração mais nova, Brenna Vilanova, militante do MNU e estudante de Ciências Sociais, aponta que é um desafio engajar pessoas jovens na luta. “Temos dificuldade de trazer esses meninos negros que estão expostos à precarização do trabalho para organização. Falta de tempo. Ao mesmo tempo em que conseguimos colocar jovens negros dentro da academia, ainda falta alcançar muita gente que está nas quebradas: as mães negras, aquelas trabalhadoras que seguram tudo sozinhas.”