A IA nas eleições e a violência contra advogadas
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🔸Investigado por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro (PL) negou a trama golpista e chamou de “pobres coitados” os que participaram dos ataques aos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. O ex-presidente convocou uma manifestação ontem, na avenida Paulista, em São Paulo, para se defender das acusações das quais é alvo nos últimos meses. O Congresso em Foco reúne as falas de Bolsonaro no ato e as investigações das quais ele é alvo.
🔸 A propósito: empresários e políticos – de aspirantes a cargos eleitorais até senadores e deputados – financiaram anúncios nas redes sociais para promover o ato bolsonarista de ontem e organizar caravanas até São Paulo. O financiamento destes anúncios variou entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil, revela a Agência Pública. Entre os envolvidos está Gabriel Felipe, ligado ao governador Tarcísio de Freitas, que promoveu uma caravana de Cubatão à Avenida Paulista. Mas não só aliados de São Paulo tentaram alavancar o ato bolsonarista: deputados e senadores inclusive de regiões muito distantes de São Paulo gastaram com propaganda para o ato e confirmaram presença.
🔸 “O que torna a inteligência artificial (IA) diferente é a escala e a velocidade. Com big data, aumenta a velocidade com que uma pessoa pode ser manipulada usando perfis, e a automação de muitas tarefas se aprofunda.” Autor de “Ética na Inteligência Artificial”, Mark Coeckelbergh acredita se tratar de ilusão a ideia de que “só alguns políticos ruins vão usar IA”. Em entrevista ao Le Monde Diplomatique Brasil, ele afirma que “a inteligência artificial será usada por todos os campos”. “Alguns desses usos podem ser muito problemáticos, de uma perspectiva ética e política”, diz ele, num alerta para o período das eleições municipais, em outubro deste ano.
🔸 Em tempo: a comissão para tratar de IA no Senado quer aprovar até abril o projeto sobre o tema. O Aos Fatos explica que a proposta, de autoria de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), cria um marco legal para a inteligência artificial no Brasil e prevê a regulação baseada em riscos – de alto a excessivo. Mas, mesmo se aprovado neste ano, o texto não seria válido para as eleições de outubro. Poderia, por outro lado, servir como parâmetro para resoluções do Tribunal Superior Eleitoral sobre o assunto.
🔸 Em áudio: com a posse de Flávio Dino, o Supremo Tribunal Federal entra em nova fase – uma estabilidade só vista entre 1951 e 1956. A avaliação é de Felipe Recondo, no podcast “Sem Precedentes”, do Jota. O programa lembra que, caso nenhuma intercorrência ocorra, uma nova vaga só seja aberta na Corte em 2028, com a aposentadoria do ministro Luiz Fux. Recondo lembra ainda que Dino assume a relatoria dos casos que estavam com Rosa Weber. São ao todo 343 processos.
📮 Outras histórias
Brega e piseiro misturados com rap. Brenu e Mago de Tarso são MC’s de Pernambuco que encontraram uma estética de rap própria, mesclando o gênero com outras culturas de Pernambuco. A Marco Zero narra a trajetória dos artistas. Breno Campos, o Brenu, de 22 anos, trocou o curso de Ciências Contábeis e o emprego de jovem aprendiz em uma obra para investir na carreira de rapper. Já Ian Siqueira, o Mago de Tarso, de 25 anos, é estudante de Geologia. Sempre colocou o local de origem nas composições, mas passou a adicionar a revolta como elemento das músicas no ano passado. “Eu não só exalto a cultura do Recife e de Pernambuco no geral, mas também tento tirar um sarro com o pessoal do Sudeste. Um lance meio de revolta mesmo, porque a gente sempre foi muito ‘tirado’, muito motivo de chacota”, afirma.
📌 Investigação
“Advogadazinha de merda”, “conheço sua família e sei onde você mora” e “vai sobrar para você” – tudo isso foi o que a advogada Amanda Rodrigues ouviu de um homem que havia agredido sua cliente durante um processo judicial. Trata-se de “lawfare de gênero”, palavra em inglês traduzida por “guerra jurídica”. O termo surgiu para nomear violências sofridas por advogadas durante o exercício da profissão. Cerca de 80% das profissionais já se sentiram ameaçadas em razão do seu gênero ou de suas clientes, segundo estudo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A revista AzMina ressalta que pode existir subnotificação dos casos, uma vez que nem sempre as denúncias se dão por canais oficiais. As advogadas entrevistadas pela pesquisa acreditam que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não prioriza o tema, além de um vazio de estatísticas nacionais.
🍂 Meio ambiente
Apesar do lobby do agronegócio, o Ibama decidiu manter a proibição do uso de aviões agrícolas e tratores para a aplicação do tiametoxam, agrotóxico à base de nicotina e letal às abelhas. Em 2018, a União Europeia proibiu sua utilização com o objetivo de proteger os insetos polinizadores, essenciais à reprodução de diversas espécies de plantas. A Repórter Brasil explica que o Ibama estava em processo de revisar a restrição e foi alvo de lobby da fabricante brasileira Ourofino e da multinacional de origem suíça Syngenta. Um ex-servidor do Ministério da Agricultura e da Pecuária chegou a ser contratado para ajudar nas negociações, além de uma campanha online para defender o pesticida.
📙 Cultura
“A visibilidade tem aumentado pouco a pouco, mas para a maior parte da população do Brasil, escritoras do Norte não fazem parte de seu horizonte de leituras ou mesmo conhecimento.” A escritora indígena da etnia Macuxi, Sony Ferseck, foi semifinalista na categoria poesia do Prêmio Jabuti, em 2023, com o livro “Weiyamî: Mulheres que Fazem Sol”. “Muitas das vezes somos ignorados pelo cenário da literatura local. Isso porque embora escrevamos na região Norte, não escrevemos de maneira alheia aos problemas sociais”, completa. O Nonada reúne as experiências de diversos escritores nortistas em busca de espaço na cena literária.
🎧 Podcast
“A questão das cidades, do território passa muito despercebida, e de um jeito negligenciado. Não adianta pensar o racismo e não entender que ele também passa pelo território. Eu como mulher negra não tenho a liberdade de transitar por todos os espaços”, afirma a arquiteta e escritora Joice Berth, no “451 MHz”, produção do Quatro Cinco Um. Ao lado da editora da seção “As Cidades e as Coisas”, Bianca Tavolari, Berth fala sobre os espaços das metrópoles como territórios em disputa por ideologias, movimentos e corpos.
🧑🏽🏫 Educação
Escolas conveniadas em Porto Alegre (RS) já são o dobro da rede municipal – 215 contra 99, respectivamente. Essas são organizações da sociedade civil nas quais a prefeitura compra vagas para matricular alunos que não conseguiram ingresso nas instituições públicas. O Sul21 mostra, porém, que as unidades vivem sem estrutura e remuneração adequadas. Segundo o Sindicato dos Professores (Sinpro/RS), a hora-aula na Educação Infantil fica em torno de R$ 13 na capital gaúcha, enquanto nessas instituições os profissionais recebem cerca de R$ 9. O número de alunos por turma também tem sido ultrapassado, e estudantes com deficiência enfrentam dificuldades de acessibilidade.